quinta-feira, 15 de junho de 2023

'Chic Show', o filme, é um dos maiores tributos à música negra brasileira

 O preço do sucesso para a pele negra é bem alto, e a carne negra continua sendo a mais barata do mercado. Mas nem assim os adversários conseguiram parar o Chic Show, empreendimento do entretenimento mais bem-sucedido em São Paulo nos anos 70 e 80.

O circuito de bailes para o pessoal negro, geralmente da periferia, que virou febre na Grande São Paulo, finalmente ganhou uma homenagem decente os seus mais de 50 anos de criação por meio de um ótimo documentário produzido pelo Globoplay e que estrará em setembro.

Entretanto, a pré-estreia de luxo ocorreu a abertura do In-Edit - Festival Internacional do documentário Musical, aberto em São Paulo no dia 14 de junho, no CineSesc. É uma aventura que narra a ousadia e a persistência de amantes da música que se tornaram empresários e potências do entretenimento urbano.

"Chic Show" é um filme Emílio Domingos e Felipe Giuntini. Conta a história de um dos mais importantes bailes da cidade de São Paulo, nas décadas de 70 e 80, idealizado por Luiz Alberto dos Santos, o Luizão.

O Chic Show foi uma experiência social, cultural e política que recebeu nomes como Tim Maia, Sandra de Sá, Gilberto Gil, Djavan e artistas internacionais como Kurtis Blow, Betty Wright e James Brown.

O sucesso quase que imediato levou o bailão para o salão de festas - e depois ginásio - da Sociedade Esportiva Palmeiras, na zona oeste, clube de futebol profissional cuja sede social era frequentada pelas classes classes média e alta brancas da capital. Virou referência nacional e internacional, com público médio de 10 mil a 15 mil pessoas por evento.

Com ótimo roteiro e edição interessante de imagens, mas sem invenções, o filme coletou inúmeras entrevistas de personagens fundamentais da trajetória, como o próprio Luizão, o dançarino Nelson Triunfo e muitos produtores e músicos influenciados pela cena dos bailes negros - Jorge Ben Jor, Mano Brown e Ice Blue (os dois dos Rcioais MC's), Sandra de Sã e muitos outros.

Os diretores conseguiram equilibrar a trajetória cronológica do Chic Show, por meio de uma narração ágil e descontraída de Luizão, com fatos históricos intercalados que realçam o ineditismo do empreendedorismo negro em um período de alta invisibilidade dessa população, da população pobre e segregada da periferia.

Também aborda com propriedade a questão do racismo, forte, presente e explícito no tempo da ditadura militar asquerosa e nojenta, o que só valoriza ainda mais os eventos narrados em "Chic Show". 

Sim, houve racismo e toda uma série de dificuldades, mas também houve um pioneirismo importantíssimo, a ponto de ser considerado um evento cultural de grandes proporções, além de seu inegável impacto econômico no setor de entretenimento. 

Os reflexos da importância do Chic Show são detectados nas cenas do pagode, do samba e do rap das décadas seguintes. "Eles representaram um futuro para todos os negros que nasciam já com o estigma de favelados e futuros bandidos. Colocaram a cultura negra no mapa e mostraram a riqueza de uma população marginalizada e destinada aos subterrâneos. Mostraram que era possível chegar lá. A importância é gigantesca", diz Thaíde, um dos DJs e nomes do hip hop mais fortes da cena.

"Chic Show", o documentário, será exibido mais uma vez durante o In-Edit e sessão a ser realizada na Cinemateca Brasileira  (Largo Senador Raul Cardoso, 207 - Vila Clementino, zona sul de São Paulo), às 19h30 do dia 17 de junho. Em seguida, DJs reproduzirão o bailão do Chic Show em uma grande festa.

 


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