sábado, 28 de novembro de 2020

Anarquia e violência sonora: 40 anos de Ratos de Porão

Marcelo Moreira

Ratos de Porão (FOTO: DIVULGAÇÃO)


A podreira chegou aos 40 anos de existência. Instituição musical, lenda punk e nome fundamental do rock pesado e do crossover, Ratos de Porão era a típica banda que tinha de acabar antes de ficar velha. Será que que depois de tanta barulheira e tanta pancadaria, teria ainda algo a dizer após quatro décadas?

Sempre tem, a julgar pelo último álbum, "Século Sinistro", de 2016, mas se alguém ainda tem dúvidas, o quarteto pretende mostrar a sua potência em uma live gratuita. É o começo das celebrações dos 40 anos mesmo com pandemia rolando.

No dia 28 de novembro, às 19h, a Vans Apresenta Especial Ratos de Porão 40 anos promove o que está chamando de uma live show que será transmitida ao vivo e de forma gratuita, direto do Family Mob, com música de todas as eras, depoimentos, imagens raras e interatividade.

No evento, o Ratos de Porão repassará toda a trajetória ao longo das quatro intensas e vitoriosas décadas de estrada. O especial será dividido em quatro blocos, uma década por vez – dos anos 80 até os dias de hoje - do álbum "Crucificados pelo Sistema" até o mais recente,"Século Sinistro".

A transmissão será pelo canal de Youtube do Panelaço, por este link https://www.youtube.com/watch?v=bNHssTDzyac (inscreva-se e ativa o sininho para receber a notificação!).

Personalidades que influenciaram e fizeram parte da história da banda foram convidadas para participar, como Andreas Kisser (Sepultura), Supla, Mano Brown, Rodrigo Lima (Dead Fish), entre outros.

O Ratos é hoje João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria). O grupo foi formado em São Paulo em 1981 em meio ao boom do punk no estado e no país. Desde então, a própria banda sofreu um irreversível boom, com discos após discos alçados a clássicos, turnês pela América do Norte e Europa e o reconhecimento até fora do nicho da música pesada.

João Gordo conta algumas passagens da história da banda e sobre como foi difícil manter a pegada:

""Chegou uma hora, em 1984 e 1985, que o movimento Punk deu uma implodida por causa de violência, briga de gangue, etc. Não dava mais pra tocar e ficou esquisito. O que salvou o Ratos e levou o Ratos pra uma carreira internacional foi o metal, sabe?"

"A partir do momento em que fomos pioneiros do ‘Metal Punk’, ou do Crossover… Porque primeiro a gente foi fazer o Metal Punk em inglês. Falei dessa história pro Jão e pro Jabá (baixista), e eles não queriam muito tocar isso não. Mas comecei a mostrar pra eles bandas como Exodus, Metallica, Slayer e as bandas do hardcore misturando tudo, aí fui fazendo a cabeça deles."

"Quando a gente lançou o segundo disco, Descanse em Paz (1986), já tinha um pouco disso, né? E a gente tinha uma tentativa tosca de ser Metal, com influência de bandas inglesas, né? Tipo Concrete Sox, English Dogs. A gente era uma banda tosca ainda, né? A gente começou a ensaiar na Vila Piauí direto, no quarto do Jão e foi tomando jeito lá. Pegando essa onda mais Metal na Vila Piauí ensaiando quase todo sábado e domingo."

"O ‘Cada Dia Mais Sujo e Agressivo’ (1987) ainda é bem tosco, né? A união do thrash metal com o Punk. Mas a batida que o [baterista] Spaghetti fazia, que era aquela batida do Extreme Noise Terror, que hoje se chama D-Beat, ela não se encaixava com as palhetadas do Jão, então era meio desconjuntado o negócio."

"A banda só pegou a disciplina do Metal mesmo quando a gente alugou uma casa do lado ali, um barraco, começamos a ensaiar todo dia e fizemos o Spaghetti mudar de som, né? O que ele mais tinha de bom era a batida D-Beat dele, e a gente falou ‘não, não é assim, cara. É tá-tum tá-tum tá-tum, thrash metal, igual o Igor toca."

"A partir dali a gente começou a compor o ‘Brasil’, né? Pode ver que o ‘Brasil’ é quase todo ‘tá-tum tá-tum tá-tum’, e ficou super preciso. Aquela precisão rápida que veio de ensaio todo dia."

"A gente conseguiu lançar um disco que é um divisor de água em nossas vidas, que é o ‘Brasil’. Antes disso a gente era uma banda super tosca com as nossas ideologias também. Depois que a gente foi pra Europa e começou a ver como funcionava o movimento Punk dos squats, cara. Isso aí abriu muito a nossa cabeça."

"Outra coisa que abriu muito a nossa cabeça foi ver o show do RKL, o Rich Kids on LSD. Quando a gente viu o show dos caras, aqueles americanos dando uns pulos…"

"E a gente era tão tosquinho, tão engessado, aí quando viu os caras muito loucos, dando pulo, isso aí mudou a nossa vida também, cara. A gente falou ‘meu, como a gente é tosco! A gente tem que ser igual esses caras."

"A partir daí, começamos a virar profissionais do Hardcore, Metal, Crossover. A partir desse contato com os gringos."

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