Além de trabalhos notáveis, como "Peace... Like a River", do Gov't Mule, o blues de 2023 legou alguns resgates que tornaram a vida um pouco menos pesada em um ano de guerras e tragédias naturais.
Dois guitarristas e uma banda importante se encarregaram de colocar o blues de novo no topo: o incansável Joe Bonamassa, o veterano inquebrável Robin Trower e os resilientes da banda Blues Traveler.
Quem esperava uma "descansada" do nerd da guitarra com decisão de retomar o grupo de hard rock Black Country Communion se surpreendeu com o anúncio de mais um álbum solo de Joe Bonamassa.
Ele encerrou o ciclo de divulgação de "Time Clocks", de 2021, e colocou no mercado, no começo do ano, o disco ao vivo "Tales of Times", mas não quis saber de parar.
Celebrando 20 anos de “Blues Deluxe”, seu álbum de maior sucesso até hoje, o músico lançou um segundo volume via J&R Adventures. Seu toque de classe é o responsável pela imensa qualidade de um álbum despretensioso e descontraído, mas extremamente eficiente.
"The Truth Hurts" (de Kenny Neal) é outra pérola, com uma interpretação soberba e solos de guitarras espetaculares. "You Sure Drive A Hard Bargain" (de Albert King) e "It’s Hard But It’s Fair" (de Bobby Parker) também são peças maravilhosas, em que o blues tradicional é revisitado em todos os sentidos, mas principalmente pelo timbre clássico de guitarra.
Celebrando 20 anos de “Blues Deluxe”, seu álbum de maior sucesso até hoje, o músico lançou um segundo volume via J&R Adventures. Seu toque de classe é o responsável pela imensa qualidade de um álbum despretensioso e descontraído, mas extremamente eficiente.
Assim como no original, a obra conta com uma série de versões para músicas importantes do blues que não necessariamente são sucessos ou clássicos.
O próprio título do disco remete a uma música importante, mas que só ganharia notoriedade ao ser gravada pelo Jeff Beck Group em 1968 em maravilhosa versão com Rod Stewart nos vocais.
O disco já estava gravado antes de Bonamassa entrar no estúdio, em Los Angeles, para a primeira fase dos trabalhos com o Black Country Communion, banda de rock pesado que criou em 2010 ao lado de Glenn Hughes (ex-Deep Purple, baixo e vocais), Jason Bonham (ex-Journey, bateria) e Derek Sherinian (ex-Dream Theater e atual Sons of Apollo, teclados).
Essa banda teve uma ascensão vertiginosa entre 2010 e 2013, lançando três álbuns de estúdio e um DVD/CD ao vivo, mas praticamente acabou por conta da agenda lotada de Bonamassa, que não abriu mão de sua carreira solo e dos projetos de produzir discos de outros artistas de blues. Houve uma tentativa de volta em 2018, com um quarto álbum, mas o fôlego já não era o mesmo.
Provavelmente o artista de rock/pop/blues mais prolífico da atualidade, Joe Bonamassa retoma o esquema de homenagear grandes nomes do blues após muito tempo. "Blues Deluxe Vol. 2" tem apenas duas canções inéditas.
Uma delas é "Hope You Realize It (Goodbye Again)", feita em parceria com Tom Hambridge, enquanto “Is It Safe To Go Home” é de autoria do guitarrista Josh Smith, que o acompanhou em sua mais recente turnê.
Uma delas é "Hope You Realize It (Goodbye Again)", feita em parceria com Tom Hambridge, enquanto “Is It Safe To Go Home” é de autoria do guitarrista Josh Smith, que o acompanhou em sua mais recente turnê.
A primeira é um rhythm and blues contagiante, com uma seção de metais fabulosa, enquanto que segunda é uma balada blues sensacional, uma canção romântica sem necessariamente tocar na palavra love (amor), uma canção gigante, da estirpe de "Driving Towards the Daylight", "Different Shades of Blues" e "Self-Inflicted Wounds", três de suas melhores canções autorais dos últimos dez anos.
O primeiro single lançado é uma excelente versão para "Twenty-Four Hour Blues", com Bonamassa voltando aos primórdios de sua carreira solo, n finalzinho dos anos 90.
Depois de algumas reformulações, a banda básica que o acompanha atualmente tem Reese Wynans (teclado, ex-Double Trouble, de Stevie Ray Vaughan), Calvin Turner (baixo) e Lamar Carter (bateria). Entre as participações especiais ele contou com Paulie Cerra no saxofone, Dannielle DeAndrea e Charles Jones nos vocais de apoio.
O inglês Robin Trower buscou uma parceria de peso para novas músicas depois de anos de atividade frenética no rock com lançamentos a cada dois anos neste século.
Desde que voltou a tralhar com Jack Bruce (ex-Cream) entre 2007 e 2009 esperava-se uma volt ao lues e ao jazz, mas coisas não caminharam como os dois gostariam com o projeto de dois álbuns, um deles ao vivo, chamado "Seven Moons". Trower decidiu ficar no rock na carreira solo e Bruce gravou pouco até a sua morte, em 2014.
"Joyful Sky", lançado em outubro, é o seu álbum mais blueseiro em pelo menos 15 anos. E acertou em cheio ao escolher a voz pra embelezar uma série de canções fortes e tradicionais do blues com a sua característica pegada pesada.
Sari Schorr é uma cantora novaiorquina com um trânsito excelente entre os mestres do blues dos dois lados do Atlântico. Muito elogiada, foi recomendada ao guitarrista eclético e cometeram um dos grandes lançamentos do blues dos último anos,
Mesmo com pouco mais e dez anos de carreira, a Sari conseguiu incorporar um feeling necessário para o blues pesado e intenso de Trower, continua desfilando uma categoria inigualável aos 78 anos, além de uma elegância única.
Ex-integrante da banda Procol Harum, construiu uma forma de tocar peculiar, aiando o peso do rock aos fraseados e blues recheado de feeling, emprestando uma consistência uma força ímpares a canções gravadas ao lado de Jack Bruce e Bryan Ferry (ex-Roxy Music), por exemplo.
Ao lado da moça que é um dos expoentes do blues moderno, Trower abandonou o tradicionalismo e caiu de cabeça em vertentes mais ligadas ao rhythm and blues, casando com a tendência abraçada por Sari Schorr em seus rês álbuns solo.
Os dois brilham em temas delicados como "Burn" e a faixa-título, combinando delicadeza e destreza, enquanto que a exuberância comparece e candidatas a clássicos como "The Circle is the Complete" e "I'll be Moving On".
É um trabalho positivo, com bom astral e de uma honestidade desconcertante, além de transparecer que os dois músicos, e seus acompanhantes, estavam se divertido bastante na confecção do disco.
No material promocional, Trower se derreteu ao falar da parceira: “Eu trabalhei com alguns grandes vocalistas ao longo dos anos, mas Sari é dinamite, simplesmente um nocaute absoluto. Este álbum realmente me empurrou, me fez escrever em tons diferentes e arranjar músicas para a voz dela. Desta vez, fui mais para a rota do R&B, porque sabia que ela seria ótima por esse caminho. Mas o blues ainda sustenta tudo o que faço – e definitivamente há elementos das minhas coisas dos anos 1970 neste novo disco.”
Os americanos do Blues Traveler tiveram de buscar uma reinvenção depois de ter patrocinado uma guinada no blues nos anos 90. A mescla dde pop, blues e country caiu no gosto do público médio daquele tempo ao mesmo tempo em que desfrutava de prestígio entre os nomes mais estrelados da música.
Entretanto, a busca pela sonoridade mais pop e acessível cobrou o seu preço e a banda teve dificuldades em manter o nível no novo século, com o declínio do rock do próprio blues.
Mais underground e com menos exposição, o blues moderno se voltou novamente para as guitarras, realçando os talentos de Joe Bonamassa, Eric Gales, Gary Clark Jr, e outros nomes fortes que vêm da Europa. Blues Traveler precisava se reinventar, mas demorou a "reengrenar".
"Traveler's Soul", o novo álbum, é uma espécie de "libertação" dessa necessidade de seguir os padrões de um mercado em ebulição e que se transforma de uma maneira veloz e quase impossível de acompanhar.
É uma obra leve, que esbanja alto astral e que promove uma fusão de estilos que conferem um ar moderno ao blues com molho country e sua essência.
O legal é que esse impulso modernizante ocorreu graças às participações de várias mulheres - tem até passagens de rap! A banda escolheu a dedo as canções de soul e rhythm nd blues para imprimir suas versões menos explosivas, mas carregadas de sentimento e reflexão.
Como um mestre de cerimônias, o vocalista John Popper foi generoso ao conduzir os duetos com a leveza que permeia todo o álbum. Talvez o disco necessitasse de um pouco mais de guitarras altas e um pouco mais estridentes, mas o conceito parece adequado diante do resultado satisfatório.
"Fool For You", que abre o trabalho, engana o ouvinte ao exibir um bluesinho quase inofensivo e tradicional, com a gaitinha d Popper dando um ar mais folk. É romântica, apesar de exalar algum sarcasmo.
A armadilha estava armada, pois o jogo muda com "Tired of Being Alone", com a participação da excelente Alisan Porter em um blues denso que desemboca em um rhythm and blues contagiante e fervente.
"Waterfalls", com a participação de Train e Daisha McBride, eleva ainda mais o padrão, e Blues Traveler soa revigorado em mais um rhythm and blues fantástico, em dueto onde Popper soa mais uma vez generoso, dando o espaço necessário aos convidados.
E tem outra diva em "I Can't Stand the Rain", a melhor do disco. Valerie June empresta um ar de descontração e de positividade que casa muito bem com a guitarra esperta e a gaita quase onipresente d Popper. É tudo tão bacana e gostoso que certamente estaria em qualquer trilha sonora ou "playlist" do pop mais bem feito da atualidade.
No campo das surpresas, Blues Traveler transforma Beatls em um country folk ambicioso no clássico "We Can Work It Out", em que a cantora Sara Niemietz brilha tanto que chega a ofuscar o vocalista da banda. Á canção perde um pouco de sua dramaticidade, mas ganha em balanço, com um groove diferente.
Outra versão que descontrói a original é "Groove in the Heart", da banda de eletropop Deee-Lite, que traz para colaborar a dupla Liv Warfield e Davie.
Liv é uma das cantoras mais interessantes da atualidade, impressionando pela versatilidade e pela qualidade o abordar diversos estilos. A versão não perdeu a diversão da original e ganhou arranjos mais ousados e "avançados", digamos assim.
E ainda tem "Groove Me" e "Last Train", que procuram revisitar o passado blueseiro mais raiz, e nos remete aos primeiros trabalhos, onde o blues servia de base para algumas experimentações menos radicais.
É o típico disco de covers (versões) em que os autores, mais do que homenagear artistas, consegue colocar sua marca própria nos clássicos indiscutíveis, como e a evidência fica estrondosa em duas canções: a emocionante "Que Sr, Sera (Whatever Will Be, Will Be)", que vira um bluesaço do estilo Mississippi com a presença da cantora Wendy Moten, e em "When a Man Loves a Woman", menos melosa aqui e mais serena, com a participação da ótima cantora Ryan Shaw,
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