O Sesc 24 de Maio foi saudado como a salvação do centro velho de São Paulo por fazer aquilo que várias administrações da cidade prometeram fazer – revitalizar a região e transformá-la em um “organismo vivo”, com vida noturna como o centro de Barcelona (Espanha), o Greenwich Village, em Nova York (Estados Unidos) ou o Soho, de Londres (Inglaterra) em seus bons tempos.
O tempo mostrou que um Sesc não resolve (quase) nada. Na pior administração desde Celso Pitta (antigo PFL, 1996 a 2000), o centro da cidade está mais abandonado do que nunca, à mercê de todo o tipo de criminoso barato e violento.
O Sesc 20 de Maio vive vazio (exceto quando há algum show importante) e o medo predomina nas redondezas durante o dia. A atual administração é um consórcio PSDB-PMDB – João Doria (PSDB, 2016-2018), Bruno Covas (PSDB, 2018-2021) e Ricardo Nunes (PMDB, 2021 até agora).
Faz mais de ano que a situação está assim: Praça da Sé, Pátio do Colégio, calçadões e Praça da República estão sujas, abandonadas e entregue a pequenos bandidos, que estão cada vez mais violentos. Na região da praça Princesa Isabel e avenida Duque de Caxias, o problema de sempre: a Cracolândia.
O efeito disso é imediato: a diminuição sensível do turismo fora de época na cidade, espantando gente que era assídua frequentadora dos programas guiados pelo centro histórico.
É tão grave a falta de segurança que o sindicato dos guias turísticos de São Paulo desestimula a maioria dos passeios – mesmo que isso represente menos ganhos para os guias.
O prefeito, sem ter o que dizer, apelou para “problemas judiciais que “travaram a implantação de programas de intervenções urbanas” – programa este com vários pontos questionáveis, tanto que a Justiça agiu rapidamente e parou a execução.
É a mesma administração que desde 2016 encerra u desidrata vários programas sociais criados em administrações anteriores.
Entre o equipamentos mis afetados por essas circunstâncias, está a Galeria do Rock, que fica no coração do centro velho e a menos de 50 metros do Sesc 24 de Maio – e da “feira do rolo” que ocorre em uma rua lateral.
Muitos lojistas não conseguem definir se a diminuição da frequência nos corredores da Galeria se deve a consequências da pandemia, da crise econômica permanente e aprofundada pelo péssimo governo Jair Bolsonaro ou pela constante falta de segurança do centro da cidade.
A segurança é uma reclamação que vem desde os anos 90, mas que se agravou agora, pelas palavras de um comerciante que pediu para não ser identificado: “São duas décadas vendendo música aqui e nunca tinha sido assaltado a mão armada. Desde o fim da pandemia, com a retomada, foi roubado duas vezes perto do metrô Anhangabaú.”
Outro que preferiu o anonimato diz não ter dúvidas de que os turistas estão passando longe da Galeria do Rock. “Vai fazer quase um ano que estamos em retomada plena depois da pandemia. Houve aumento na atividade econômica em vários segmentos, O público diminuiu aqui, pelo que percebo, e a galera de outras cidades praticamente desapareceu. Não somos mais um ponto turístico a ser visitado.”
É difícil apontar apenas uma causa para a aparente diminuição público – ao menos para as lojas que vendem música e ainda resistem. Há a visível descaracterização do centro comercial como “comércio de música e de rock” e a crise econômica que só se agrava durante este governo amaldiçoado como fatores importantes para a degradação do local.
“Mudou muita coisa por aqui, principalmente depois da pandemia”, afirma Carlos Machado, um publicitário de 35 anos que finalmente atendeu ao pedido do filho Iago, de dez anos, para conhecer o local em um sábado, 23 de julho. “Fazia um ano que não saía da Campinas para vir à Galeria do Rock e muitas lojas fecharam. eu gostava da Cactus, antigona, mas ela não existe mais.”
E a falta de segurança? “Influenciou bastante na minha vinda. Adiei várias vezes a viagem por causa das notícias de crimes frequentes e crises na Cracolândia. Da mesma forma que eu, muita gente de outros lugares pensou e pensa duas vezes antes de encarar a Galeria do Rock. Aqui dentro é sossegado, mas n entorno é perigoso e não há lugares seguros para comer.”
Como nenhum plano de revitalização do centro vinga e com o aumento da insegurança, muitos lojistas cogitam uma eventual mudança para a Galeria Nova Barão, na rua de trás – entre as ruas Sete de Abril e Barão de Itapetininga – hoje dominada por sebos e lojas de equipamentos vintage de som. Ao menos três comerciantes consultados disseram isso, sendo que outro já possui um imóvel alugado non endereço “concorrente” para e “eventualidades”.
A Nova Barão pode representar um pouco mais de tranquilidade, mas não mais segurança, já que está no mesmo ambiente da Galeria do Rock, a uma distância de pouco mais de 100 metros.
As reclamações são generalizadas de furtos, roubos e confrontos com a polícia por toda a região. Quem se afastou da Galeria do Rock pela insegurança não se animará a frequentar a Nova Barão, por mais que ali seja um ambiente mais “amigável” para quem gosta de música.
A imensa maioria dos comerciantes anseia por projetos de revitalização que saiam do papel e por mais policiamento, o que não significa mais segurança.
Nenhum deles, no entanto, tem uma ideia clara d que é necessário e nenhum se lembra de ter participado de audiência pública ou reunião na Câmara Municipal e subprefeituras para discutir o tema. é claro que assim fica bem difícil.
Com o centro cada vez mais “inacessível”, a Galeria do Rock e outros equipamentos sociais estão sendo asfixiados por problemas urbanos que outrora eram suas vantagens competitivas em relação à concorrência do resto da cidade.
A facilidade de acesso por transporte público está sendo suplantada pelo crime; a variedade de produtos oferecidos é deixada de lado pela descaracterização do centro comercial; e a degradação do entorno impede que passeio seja completo e agradável pela falta de opções gastronômicas e culturais – nem mesmo a chegada do Sesc 24 de Maio foi o suficiente para alterar esse panorama.
Em texto anterior dissemos que a Galeria do rock pedia socorro por conta das mudanças quase irreversíveis que transformam definitivamente o centro comercial a ponto de perder dia após dia a conotação roqueira.
A insegurança pública, ao que tudo indica, pode acelerar muito o processo de desintegração, sendo que, neste quesito, o condomínio empresarial pouco pode fazer para minimizar esse problema.
P.S.: Continuamos tentando um posicionamento do síndico da galeria, Antonio Souza Neto.
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