sábado, 14 de novembro de 2020

Uma rara oportunidade de ouvir uma apresentação acústica de The Who

 Marcelo Moreira



A data era muito especial. Aquele 14 de fevereiro comemorava exatamente os 50 anos do icônico show que virou LP e depois CD duplo, CD quádruplo e que frequenta as listas de melhores álbuns ao vivo: "Live at Leeds", gravado na universidade daquela cidade inglesa.

A data seria especial também porque seria o último show - eles não sabiam - antes da paralisação total por conta da pandemia de covid-19, que foi devastadora no Reino Unido e está em segunda onda por lá.

Naquele 14 de fevereiro de 2020, um The Who modificado sobe ao palco para uma apresentação acústica em um pub acanhado do oeste de Londres. Apresentação acústica?

Seria apenas a segunda vez que o Who faria algo parecido - lá em 1999, nos Estados Unidos, fizeram um show desse jeito para a fundação beneficente de Neil Young, Bridge Benefit, em prol de entidades que incentivam pesquisas e tratamento de pessoas com paralisia cerebral. Dois filhos de Young nasceram com esse problema.

Claro que foi algo bem planejado, já que seria gravado ao menos em áudio para a nova edição de "WHO", o álbum de inéditas de 2019. Virou um CD bônus, o que foi uma ideia fantástica.

Parecendo prever o que viria para o resto do ano, The Who escolheu o Pryzm, pub do bairro de Kingston com certo espaço na pista para reunir amigos, parentes e colaboradores de sempre da banda para uma celebração - pelos 50 anos de "Live at Leeds" e pelo novo álbum, o segundo com inéditas depois de 37 anos.

A banda também estava diferente para a ocasião. Pete Townshend (guitarra e vocais) e Roger Daltrey (vocais) estavam acompanhados pelo guitarrista onipresente Simon Townshend, irmão de Pete e músico de apoio há 24 anos. Mas cadê Zak Starkey, o baterista filho de Ringo Starr? E Pino Palladino, o eterno substituto de John Entwistle.

Por questões de agenda e outros compromissos, o Who teve de se virar com outra formação. Sem baterista, Pete chamou a interminável percussionista Jody Linscott, que tocou com ele e com o próprio Wjho em diversas ocasiões desde 1985 - outra boa sacada.

Para o baixo, outro amigo de longa data, Phil Spalding, músico de estúdio de bandas de apoio de inúmeros artistas britânicos. Para completar a celebração entre amigos, Billy Nicholls, que foi diretor artístico de várias turnês da banda, reapareceu nos vocais de apoio, no fundo do diminuto palco. 

O cantor Nicholls foi um dos que apoiaram Townshend na gravação do primeiro álbum solo deste "Who's First", em 1972, e também foi o diretor musical da trilha sonora do filme "McVicar", estrelado por Roger Daltrey em 1980 e que se transformou em um álbum solo do vocalista do Who.

The Who no palco do Pryzm em 14 de fevereiro de 2020 (FOTO:THEWHO.COM/BOBBY_MEDIA)

Como tinha de ser, o acústico do Who foi uma apresentação despojada, quase improvisada, com muita falação entre as músicas e um discurso longo que serviu de introdução ao CD bônus, intitulado apenas "Live at Kingston".

Foram dois dias de shows, 12 e 14 de fevereiro, com dois sets em cada um dos dias, totalizando uma hora de performance em cada um dos sets. Aparentemente, o último do dia 14 foi o escolhido para o registro das músicas. 

E foram apenas sete para o bônus do álbum do ano passado, muito pouco pela expectativa que gerou. Pelo menos o repertório escolhido agradou pelas surpresas, como a antiquíssima "Tattoo", de 1967, ou o desprezado country rock "Squeeze Box", de 1975, do álbum "The Who By Numbers".

Duas canções novas mantiveram o ar de surpresa e de novidade - "Breaking the News", que ficou interessante desplugada, e a country "She Rocked My World", um tema apenas razoável e totalmente dispensável.

De hits, apenas "Substitute" e "The Kids Are Alright", clássicos absolutos que foram singles nos anos 60, e o hino eterno "Won't Get Fooled Again" em uma versão meio desleixada e preguiçosa.

O CD bônus, que pode ser lançado em 2021 separadamente, é curioso e vale como peça para colecionadores. 

Para o ouvinte comum, ganha importância por ser uma raríssima oportunidade para escutar o Who "unplugged", um formato que sempre mereceu o desprezo de Townshend e Daltrey.

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