sábado, 2 de dezembro de 2023

Indo além de fadas e anjos: Aline Happ mergulha na fantasia e nas sensações em CD solo

Os aficionados de rock progressivo costumavam dizer nos anos 70 que, se anjos tivessem vozes, elas seriam a da cantora inglesa Annie Haslam, da banda Renaissance, tamanha a delicadeza e suavidade de suas cordas vocais.

Vinte e cinco anos depois, uma fiel seguidora de Annie no outro lado do Atlântico resgatou esse legado e o levou adiante, ao lado do marido, um certo guitarrista chamado Ritchie Blackmore (ex-Deep Purple e Rainbow). 

Candice Night e sua voz angelical transformaram o projeto que tem om o marido, Blackmore's Night, em fenômeno ao recuperar o gosto do público pela música de inspiração medieval e renascentista.

O filão parece ser mágico e pelo menos duas outras cantoras aderiram neste século XXI, com variados graus de aprofundamento: a austríaca Sabine Edelsbacher (Edenbridge) e a carioca Aline Happ, que há mais de dez anos transita pelo mundo "medieval" com a banda Lyria.

"Eu me interessei por essa vertente musical desde pequena. Minha família gosta muito de arte e cultura e fui apresentada a muita coisa desde pequena", diz a cantora brasileira. "Eu me encantei com esse universo mágico musical e literário e me sinto confortável neste caminho.

Avançando em um nicho artístico onde a Lyria praticamente reina sozinha, Aline e seus companheiros de banda se tornaram presença obrigatória em qualquer evento temático medieval e renascentista pelo Brasil, ainda que, a o vivo, o som do conjunto, em algumas vezes não seja tão pesado quanto em várias passagens dos dois álbuns autorais já lançados desde 2014.

Nos evento, a caracterização fiel aos bardos do século XVI é requisito básico, e a moça frequentemente aparece como uma fada ou vestida com se tivesse saído de uma montagem de uma peça de William Shakespeare (1564-1616) - "MacBeth" ou "Romeu e Julieta"?

Se isso, à vezes, causa risos ou estranhamento, tudo acaba quando ela solta a voz delicada nas canções próprias ou nas versões de clássicos do rock e do pop transformados em canções medievais.

Mais uma dose desse conceito pode ser apreciado em "Branching Out", o primeiro álbum solo de Aline Happ, lançado no meio de 2023 com a colaboração dos parceiros de banda. São quatro músicas autorais e seis versões. O conceito é o mesmo, mas sem o peso do metal das canções da banda Lyria, 

Fruto direto da pandemia e das medidas de isolamento social por conta da covid-19, ela usou o distanciamento para tirar o projeto solo da gaveta. 
 
Em sua casa, começou a gravar vídeos com versões folk e celta de sucessos do pop e rock internacionais, de Rihanna até Iron Maiden. A iniciativa alcançou fãs no mundo inteiro e resultou no disco “Branching Out”, primeiro álbum solo da artista, que traz versões inéditas e canções autorais.

Houve algum receito de ser rotulada de cantora new age ou de um mundo de conto de fadas? "Nenhum. Foi ua opção minha abraçar esse tipo de som. Não vi isso acontecer com Candice Night, uma de minhas influências."

Segundo ela, o projeto solo surgiu como mais uma forma de "expressar a minha criatividade e versatilidade musical, além de homenagear algumas das minhas influências e inspirações. Eu sempre gostei de diversos estilos musicais, especialmente o rock, o metal, o folk e a música celta. Então eu decidi criar versões gothic/folk/celtic de canções que marcaram a minha vida, tanto do rock quanto do pop." 

“Branching Out” é fruto de um bem-sucedido financiamento coletivo, o trabalho chegou a superar a meta inicial de 20 mil reais, alcançando mais de R$ 40 mil, com adesões no Brasil e no exterior. Tamanho apoio internacional instiga p sonho de uma turnê pela Europa em 2025 em um formato mais intimista.  

A iniciativa de contar com a ajuda dos fãs já havia funcionado antes na carreira da artista. A primeira vez foi antes de lançar “Catharsis”, o disco de estreia do Lyria, em 2014. 

Com ajuda daqueles que acreditavam no sonho da banda, os músicos alcançaram US$ 8 mil (cera de R$ 43 mil em valores de hoje), superando a meta. Quatro anos depois, foi a vez de repetir a dose no álbum “Immersion”, que seguiu a mesma fórmula de sucesso e superou a marca anterior, chegando a US$ 13 mil (perto de R$ 67 mil).

“‘Branching Out’ significa se ramificando ou se expandindo. Escolhi esse nome porque ele representa bem o conceito do meu projeto solo. Queria trazer um pouco de magia para a vida das pessoas através da música", conta a cantora.

As diferenças entre trabalho solo e Lyria não foram pensadas e programadas, mas tomaram um rumo natural pelas circunstâncias e pela abordagem que fez nas versões dos clássicos do rock.

"No Lyria falo muito sobre sentimentos e, no projeto solo, quero também despertar sensações para um universo de fantasia", explica Aline. "Este novo disco é uma mistura de nostalgia e inovação, de tradição e modernidade, é uma jornada a um mundo de magia e mistério.”

O clima intimista e os arranjos mais suaves têm muito a ver com a visão artistica da cantora e influências de eventos da vida pessoal. Em dezembro de 2021, com a morte de sua avó, surgiu a primeira música autoral, “Flower of Light”.

Outras três canções foram escritas e entraram para o disco, que traz influências de bandas clássicas como Linkin Park, Kansas, Nightwish e Scorpions, e de artistas como Sarah Brightman, Enya, Celtic Woman, entre outras.

Aline contou com a parceria de Patrick Happ para as fotos do álbum e também para as letras de “Join Me”, “Sea of Dreams” e “Home”. Rod Wolf, também do Lyria, gravou as guitarras e violões de “Join Me”, “Sea of Dreams”, “Home” e “Stairway to Heaven”. 

O álbum “Branching Out” não é uma ruptura com o Lyria, e sim, um complemento, adianta-se a cantora. "Tal como dito é “Join Me”, um dos principais singles do disco, um dos propósitos do álbum é convidar os fãs de rock, música celta, folk e classical crossover para conhecer o meu trabalho, e posteriormente, mais do metal que faço com o Lyria."

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