sábado, 30 de dezembro de 2023

Em show monumental, Titãs celebram a sua majestade no Brasil

 Flavio Leonel - do site Roque Reverso
 
A parte final de 2023 da turnê de reencontro dos Titãs, marcada por três shows disputados na cidade de São Paulo, marcou de maneira inesquecível a série especial de apresentações ao vivo do grupo brasileiro pelo País iniciada em abril deste ano. Com uma estrutura gigantesca para padrões nacionais do rock, a veterana banda paulistana desfilou uma longa sequência de clássicos do rock brasileiro e saciou o desejo do público, formado principalmente por fãs que acompanharam o grupo ao longo de quatro décadas de existência.

O Roque Reverso esteve presente no primeiro dos três shows finais paulistanos da turnê de 2023, realizado na noite da quinta-feira, 21 de dezembro, no Allianz Parque, mesmo palco das duas apresentações seguintes, que aconteceram na sexta-feira e no sábado.

O período próximo das festas de fim de ano, com várias pessoas já em momentos menos atribulados em seus respectivos trabalhos ou até mesmo em período de férias coletivas, favoreceu a presença maciça do público nos três shows na Arena do Palmeiras.

O show do sábado, 23 de dezembro, foi o oficial que fechou o ano de grandes espetáculos em São Paulo, mas a alta procura de ingressos havia gerado mais duas apresentações extras, dois dias antes da derradeira. Vale lembrar que os Titãs já haviam feito, em junho, outros três shows lotados, no mesmo Allianz Parque, sendo que o último daquela trinca, do dia 18 de junho, chegou a ser transmitido ao vivo pelo canal fechado Multishow e também gratuitamente pelo Globoplay.

Naquela ocasião, muitas pessoas que não conseguiram comprar os disputados ingressos da turnê que atravessou o País tiveram a oportunidade de acompanhar, pela TV ou pela internet, o desfile de clássicos da turnê denominada “Titãs Encontro – Pra Dizer Adeus”.

No calendário da turnê, após os shows do Allianz Parque, ainda estavam o show do dia 28 de dezembro, em Florianópolis e o dia 31 de dezembro em Fortaleza. Em 2024, a banda tocará de maneira inédita como um dos headliners no festival Lollapalooza, no que parece, até o momento, ser a apresentação final da “Titãs Encontro”.

O show

A apresentação do dia 21 de dezembro que contou com a presença da reportagem do Roque Reverso trouxe poucas mudanças em relação à observada nos três shows de junho no Allianz Parque. Depois que o grupo subiu ao palco com “Diversão”, um desfile de clássicos do rock nacional que é praticamente imbatível veio na sequência.

Com exceção do saudoso Marcelo Fromer, estavam ali 7 sujeitos que influenciaram, de alguma maneira, mais de uma geração com suas músicas de diferentes influências e vertentes do rock. Os resistentes da formação atual dos Titãs (Tony Bellotto, Sérgio Britto e Branco Mello) estava novamente com seus parceiros de longa data que saíram da banda para carreiras solos e demais projetos pessoais (Arnaldo Antunes, Nando Reis, Paulo Miklos e Charles Gavin).

Para quem viveu os Anos 1980 intensamente, como é o caso deste jornalista que vos escreve, era inevitável a emoção de ver Arnaldo Antunes cantar “Lugar Nenhum”, “Televisão” e “Porrada”; Paulo Miklos cantando “Bichos Escrotos”, “Estado Violência” e “Sonífera Ilha”; e Nando Reis cantando “Igreja”, “Os cegos do castelo” e “Marvin”.

Também não faltaram bons momentos com o resistente Sérgio Britto, como nas execuções de “Desordem”, “Polícia” e “Epitáfio”. E, claro, foi importante demais ver Branco Mello, depois de uma recuperação de um câncer na garganta, cantando, agora em outros tons e adaptações, “Tô cansado”, “Cabeça Dinossauro” e “32 Dentes”.

Quando o assunto é performance musical, é impossível não citar a qualidade de Charles Gavin na bateria. Trajando uma camisa do Sepultura, banda orgulho nacional que sempre teve bons bateristas, ele foi, ao lado de Nando Reis, o melhor da noite em performance, mostrando que, apesar de hoje estar focado em outros projetos, não perdeu o talento no instrumento.

Entre as novidades tocadas em relação ao show final de junho, o grupo trouxe cinco músicas: “Será que é isso o que eu necessito?” (uma das melhores da noite), “Nem Sempre se pode ser Deus”, “Querem meu Sangue”, “Domingo” e “O quê”. A faixa “Ovelha Negra”, cover para a versão original de Rita Lee e cantada pela filha de Marcelo Fromer, Alice Fromer, foi tocada em junho, mas não agora em dezembro.

Desta vez, no belo momento que homenageou o pai cantando com Arnaldo Antures, num momento acústico do show, Alice esteve presente em “Toda Cor” e “Não vou me adaptar”.

O fato é que as apresentações da turnê focaram basicamente na fase clássica e de melhores álbuns do grupo, exatamente quando todos os membros estavam juntos e no auge musicalmente. E era justamente isso que o público queria ver.

Sim, os Titãs não tocam mais da maneira visceral e agressiva observada nos Anos 1980 e 1990. Os músicos assumiram de vez a condição de “senhores” e hoje fazem mais um estilo “The Who” (comparando o passado e o presente do grupo britânico) do que um estilo de bandas de idade próxima, como o “Metallica” e outras de pegada mais pesada, que, apesar da idade, ainda continuam com certa agressividade no palco.

Produção impecável

A equipe do Roque Reverso tem mais de uma centena de shows grandes vistos nos últimos 30 anos, tanto em turnês solos como em festivais, mas não havia visto ainda uma produção tão bem elaborada e rica em detalhes como a do show dos Titãs para uma banda de rock nacional.

Com um palco gigantesco e maior até do que alguns nomes de peso do rock internacional que já passaram pelo País, os Titãs finalmente tiveram uma produção nesta turnê condizente com toda a sua importância para o rock brasileiro.

Luzes, efeitos bem elaborados e telões gigantescos deixaram o momento de resgate da carreira ainda mais interessante. O som chegou a começar um pouco baixo no início, mas foi melhorando demais no decorrer da apresentação.

Uma análise inevitável para tudo aquilo que estava sendo visto no Allianz Parque era de que os Titãs estavam finalmente recebendo, com essa turnê lotada, disputada e bem produzida, a devida homenagem pelo conteúdo produzido em mais de 4 décadas.

Público

Tal qual a postura menos agressiva da banda, o público presente no Allianz Parque também foi mais contemplativo do que de agitar. Havia, sim, muitas pessoas de gerações mais jovens que nunca haviam visto os integrantes da formação clássica juntos, mas esses eram minoria frente à legião de “tiozinhos assumidos” ali presentes.

Mesmo em músicas que pedem agitação, como “Lugar Nenhum”, “Polícia” e “AAUU”, o público no Allianz preferiu mais admirar e cantar de maneira comedida do que pular e vibrar intensamente, como podia ser visto em shows do grupo em décadas anteriores.

Um momento que chamou a atenção foi a execução de “Televisão”. Num dos grandes momentos do show, os ecos do refrão “Ô, Cride! Fala pra Mãe” foram sentidos por todo o Allianz Parque, local já marcado por momentos parecidos de catarse, como nos shows recentes do KISS no Monsters of Rock de 2023, ou em apresentações do Bon Jovi e do Coldplay.

Com uma acústica que possibilita essa ampliação vocal da plateia, o Allianz Parque consegue enriquecer ainda mais alguns espetáculos de rock, deixando alguns momentos inesquecíveis, repetindo ou até superando cenas catárticas de grandes jogos de futebol no mesmo local.

 Presença como fã

Poucas coisas doeram mais aos integrantes do Roque Reverso em 2023 do que a negativa da assessoria de imprensa responsável para a cobertura dos shows de junho dos Titãs em São Paulo. Era um momento muito especial e com três shows possíveis para liberar o credenciamento, mas o “não” foi a escolha mais fácil para os responsáveis pela imprensa. E, como a resposta foi dada dias antes do show e não havia mais ingressos, este veículo ficou de fora do grande momento.

Na verdade, não houve surpresa, já que, mesmo na entrevista coletiva para o lançamento da turnê, este veículo de imprensa, que não é grande, mas costuma estar presente nos grandes eventos do rock no Brasil, já não havia sido convidado, ao contrário até de gente que nem é jornalista e estava presente lá por ser youtuber, influencer ou coisa parecida como essas atuais que vêm tomando espaço do Jornalismo não apenas na área musical.

Para o show do dia 21 de dezembro, a reportagem do Roque Reverso decidiu ir como fã e nem “concorreu” ao credenciamento de imprensa para não correr o risco de ficar “na mão” novamente pela falta de ingressos, como ocorreu em junho.

A ideia era apenas de postar vídeos como lembrança dos shows nos nossos canais, mas leitores e colegas de imprensa chegaram a perguntar se haveria a resenha.

Como os dedos desta equipe do Roque Reverso continuam nervosos e ativos

Mais do que um grande show com detalhes muito interessantes e grande produção, a turnê “Titãs Encontro” deixa um legado para outras bandas brasileiras, contemporâneas ou não do grupo paulistano.

Após essa grande turnê, foi inevitável entre os fãs de rock nacional imaginar outros grupos tendo o mesmo tratamento num grande estádio ou arena.

A partir de agora, há o desejo de ver grandes nomes, como o Barão Vermelho num reencontro com Frejat, Os Paralamas do Sucesso, o Ira!, a Blitz, o Sepultura e outras bandas importantes do País brilhando e sendo tratados com maior dignidade em grandes espaços, com som bom e toda uma


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