segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Metal nacional: veteranos colocam o pé no acelerador com Troops of Doom, Damnnation e Chaosfear

 Marcelo Moreira

A pandemia e covid-19 parou com tudo e obrigou os músicos a se reinventar. Ou então a se enfurnar nos estúdios e produzir material inédito e reciclar carreiras.

Foi a oportunidade que algumas das melhores bandas novas de heavy metal agarraram para ter material novo para entrarem com tudo na retomada da vida musical no mundo, quando ela vier.

The Troops of Doom é uma das grandes novidades deste período, tendo à frente um nome histórico do metal brasileiro. 

Jairo Guedz, ex-guitarrista do Sepultura, é o diferencial do quarteto que chega quebrando as portas com um som pesado que aliou metal extremo da velha escola com timbres modernos e arranjos típicos do século XXI, com alguma saturação, afinação um pouco mais baixa e velocidade.

Troops of Doom (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"The Rise of Heresy"é o EP de estreia. A banda ainda conta com Alex Kafer (vocal e baixo), Marcelo Vasco (guitarra) e Alexandre Oliveira (bateria). É o trabalho que marca a volta de Vasco à música, ele é que é um dos mais respeitados artistas gráficos do rock internacional, tendo trabalhado para bandas como Slayer, por exemplo.

E como prestígio abre portas, Guedz e Vasco não tiveram dificuldades em trabalhar com um produtor de renome internacional, o norueguês Øystein G. Brun (Borknagar), que masterizou o EP no Crosound Studio.

O trabalho foi lançado digitalmente pela Blood Blast, subsidiária digital da gravadora alemã Nuclear Blast. Com todo esse cardápio à disposição, o resultado não poderia ser outro: é excepcional, tanto pela maturidade como pela qualidade.

"No Brasil, o EP será lançado em formato físico pela Voice Music, mas também teremos a versão em vinil pela Anomalia Distro. Além da boa receptividade da mídia, com resenhas fantásticas, estamos muito contentes com o sucesso da pré-venda do EP", comemora Jairo Guedz. 

"O interessante é que cada lançamento do EP virá com um diferencial específico para cada país, como pôster autografado, patch ou arte em alto relevo. O material já tem lançamento confirmado no Brasil (Voice Music em CD, Anomalia Distro em vinil e The Black House Records em K7), México (Metalized Records em CD-digipack) e Portugal (Hellven Records em CD e vini l), que fará a distribuição na Europa", acrescenta Marcelo Vasco. 

"The Confessional" é um excelente cartão de visitas, reunindo todas as influências thrash e death metal, aliando riffs mortais que lembram bastante o metal californiano oitentista. É quase um jogo de identificação procurar os ecos de Metallica, Megadeth, Exodus e Death Angel. É violência pura, como não poderia deixar de ser.

"The Rise of Heresy" é ainda mais violenta, em bom equilíbrio entre passado e presente, com as guitarras mais uma vez assumindo a proeminência. 

O detalhismo da banda é tão grande que até aquela "sujeira" básica das produções de death metal dos anos 80 e 90 foi recriada, no toque "old school" mais do que bem-vindo.

As quatro inéditas do EP são completadas com duas homenagens ao próprio passado de Guedz, com as as versões de "Bestial Devastation" e "Troops of Doom", clássicos de sua época de integrante do Sepultura. É um fecho muito bacana para um trabalho de muita qualidade e que surpreendeu pela proposta em pleno século XXI.

The Damnnation (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"Parasite", do trio feminino The Damnnation, é também uma porrada thtash que tem um pouco mais de versatilidade, in do do da influência direta do Megadeth até pitadas do som europeu, um pouco mais duro e reto.

É uma sonoridade pesadíssima e muito cura em alguns aspectos, o que deixa o som bem encorpado e sem a necessidade, por enquanto, de uma segunda guitarra.

Renata Petrelli, a vocalista e guitarrista, com passagem pela banda Sinaya, foi muito feliz em encontrar o timbre e a forma certa de vocal extremo e deixa uma canção como "Parasite" totalmente tenebrosa.

O mesmo acontece com a pesadona "World's Curse", em que a guitarra assume o protagonismo de forma total e transforma o ambiente em um verdadeiro pandemônio.

"Unholy Soldiers" e "Apocalypse" seguem uma linha mais tradicional de thrash metal, em ue as partes velozes e cadenciadas se equilibram e mostram as qualidades de Renata como uma solista dentro do heavy metal.

O EP "Parasite" é um chute na cara dos tolos que insistem em achar que existe uma "modinha" de bandas femininas de metal extremo por conta da notoriedade que a separação do então trio Nervosa gerou. 

Mais do que desrespeito ao Damnnation, é uma completa falta de informação repisar esse tipo de preconceito e a qualidade do material é melhor argumento contra os machistas "haters".

O Chaosfear, também veterano da cena metal nacional, ressurge com o novo álbum, "Be the Light in the Dark Days". As principais características de sempre estão presentes em sete músicos, com guitarras explosivas e muita velocidade.

E, alguns momentos a bateria parece estar mais alta do que deveria, o que não chega a atrapalhar o bom desempenho da banda nas sete músicas. 

A faixa-título é grandiosa, com guitarras na cara e solos ótimos, contribuindo para o clima "grandioso" do tema, chegando a ser quase épico. 


Ajudaram neste resultado muito interessante as duas participações especiais nos vocais, Murillo Leite (Genocídio) e Letícia Helena, amiga de longa data da banda e cantora do circuito de rock/metal em São Paulo, nas vozes adicionais.

“Muito porrada! Tem, além da agressividade inerente ao ChaosFear, as presenças dos nossos amigos Murillo Leite e Letícia Helena deixando a música ainda mais grandiosa!”, comentou Fábio Moysés (bateria).

Com temas mais trabalhados e arranjos orientados para as guitarras velozes, o quarteto conseguiu com rara felicidade combinar a agressividade e violência com passagens ricas em melodias e densas em conteúdo, em todos os níveis. 

É agonia em estado mais bruto, com profusão de passagens melancólicas melancólicas, alternando passagens ora sombrias e e sombrias, variando rápido entre passagens cadenciadas e violentas, com toneladas de riffs agressivos e palhetadas assustadoras. 

“Eu e meu irmão Edu Boccomino (guitarra), fizemos o esqueleto dessa música no final de 2014. Foi o primeiro material que produzimos depois da pausa na carreira da banda em 2012/2013", diz o vocalista e guitarrista Fernando Boccomino." Ela tem riffs super agressivos, refrão bem alto astral e um estilo Celtic Frost. A letra sala sobre um período muito difícil em minha vida, mais precisamente de 2014 a 2019, cheio de agonia, desespero e incertezas. Não foi nada fácil, e “ser a luz nos dias de escuridão” acabou sendo o mais importante para a minha superação."

Outros destaques do disco são "A New Life Ahead", com sua produção que faz parecer que o mundo vai desabar, e "From No Past", que contribui para a trilha sonora típica de um fim de mundo.

Se devastação e destruição sonora servem bem de música de fundo para os tempos em que estamos sobrevivendo, então temos algumas das melhores opções possíveis no metal nacional atual.

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