domingo, 29 de novembro de 2020

O atropelamento da esquerda e a consolidação da política rasteira

 Marcelo Moreira

Uma mudança para deixar tudo como está. Um grande clássico da teoria política se confirma o segundo turno das eleições municipais de 2020, com a esperada derrota feia da esquerda, uma queda ainda maior do bolsonarismo mais do que nojento e a consolidação do fisiologismo político de direita. 

O tal do Centrão no Congresso vence e se torna uma força mais perigosa no sentido de perpetuar a corrupção endêmica e o parioquialismo mais rasteiro que existe. A população brasileira gosta desse tipo de lixo. O brasileiro não sabe votar.

Mais do que uma derrota feia, o PT, em seu desempenho mais ridículo desde 1988, "saboreia" um legado desastroso, o de permitir o avanço inexorável do pior tipo de direita, tão perniciosa quando a extrema-direita bolsonada fascista. 

Ao abraçar práticas políticas tão caras a esses espectros políticos e abandonar suas programas históricos, o partido vê o eleitor cair nos braços do fisiologismo e da corrupção juramentada, e ainda tem de suportar esse mesmo eleitor asqueroso apontar o dedo e vomitar que a "corrupção é a marca do PT e que sempre foi mais do mesmo", como um um monte de vagabundos fez em São Bernardo e em Guarulhos, ambas cidades da Grande São Paulo. 

O maior pecado petista é não ter argumentos, qualquer um, para rebater esse tipo de eleitor lixo que rechaça ideias progressistas e políticas que efetivamente reduzem a desigualdade social. 

É um tipo de eleitor lamentável que, mesmo pobre, vota em candidato do PSDB na cidade de São Paulo que nada fez pelo social, gastou zilhões em reformas e obras inúteis e inócuas e que acredita em papai noel, ou nas historinhas fake de que o candidato de oposição, da esquerda, iria invadir a sua casa. Eleitor burro é pouco para qualificar essa gente.

A ex-banda de rock Ultraje a Rigor, hoje um mero apêndice de um programa de humorista ruim ,acertou em seu auge quando lançou a música "Inútil", embora seja uma canção que sirva perfeitamente para qualificar o pensamento político de seu autor. "A gente não sabemos escovar os dentes/a gente não sabemos votar para presidente..."

Do lado progressista, quase ninguém se salvou no rock; Quase todos optaram pela omissão e pelo continuísmo, ou então pela "mudança" para que nada se modifique. 

Os Detonautas Roque Clube bem que tentaram em apostar em um engajamento político que privilegiasse campanhas progressistas e a democracia como pilar de nossa sociedade, mas infelizmente parece que tiveram pouco êxito. 

Na grande maioria das cidades do Brasil venceram candidatos que têm pouco ou nenhum apreço pela democracia. Não bastasse esse caos político, o eleitor brasileiro que não sabe voltar reforçou a volta de todo o tipo de coronelismo, quando não consolidou o poder de todo o tipo de milícia, como ocorreu no Estado do Rio de Janeiro. 

Aliás, a cidade maravilhosa merece ter de escolher entre um bispo evangélico incompetente e ponta-de-lança do bolsonarismo e um representante, ainda que indireto, do grupo político que conseguiu ver na cadeia ao menos três governadores e vários deputados estaduais.

Os Detonautas foram perfeitos e cirúrgicos ao compor e divulgar clipes de músicas compostas para fazer pensar e elucidar o abismo político em que nos encontramos na atualidade. Esforçaram-se bastante, mas foram ignorados em prol do que há de pior na política.



Aquele mesmo eleitor fisiológico que sustentou o PT por 14 anos no poder e em várias cidades do país votou no partido com uma certeza de que ele seria diferente, mas não muito, a ponto de ser inofensivo. O partido gostou desse papel e fez questão de reforçar essa visão. A

Acomodou-se no poder e refestelou-se com o apoio de partidos vergonhosos como MDB, PTB e muitos outros sinônimos de péssima política. O preço pago é muito caro e, em muitos casos, quase irreversível. Os desempenhos em São Paulo, Rio, Guarulhos, Belo Horizonte e Porto Alegre, para citar apenas algumas cidades, corroboram essa visão.

O desastre bolsonarista não pode servir de consolo para um resultado tão avassalador. O eleitor brasileiro, além de não saber votar, despreza qualquer possibilidade de progressismo. Opta sempre pelo pior porque é o mais conhecido e aquele que, supostamente, vai atender aos pedidos paroquiais. 

É assim que funciona a política brasileira desde sempre, em todos os níveis, sem,pre embalada ela mentira, pelas fake news e pela total falta de compromisso de uma população que adora ser encabrestada, por mais que reclame da qualidade dos políticos eleitos.

Para nós, que apostamos na democracia representativa e na importância do voto, resta pouco menos de nada. E ainda somos obrigados a tolerar aqueles imbecis que riem à toa quando publicam ou passam para frente a frase infeliz de Lemmy Kilminster, ex-Motorhead: "Todo político é um filho da puta". Como rebater esse tipo de lixo? E o que dizer do eleitor que vota nesse tipo de político?


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