sexta-feira, 6 de novembro de 2020

System of a Down lança duas músicas contra a invasão da Armênia pelo Azerbaijão

 Marcelo Moreira


 
Nada como uma guerra para reunir uma banda importante e lançar novas músicas depois de 15 anos para causas beneficentes - mesmo que o vocalista progressista tenha de aturar o seu baterista que apoia políticos e políticas de cunho fascista.

A guerra entre Armênia e Azerbaijão, nos confins da Ásia, fez com que os quatro integrantes se juntassem para compor e gravar duas canções em que denunciam as violações e as violências das forças invasoras, no caso os muçulmanos do Azerbaijão. 

Em um comunicado publicado em suas páginas oficiais, a banda anuncia o lançamento das faixas "Protect the Land" e "Genocidal Humanoidz" – "ambas falam de uma terrível e séria guerra sendo perpetrada na nossa pátria cultural de Artsakh e da Armênia" – e pedem doações para auxiliar afetados com os ataques.

"Nós, enquanto System Of A Down, acabamos de lançar novas músicas pela primeira vez em 15 anos. A hora de fazer isso é agora, já que juntos, nós quatro temos algo extremamente importante a dizer como uma voz unificada. Essas duas músicas, 'Protect the Land' e 'Genocidal Humanoidz', falam de uma terrível e séria guerra sendo perpetrada na nossa pátria cultural de Artsakh e da Armênia", escreveu a banda nas redes sociais.

Armênia e Azerbaijão são duas repúblicas localizadas no sul do Cáucaso, a cadeia montanhosa que praticamente divide a Europa e a Ásia. Geopoliticamente, no entanto, estão no conflagrado Oriente Médio ou, mais especificamente, na Ásia Menor. Ao norte dos dois países estão a Rússia e a Geórgia; ao sul, Irã e Turquia, todos com interesses locais - região rica em petróleo. 

A Armênia é um enclave cristão m meio a nações e povos muçulmano, entre curdos, persas, árabes, turcomenos e turcos de origem seldjúcidas. Foi o primeiro Estado a assumir oficialmente a religião cristão/católica como parte do Estado.

 Ilhados em uma mar muçulmano, os cristãos armênios, espalhados há quase dois mil anos por uma área que engloba as atuais Turquia, Síria, Iraque e Irã, foram alvo de ataques e saques, para não falar uma série de genocídios. 

Os mais recentes ocorreram entre 1870 e 1923, enquanto a pequena Armênia gozou de alguns períodos de autonomia até ser absorvida pela União Soviética. 

Com a I Guerra Mundial, o Império Otomano, que englobava enorme região no Oriente Médio, norte da África e Turquia, alinhou-se ao lado da Alemanha e contra a Rússia. 

Aproveitando o conflito com os russos, os turcos que dominavam o império empreenderam uma política de limpeza étnica contra os armênios cristãos a partir de 1915, com seguidos massacres e deslocamentos forçados de populações inteiras. 

Estima-se que os turcos tenham provocado a morte de ao menos 1,5 milhão de armênios entre 1915 e 1923. Muçulmanos persas, árabes e curdos, em diversos momentos, apoiaram os turcos. 

Armênia e Azerbaijão, vizinhos, tiveram um período de independência entre 1918 e 1920, quando acabou a I Guerra Mundial e surgiu a Revolução Russa.

A partir de 1920, foram incorporadas à União Soviética, que conseguiu controlar as tensões entre os dois povos. Mas os russo, de longe, lá de Moscou, cometeram um erro: colocaram uma região disputada entre Armênia e Azerbaijão sobre controle deste segundo. É o enclave de Nagorno-Karabakh, de população de esmagadora maioria armênia. 

A União Soviética começou a desmoronar politicamente em 1988, com agravamento da crise econômica em 1990 e desmembramento - e fim - em 1991. Mas já em 1988, prevendo o fim da união das repúblicas soviéticas, armênios e azeris (ou azerbaijanos) iniciaram uma série de combates que evoluiu para uma guerra quando os dois países declararam suas independências, em 1992. 

Alegando que os armênios estavam sendo massacrados em Nagorno-Karabakh, a nova república armênia ofereceu ajuda militar aos conterrâneos atacados na região administrada pelo vizinho belicoso.

Um acordo de paz sem vencedores ocorreu em 1994, ano em que a região, renomeada Artsakh, declarou independência, não reconhecida por nenhum país do mundo - nem mesmo pela Armênia, que não quis acirrar os ânimos e provocar nova guerra. 

Desde então, há 26 anos, Armênia e Azerbaijão vivem em estado de tensão total, sem relações diplomáticas. Em julho desde ano, grupos terroristas armados pelo governo do Azerbaijão fizeram incursões contra Artsakh e o norte da Armênia. O objetivo era criar instabilidade e neutralizar postos militares avançados nos dois locais.

 "Em 27 de setembro, as forças combinadas do Azerbaijão e da Turquia (ao lado de terroristas do ISIS da Síria) atacaram a República de Nagorno-Karabakh, que nós como armênios chamamos de Artsakh", escreveram os integrantes do System of a Down. 

"Ao longo do último mês, civis jovens e velhos foram acordados dia e noite por visões assustadores e sons de ataques de foguetes, bombas caindo, mísseis, drones e ataques terroristas. Eles tiveram de transformar abrigos temporários em santuários, tentando evitar a queda de bombas fora da lei chovendo em suas ruas e casas, hospitais e lugares de adoração. E por quê? Porque mais de 30 anos atrás, em 1988, os armênios de Nagorno-Karabakh (que na época era uma Oblast Autônoma dentro da União Soviética), estavam cansados de serem tratados como cidadãos de segunda classe e decidiram declarar sua merecida independência da República Soviética Socialista do Azerbaijão, cujas bordas engoliam as suas. Isso eventualmente levou a uma guerra de auto-determinação pelos armênios em Karabakh contra o Azerbaijão que terminou com um cessar-fogo em 1994, com armênios retendo controle de suas terras natais ancestrais e mantendo a sua independência até o presente. Nosso povo vive ali por milênios, e para a maioria das famílias ali, é a única casa que eles e seus antecessores jamais conheceram. Eles só querem viver em paz como têm feito há séculos." 

O System of a Down é um exemplo de banda de rock engajada, como o Rage Against the Machine. Os quatro integrantes são descendentes de armênios, embora cidadãos norte-americanos. Sempre se manifestaram a favor de causas do s direitos humanos e em defesa da Armênia, a terra dos ancestrais, o principal motivo da reunião agora.

 Entre eles, as coisas nunca foram muito pacíficas, tanto que muitos críticos davam a banda por acabada diante de tão longo hiato. Além de divergências musicais e problemas administrativos, há desavenças internas em relação à política. 

Serj Tankian, o vocalista,é conhecido por seu ativismo pelos direitos humanos e antifascismo. O baterista John Dolmayan, no entanto, é mais identificado com o modo de vida norte-americano e é um ferrenho defensor do Partido Republicano e do presidente Donald Trump. 

O baterista foi criticado duramente em público recentemente por Tankian por sua defesa dos republicanos, mas relevou essa questão, em plena eleição presidencial, para se juntar aos companheiros em prol da denúncia de agressão da terra dos ancestrais pelos vizinhos muçulmanos do Azerbaijão. 

"Imaginamos que para muitos de vocês, há maneiras mais convenientes que vocês preferem para ouvir música, então considerem a oportunidade de fazer o download dessas músicas como um ato de caridade acima de tudo."

A banda disponibilizou o link para o download e as doações em seu site oficial. 

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