Uma das "profecias" mais lembradas do cartunista, escritor e jornalista Millôr Fernandes diz que "o Brasil tem um longo passado pela frente". Niilista e cético ao extremo, vaticinou com bastante precisão a realidade brasileira lá nos anos 80.
O passado certamente nos assombra, assim como as trevas nas quais vivemos entre 2019 e 2022 son o nefasto governo do nefasto Jair Bolsonaro (PL). mesmo com ameaças de golpe e de ruptura institucional em vários sentidos, o ano que termina indica que, mais uma vez, ensaiamos deixar o passado para trás; Até quando?
Há outro ensaio, esse mais realista: fantasma da pandemia de covid-19 parece domado e, enfim, há uma retomada consistente de alguma normalidade.
Os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 assustaram, mas o ovo governo, de viés progressista, contornou a crie política e mostrou que era possível trazer a trilha de um cotidiano normal de volta: politicamente a democracia sai mais fortalecida. internacional e diplomaticamente o Brasil volta a ser respeitado e ouvido; na economia, quase todos os indicadores são positivos, da queda do nível de desemprego ao controle da contas públicas e da inflação.
Com esses bons ventos, o setor de entretenimento e cultura volta a respirar, ainda que as consequências gravíssimas da pandemia sejam ainda visíveis e inclementes. Estamos conseguindo virar a página e seguir em frente.
O ano bom de 2023 projeta uma cena ainda mais auspiciosa para este 2024. Todos os grandes festivais realizados em solo brasileiro se consolidaram, transformando São Paulo na capital mundial dos espetáculos musicais de 2023.
Mesmo que a inevitável canibalização ainda exista, com o predomínio dos grandes eventos, festivais de rock e pop mais alternativos e só com artistas nacionais se beneficiaram da retomada. As perspectivas são muito boas.
O rock perdeu o Sepultura, que anunciou o sem fim para o fim de 2025, mas deve se beneficiar da onda de criatividade espantosa que tomou o mercado como nunc antes se viu nos últimos anos.
Foram inúmeros os lançamentos de álbuns com músicas inéditas com imensa qualidade, Existe uma sensação de que nunca se produziu tanto, e com altíssima qualidade, como em 2023, resgatando, em parte, um setor depredado pela destruição da indústria fonográfica e abandonado por quase todos com a chegada da pandemia.
O sentimento generalizado é de otimismo com o crescimento exponencial das possibilidades de shows de shows em todos os níveis, com a melhora na quantidade e na qualidade de casas de shows e bares em todo o país.
Cidades de fora do circuito roqueiro de pequeno e médio portes entraram nos roteiros nacionais com regularidade, recebendo bandas que até há pouco tempo toariam no máximo nas capotais da rregiçao Sudeste.
As grandes atrações ampliaram o número de shows por aqui, como Roger Waters, Paul McCartney, Taylor Swift, Coldplay e outros nomes estrelados.
Entre os nacionais, Titãs e Skank comprovaram a força e o apelo do rock, ainda que marcados pela nostalgia ou pela saudade antecipada por conta do anúncio de encerramento de atividades.
E a nostalgia foi a responsável por uma série de outros eventos. Pitty celebra 20 anos dde sua estreia solo com a repaginação de músicas antigas e Jota Quest lota estádios fazendo (bem) o mesmo de sempre.
E o metal brasileiro, que virou destaque em veículos de comunicação internacionais? Nervosa e Crypta são personagens de reportagens sobre ascensão das mulheres no metal extremo, enquanto que Angra e Edu Falaschi, com seus mais recentes trabalhos, frequentaram as listas de melhores do ano em vários países.
Noturnall e Torture Squad se tornaram referência na maneira de reinventar suas carreiras com trabalhos inspirados e de peso (literalmente), enquanto que Giant Void, Red Devil Vortex e Heaven's Guardian apontam para um futuro auspicioso dentro das vertentes mas tradicionais.
O mesmo pode ser dito a respeito de Malvada, Ego Kill talent e Electric Mob, bandas que iniciam ou consolidam sua internacionalização chamando a atenção de gravadoras europeias.
Precisávamos de um ano como 2023, com o retorno em peso de atrações internacionais de todos os tipo, consolidação de festivais e retomada com força dos shows internacionais.
Falta un pouco ainda para que consigamos retomar os níveis pré-pandemia. O blues e o jazz nacionais precisam progredir mais rápido e encontrar nichos consistentes fora do circuito Sesc.
Artistas underground de rock precisam ter mais locais e oportunidades para tocar, mesmo que ainda seja necessário o apoio de editais públicos de prefeituras e governos estaduais. E o dinheiro das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo - leis criadas para ajudar artistas e profissionais do entretenimento que que ficaram sem renda durante a pandemia - tem de chegar mais rápido a quem precisa.
Os primeiros 12 meses depois da escuridão apontam caminhos mais iluminados e cheios de otimismo, e 2024 certamente será melhor, oferecendo um leque ainda maior de oportunidades e ajudando a deixar o passado lá atrás, de onde nunca deverá sair para nos assombrar e aterrorizar.
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