quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Causa palestina se torna a chance de redenção pública de Eric Clapton

 
 Eric Clapton amenizou a sua imagem de conservador e negacionista antivacinação ao abraçar a causa palestina neste final de ano. Um pouco tarde, diria o amigo Roger Waters (ex-baixista do Pink Floyd) a maior celebridade do entretenimento a apoiar os palestinos e criticar a opressão/repressão exercida pelo estado terrorista de Israel.

Waters e Clapton, nomes do primeiro time do rock inglês e mundial, são amigos, apesar das visões de mundo completamente diferentes - Waters é de esquerda e progressista; Clapton é conservador, xenófobo, antivacina e já proferiu no palco discursos de teor racista. Tocaram juntos várias vezes, como em 1984, em uma turnê mundial de Roger Waters.

De forma surpreendente, Clapton assumiu publicamente seu apoio à causa palestina ao protestar contra a matança indiscriminada promovida por Israel na Faixa de Gaza, sobretudo de crianças. Lançou um clipe instrumental om imagens da violência contra as crianças - "Voice of a Child" - e tocou em um concerto beneficente.

Neste show, a guitarra tinha pintada a bandeira da Palestina e, ao final, anunciou que toda a renda da apresentação será destinada a instituições que atuam pata acudir as vítimas palestinas da guerra. 

E uma declaração recente sobre a guerra no Oriente Médio, um ponderado Clapton afirmou que ações terroristas do Hamas, grupo considerado terrorista que domina Gaza, eram condenáveis, mas que não justificavam uma reação desproporciona que mata sobretudo civis e crianças indefesas.

É claro que essa "ação do bem" não o redime dos pecados que muitos consideram crimes de condenação perpétua. É o caso das investidas contra a vacinação obrigatória contra a covid-19 e às medidas necessárias de isolamento social. 

Ele se juntou a outro negacionista, o irlandês Van Morrison, para compor três músicas bem fracas para protestar contra o governo britânico e suas ações de contenção ao virus mortal. Pegou muito mal, mas ele ainda se mantém contra a obrigatoriedade de vacinação, mesmo em casos de emergência sanitária (esclareceu que não é contra a vacina, em si) e medidas de restrição e distanciamento social.

Mais grave foram as declarações racistas feitas durante um show na Inglaterra, em 1976, em que bradava contra a onda de imigração de pessoas oriundas de países que eram ou fizeram parte da Comunidade Britânica de Nações - principalmente indianos, paquistaneses e negros africanos e caribenhos.

Era só o desfecho de uma saraivada de bobagens de cunho fascista, que envolveram até palavras de apoio, dias antes, ao ex-ministro conservador Enoch Powell, que sustentava um discurso profundamente anti-imigrante. 

Vários jornai publicaram á época que Clapton teria dito que o Reino Unido estava “superpovoado” e que os britânicos deveriam votar em Powell para que o país não se transformasse em uma “colônia negra”. Mais ainda: que a solução seria “se livrar dos estrangeiros, dos pretos e dos crioulos” e em seguida começado a entoar repetidamente o slogan da Frente Nacional Britânica (National Front): “Mantenha a Grã-Bretanha branca.”

Clapton demorou a se desculpar. Quando o fez, alegando estar bêbado quando fez as declarações no palco, o estrago já era imenso. Dentro do nascente movimento punk, surgiu a campanha "Rock Against Racism" motivada pelas falas do guitarrista.

O fotógrafo, ativista e artista de teatro alternativo Red Saunders, um ativista progressista e antifascista, escreveu uma carta enviada a vários jornais indignado com as declarações de Clapton e fomentou a criação de um movimento contra o ultraconservadorismo.

Ele considerou os comentários do guitarrista eram “repugnantes”, especialmente considerando que parte de seu sucesso se devia ao cover que Clapton tinha feito de “I Shot The Sheriff”, música de Bob Marley. 
Na carta, Sanders convidava os leitores da NME a ajudarem a formar o movimento Rock Against Racism, e seu chamado recebeu centenas de respostas.

Nos anos de 76 e 77, o movimento se manteve ativo e em crescimento com pequenos shows independentes ao redor do país, contando com nomes como Carol Grimes e Matumbi, e lançando sua fanzine Temporary Hoarding. 

A primeira grande manifestação do Rock Against Racism aconteceu em 1978, quando punks e ativistas se juntaram na Trafalgar Square, em Londres, e somaram mais de 80 mil pessoas. 

Na ocasião, várias bandas se apresentaram em um show ao ar livre no Victoria Park, como Steel Pulse, Tom Robinson Band e X-Ray Spex, com o The Clash fechando o show.
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O passado não será esquecido, e ainda hoje o guitarrista é espezinhado por suas polêmicas declarações, e os boicotes só aumentaram após a pandemia de covid-19 por conta de seu negacionismo sanitário.

Com shows marcados para Brasil em setembro de 2024 - são pelo menos três datas -, o guitarrista inglês está sofrendo desde já uma espécie de campanha informal de boicote por conta de personalidades e celebridades, o que deve ficar mais intenso na medida em que vinda dele se aproximar.

São muitas as razões para justificar o boicote, assim como há boas razões para que seus pecados sejam relevados, ao menos durante o show - é um dos maiores artistas populares do século XX e do rock. 

Ao se alinhar à causa palestina e destinar dinheiro para entidades que atuam para amenizar o sofrimento de vítimas de guerra, Eric Clapton busca algum tipo de redenção. 

Não vai conseguir a paz de espirito que deseja e nem limpar a sua barra com milhões de fãs decepcionados, mas pelo menos procura demonstrar um viés humanitário e de humanidade diante de um flagelo gigantesco como o genocídio do povo palestino.



https://www.youtube.com/watch?v=DCU_Eye7fto

 

 

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