Quando deixa de ser divertido, vira um estorvo. Em diferentes graus e proferida por muitos artistas, a máxima costuma permear diversos fins de carreira e de bandas, quando não ensejar mudanças profundas. O recente anúncio do Sepultura de encerramento da trajetória que completará 40 anos parece er uma tentativa de antecipar algo que se desenhava.
A ideia do fim partiu do guitarrista Andreas Kisser, o líder e o responsável por empurrar o Sepultura à frente. Uma pandemia de covid-19 e a morte da mulher, Patrícia, aceleraram um processo de análise e avaliação que desembocaram em algo que ficaria evidente em breve: diversos fatores cotidianos que se avolumariam a ponto d tirar o prazer o toar e de subir aos palcos.
São recorrentes os casos de bandas que acabam porque a diversão sumiu. Geralmente muitos outros fatores influenciam, mas quando o prazer desaparece, o desmoronamento é fatal. O que era tolerado se transforma em terremoto e explosão.
Foi dessa forma que o guitarrista Robbie Robertson descreveu a implosão de The Band após o sucsso ao lado de Bob Dylan e dos discos próprios; foi assim também que ocorrem com os Eagles, nas palavras do cantor Don Henley; e foi assim que André Marechal, o Catalau, explicou a sua saída do Golpe de Estado - claro que tudo isso agravado por outros fatores
De alguma forma, Kisser percebeu que as coisas não eram como antes e que estavam mais difíceis. Pior: que as coisas ficariam mais difíceis, por ais que ele insista em que o Sepultura esteja no auge..
Em algum momento, o guitarrista percebeu que não estava mais tão divertido, e que a tendência era de que tudo ficasse ainda menos divertido e de forma muito mais rápida. O semblante de alívio de Kisser na entrevista coletiva do anúncio do fim era um forte indicativo disso.
Havia um clima de tristeza óbvio, mas também de serenidade por conta de uma decisão que demorou muito para ser amadurecida - uma decisão que era inevitável, a jugar pela forma como os outros mebros da banda encararam a questão.
Prevendo eventuais desgastes e as dificuldades inerentes à trajetória de um "dinossauro" de 40 anos, Kisser sugeriu o fim os primeiros sinais de decadência não corroessem uma história maravilhosa e uma aizade sólida entre os quatro músicos da forma atual, que está junta há quase 15 anos.
Em nenhum momento os integrantes comentaram sobre estar ou não divertido fazer parte da banda e tocar onde quer que seja. Ainda há muito respeito e um pouco de diversão, do contrário não anunciariam uma turnê de 18 meses antes do fim definitivo.
Entretanto, em algum momento a luz amarela acendeu e os sentimentos mudaram. A diversão corria o rico de acabar e subir ao palco, em breve, se tornaria um estorvo - exatamente como o que ocorreu no segundo semestre de 1996, quando as tensões internas levaram à saída de Max Cavalera e de Gloria, sua mulher e então empresária do Sepultura.
Pode parecer pequeno e mesquinho falar em "perda de prazer" ou dificuldades diversas quando se trata de uma instituição da música mundial, mas a verdade é que se tratou de uma decisão muito corajosa.
Nunca é possível perceber os primeiro sinais de decadência, que geralmente são negados pelos artistas e por suas fãs. O conforto e o comodismo muitas vezes explicam a falta de autocrítica em alguns artistas, que mergulham na lama da autoindulgência e dos lucros fáceis.
Há uma engrenagem robusta pesada por trás de tais instituições, o que dificulta ainda mais a tomada de tal decisão. Como criticar a banda por ser "egoísta" quando é o egoísmo que insiste em negar os fato?
Além de coragem, é necessário perspicácia e despojamento para detectar os cenários possíveis e as reais chances de decadência e aproximando e do consequente fim da diversão.
Depois de tudo o que a banda passou, principalmente nos momentos de baixa, tudo o que não poderia ocorrer era o Sepultura se tornar um estorvo para os músicos, pra os colaboradores e para os fãs. É preciso coragem para enfrentar o estorvo e a chance de virar um estorvo. O Sepultura aceretou de novo e está de parabéns.
Nenhum comentário:
Postar um comentário