O blues de verdade sai da alma. E foi esse blues que um cineasta grego apoiado por franceses tentou encontrar e levar para as telas em 1972 em um filme antológico.
"Les Blues Entre Les Entes" (Blues com dentes cerrados, em francês), que ganhou um título inglês - "Blues Under My Skin", ou "Blues debaixo da minha pele", em tradução livre e literal - não encontrou o blues que sai da alma de forma integral, mroas chegou bem perto, tornando-se uma pequena obra-prima.
A fita é um destaques do segmento "Flashback" da 15ª edição do In-Edit Brasil - Festival Internacional do Documentário Musical -, que termina neste domingo, 25 de junho, encerrando o evento no Cinesesc, em São Paulo.
A sessão, que começará às 20h30, terá a apresentação do jornalista Marcelo Moreira, desde Combate Rock, que também fará a mediação de um debate ao final do evento.
O filme é interessante porque traz uma visão europeia não anglo-saxônica das origens e da antropologia do blues, um gênero que chegou a ser sequestrado pelos ingleses a partir dos anos 60 a ponto de ser tão indissociável das ilhas britânicas quanto do sul dos Estados Unidos.
É um documentário clássico sobre o verdadeiro blues americano, daqueles que nascem espontaneamente na boca dos esquecidos da sociedade americana.
Realizado pelo grego Roviros Manthoulis, a fita ficção se mistura muito subtilmente com a análise sociológica. Na impossibilidade de obter depoimentos crus e reais de negros nas plantações de algodão, o diretor buscou nos trabalhos forçados de prisioneiros negros do sul americano dos "tempos atuais" uma forma espontânea de cânticos de lamento que deram a origem ao gênero musical no tempo da escravidão, no século XIX.
Seriam cenas dos prisioneiros verdadeiras, com os cativos representando a si mesmos, ou também não apenas atores encenando?
As tramas que se passam em Chicago e Nova Orleans, essas sim não passam de ficção para demonstrar como o fosso social entre brancos e negros, nos anos 60 e 70, ainda era imenso, e como o blues permeava a existência da população urbana afro-americana desde sempre.
A alma do blues aparece em algumas cenas, principalmente no números musicais filmados de gente como Buddy Guy, Junior Wells e B.B. King. São cenas antológicas, registradas em locais pequenos, em um momento em que o blues lutava para recuperar o espaço perdido, ainda que os roqueiros ingleses tenham dado muita força.
mesmo sem uma forte narrativa, as imagens e os depoimentos, fictícios ou não, compõe um mosaico de informações valiosas sobre como o blues moldou parte da alma americana e está de tal forma inoculado na corrente sanguínea dos negros americanos a ponto de ser uma característica indissociável dessa população.
Muita gente acredita que a música, entre todas as artes, costuma ser aquela que deixa o legado mais palpável e mais direto. Se é assim, o blues é um legando imenso de um dos povos mais criativos e sofridos que existem e existiram.
Serviço:
"Les Blues Entre Les Dents - Blues Under My Skin", de Roviros Manthoulis
Cinesesc - Rua Augusta, 2.075
Domingo, 20h30
Entrada gratuita - retirar os convites uma hora antes
Apresentação, comentários e mediação - jornalista Marcelo Moreira
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