Toda superanda tem data de validade. A sentença foi proferida com a tranquilidade de quem passou por pelo menos três delas. Paul Rodgers, cantor inglês respeitadíssimo e que frequenta lists de melhores de todos os tempos, sabe do que fala: trabalhou com gente como Mick Ralphs, Paul Kossof, Jimmy Page e Brian May...
Mesmo sabendo dos riscos, o cantor elogiado por gente como Rod Stewart, Glenn Hughes, Pete Towshend e Freddie Mercury decidiu encarar um projeto instigante nos inflamados anos 70: Bad Company, uma ideia que perseguia Rodgers desde que o Free naufragou em 1972.
Ele tentou reformar o Free, mas as propostas de Peter Grant, o empresário do Led Zeppelin, o seduziam para encarar novos desafios. E o cantor de voz aveludada encharcada de blues e soul decidiu encarar o maior desafio de sua vida,
Os quatro músicos que viriam a formar o Bad Compnny já eram astro de primeira grandeza, mas não gigantes, o que reforçou a tese de que as coisas não seriam fáceis, seja pela rapidez com que o mercado mudava, seja pela feroz concorrências de uma banda melhor do que a outra.
Quando o primeiro álbum do Bad Company chegou às lojas, em 1974, depois de quase um ano e meio de preparação, que estava voando na Inglaterra era uma banda novata nem tão novata assim: o Queen dava as carta e arrebatava os corações de quem ansiava por novidades pesadas no hard rock, desbancando "veteranos" coo Slade e Uriah Heep.
Se o Bad Company tinha a vantagem na largada por ter um time competente e talentoso, mas sobretudo experiente, por outro lado teria de começar do zero. teriam de batalhar duro - isso não era um problema para Rodgers -, mas havia também um mundo de incertezas. Conseguiria os músicos atrair os fãs de suas ex-bandas - Free, Mott the Hoople e King Crimson?
Plano B em ação
Quando o Free mostrou-se inviável definitivamente, Paul Rodgers, o vocalista icônico de voz bluesy que criara o quarteto em 1967, aos 17 anos, já estava em contato com o ótimo guitarrista Mick Ralphs, do Mott the Hoople. Já enxergava lá na frente que tinha de fazer algo mais moderno, mais pesado e mais pop.
"Nunca tive ilusões de que o Bad Company teria vida longa. Todos tinham ideias diferentes e muitas ambições pessoais. Até que durou bastante", disse Rodgers a esse jornalista em 2008, antes mesmo da criação do Combate Rock, Ele estava no Brasil para cantar com o Queen.
Das cinzas do Free e do Mott the Hoople surgiu o Bad Company em Londres, em 1973, uma ideia de Rodgers e o guitarrista Mick Ralphs. Completaram o time o baterista Simon Kirke, companheiro de Rodgers no Free, e o baixista e vocalista Boz Burrell, ex-King Crimson.
Peter Grant, empresário do Led Zeppelin, o fomentador da ideia inicial, administrou o Bad Company até 1982. A banda obteve grande sucesso ao longo da década de 1970, e seus três primeiros álbuns, "Bad Company" (1974), "Straight Shooter (1975)" e "Run with the Pack (1976)", estão entre osmais vendidos da década de 1970.
Alcançou o top cinco nas paradas de álbuns do Reino Unido e dos Estados Unidos. Muitas de suas faixas, como "Bad Company", "Can't Get Enough", "Good Lovin' Gone Bad", "Feel Like Makin' Love", "Ready for Love", "Shooting Star" e "Rock 'n' Roll Fantasy" são consideradas clássicos do rock de arena e do AOR (álbum orientado para o rock), com presença garantida em emissoras de rádio dedicadas ao rock clássico.
"Bad Company", a música, é uma das canções mais pesadas já gravadas nos anos 70, misturando de forma soberba hard rock e blues sobre riffs inteligente e uma letra bem sacada.
Estreia notável
O primeiro álbum é considerada a estreia mais impactante do rock inglês nos anos 70, superando Queen e Nazareth, de acordo com a crítica musical londrina.
O cartão de visitas era poderoso, a faixa-título, mas foi o blues em tom de balada "Ready for Love" que chamou mais a atenção, conquistando um bom lugar nas paradas, assim como a alada folk "Seagull", uma das mais belas já feitas no rock inglês.
E ainda tinha rocks certeiros e refinados como "rock Steady" e "Movin' On", está uma insinuante e cadenciada canção bluesy com letra inspirada e sexy. "Ninguém falava de amor tão bem quanto Rodgers e o Bad Company", declarou certa vez um insuspeito Rod Stewart, fã da banda.
As letras românticas realmente tinham o certo refinamento e um pouco de poesia, inspirando o contemporâneo David Coverdale, ex-Deep Purple, a trocar o blues pelo hard rock meloso e cheio "my love" e "babies" a cada dois versos no Whitesnake. Coverdale jamais pasosu perto da sutileza poética de Rodgers.
O Bad Company substituiu os Faces, que acabou em 1975, no grupo de bandas que mais vendiam ingressos, ao lado de Rolling Stones, The Who, Queen e Led Zeppelin.
Ralphs e Rodgers eram os líderes, mas divergiam quanto ao caminho que a banda deveria tomar. Ralphs visava a as paradas de sucesso, e Rodgers buscava uma excelência musical que reunisse todas as suas influências musicais, algo que foi tentado no disco "Desolation Angels", de 1979.
Mesmo com data de validade, o Bad Company durou dez anos, até que finalmente Paul Rodgers anunciasse a sua saída em 1983 para gravar o primeiro álbum solo, o subestimado "Cut Loose".
No ano seguinte, embarcaria na aventura The Firm, outro supergrupo ao lado de Jimmy Page (guitarra), Chris Slade (bateria, depois AC/DC) e Tony Franklin (baixo). Foram dois anos e dois álbuns, at que todos partissem para outros caminhos. "Esse foi outro projeto com data da validade", comentaria Rodgers mais tarde.
Depois de um frustrado trabalho com o baterista Kenney Jones (ex-The small Faces, The Faces e The Who) chamado The Law, Rodgers voltou para a carreira solo e aceitou o convite para cantar com o Queen, nos anos 2000, naquilo que ficou conhecido como Queen + Paul Rodgers.
Mick Ralphs e Simon Kirke levaram adiante o Bad Company com o ótimo cantor Brian Howe, com a participação ocasional de Boz Burrell. Alguns os álbuns dessa fase foram os mais vendidos da carreira da banda, mas a pressão do mercado pela volta de Rodgers atrapalhou o restante da trajetória.
O cantor voltou para algumas turnês comemorativas ao longo do últimos 25 anos, mas nunca mais gravou um álbum de inéditas. Foram apenas quatro músicas novas incluídas em uma caixa com material de toda a carreira da banda. Burrell morreu 2006, ao 60 anos de idade.
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