quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Mulheres continuam incomodando no rock: isso é bom, ms as trevas predominam

 "Mas elas são bonitas?" Até hoje a pergunta acompanha qualquer comentário quando o assumo é uma nova banda uma artista mulher que se destaca ou que aparece meio subitamente. 

Runaways, Girlschool, Doro Pesch, Heart, Janis Joplin, Grace Slick (Jefferson Airplane), Annie Haslam (Renaissance), Cyndi Lauper, Lana Lane, Doro Pesch, Maggie Bell (Stone th Crows), Kate Bush, Sandy Denny, Amy Lee (Evanesccence), Lzzy Hale (Halestorm), Rita Lee, Ajna, Crypta, Nervosa, Isa Nielsen, Malvada... A lita é imensa.

As queixas são imensas, mas as coisas pouco mudaram neste quesito. As bandas com vocalistas ótimas, mas que também são bonitas e sexies, ainda são protagonistas, e não necessariamente pelo talento artístico. 

Recentemente instalou-se uma polêmica a respeito da beleza de Floor Jansen, holandesa que conta com o Nightwish, a respeito de sua proeminência em relação à antiga cantora da banda, a finlandesa Tarja Turunen. 

Não deveríamos estar discutindo as qualidades vocais e instrumentais das mulheres? Aliás, não deveríamos estar discutindo se a música é boa, independentemente de quem a toca?

Ainda vamos ter de conviver com esse tipo de preconceito/machismo? As integrantes da banda de hard rock paulista Malvada passam por isso desde que montaram a banda, em 2020. Ou elas se destacam por serem muito bonitas e "gostosas" ou então precisam fazer o dobro ou o triplo para serem notadas pela qualidade de sues trabalhos, 

Bruna Tsuruda, a guitarrista, tem de ser uma mistura de Yngwie Malmsteen e Ritchie Blackmore todas as noites para ganhar algum tpo de aprovação de moleque invejoso ou tiozão "classic rock" incapaz de admitir que ela toca muito ou que uma mulher possa tocar muito, e muito mais do que o amigo empacado em uma banda cover qualquer que toca m troca de cerveja.

Foi o caso da banda Nervosa, ainda como um trio e com a vocalista e baixista Fernanda Lira, em um minifestival ocorrido em 2017 em São Bernardo do Campo (ABC Paulista). O trio fechou a noite, tocando depois de quatro bandas de metal conhecidas da região. 

Ainda nem tão conhecidas como hoje, as garotas fizeram um show ótimo, mas tiveram de aturar toda a sorte de insultos machistas e misóginos de um público de metaleiros mais velho, com idade acima de 45 anos, que se divertiam ao vomitar sexismo sobre os atributos físicos das moças e desdenhar da performance delas. Entre os ogros estavam integrantes de pelos duas das bandas que tinham tocado antes, caras com mais de 50 anos de idade, um deles avô.

"Frequentemente ouvimos muitos gritos na plateia: 'Gostosa!!!!!'. Com jeito temos de corrigir o 'erro': 'G Galera, tá errado, o nome da banda é Nervosa, e não 'gostosa'!", costumava brincar Fernanda Lira nas entrevistas, após os shows, com algum sarcasmo e ironia.

Acontece aqui, na Europa e nos Estados Unidos, por mais que as garotas roqueiras admitam que a coisa está melhorando desde muito tempo. Vamos acreditar, por mais que tenhamos ainda de ler coisas abjetas como "só está tocando na banda porque é mulher do guitarrista e dono da banda!!!!!!". 

Isso ocorreu em 2022, quando a brasileira Julia Lage socorreu o marido, o guitarrista Richie Kotzen, que estava para air em turnê com o projeto Smith-Kotzen, ao lado de Adrian Smith, guitarrista do Iron Maiden. O comentário veio de um cidadão que se supõe americano nas redes sociais de Kotzen

Prestes a sair em turnê, os dois guitarristas acharam "em casa" a solução, já que Julia é baixista (ex-Barra da Saia) e atualmente está na banda Vixen. E ela ajudou no contato para convidar o baterista Bruno Valverde (Angra) para tocar nos shows. Bastam 30 segundos em uma performance dela na Vien ou no projeto do marido para sacar com ela toca muito bem.

A brasileira Isa Nielsen (ex-As Musas do Metal), ótima guitarrista e que agora está em carreira solo, foi alvo em feiras de música quando fazia workshops ou demonstração de equipamentos em São Paulo.

 Este jornalista presenciou dois tontos que desconfiaram da capacidade dela tocando. "A guitarra está bem adornada. Mas será que essa mina sabe tocar?", vomitou um deles. 

A "mina", uma loura alta e filh de pais dinamarqueses, precisou de 15 segundos na demonstração para arrancar aplausos e admiração de uma plateia masculina e entusiasmada. O tonto que vomitou bobagem, entre envergonhado e indignado, virou as costas e foi comprar um sorvete,,,

No blues brasileiro a coisa é mais grave, já que o número de mulheres instrumentistas é menor. O machismo campeia e três dos alvos prediletos eram gaitistas: Indiara Sfair, Tiffany Harp e a argentina Xime Monzon, todas consideradas "bonitas e demais e, como consequência, musicistas de menos".

 A paranaense Indiara, talentosíssima, é professora de música e compositora, integrante da banda Milk'n Blues e requisitadíssima em gravações de todos os tipos. 

Morena e alta, costuma tomar conta do palco em jam sessions com outros músicos e causou certo espanto em 2013 durante um festival de harmônica na zona leste de São Paulo, Teve gente que se recusou a acreditar que "aquela mulher" sabia tocar blues - e ainda mais tocar bem. Foi a sensação do evento, mas nem assim alguns "puristas" se convenceram.

 Tatiana Pará, guitarrista paulistana e irmã gêmea da ótima baterista Nina Pará, passou por situações parecidas, sempre precisando provar de forma mais contundente sua habilidades. Como é de uma índole pacífica, costuma deixar que a guitarra "fale" para calar os "haters" (disseminadores de ódio). 

Quando lançou seu primeiro CD solo, "My Mood", precisou ler nas redes sociais comentários esdrúxulos de gente que não se conformava com a participação do estupendo guitarrista americano Scott Henderson em uma das faixas - acabaram se tornando amigos. "O que essa menina fez para conseguir essa participação de peso?", escreveu um dos haters em uma rede social.

Por fim, há o caso dde Nita Strauss, guitarrista americana que toca na banda de Alice Cooper e que passou pela banda de Demi Lovatto. Loura e pose de modelo, é uma guitarrista excepcional e caba de lançar seu segundo disco solo, "The Call of the Void", recheado de convidados especiais, entre eles o "patrão".

Reconhecia, elogiada e admirada, continua sendo enxovalhada por uma parte de roqueiros inconformados com o fato de que uma "modelo" tenha a capacidade de tocar bem uma guitarra. haters brasileiros a apelidaram pejorativamente de "barbie do metal", o que acabou se espalhando por alguns fóruns na internet.

Duvido que la se importe com isso, a julgar pelo sucesso que tem obtido nos últimos dois anos, mas isso demonstra que é longo e tortuoso o caminho de que as mulheres ainda precisam trilhar pra diminuir a distância de reconhecimento em relação aos homens no rock e no metal - ou ao menos para amenizar o ódio e a inveja de que são alvos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário