- Foo Fighters - "But We Are Here" - O disco mais difícil da história de quase 30 anos da banda de Dave Grohl tinha tudo para não ser bom como se esperava. e tinha tudo para ser bem ruim em razão do clima de depressão por conta da morte do baterista Taylor Hawkins em fevereiro de 2022, na Colômbia. disco lançado, dá para perceber que todos se salvaram.
Como muitas bandas em dilemas criativos e passando por situações desagradáveis, a inspiração estava no passado, e o mergulho nos álbuns amais antigos legou um trabalho interessante e bom de ouvir, mas longe das melhores coisas que já produziram.
Compo meio cheio, meio vazio... zsiPrefiro olhar o copo meio cheio, já que as músicas são agradáveis, e parte delas foram compostas ainda om Hawkins vivo.
As baterias foram gravadas por Grohl, que optou por uma uma linha mais minimalista, exceto na música "Rest", a mais elaborada do álbum. Fica complicado dissociar o lima de tributo presente em todas as músicas, pois homenageiam não só Hawkins, as também a mãe de Grohl, que morreu também de 2022. "
Rescued", o primeiro single, já trazia a angústia e a urgência de lidar com perdas em vários sentidos, além de representar um pedido de socorro, em certo sentido.
A escolha de buscar no passado forças para seguir em frente faz todo o sentido e o reflexo é direto em quase todas as canções, que transbordam reflexões sobre vida e morte, como a própria \1Rest", que encerra o disco, uma balda longa e melancólica conduzida por violões e guitarras semiacústicas, com arranjos de muito bom gosto.
"The Teacher" é outra canção que segue a esma linha, desta vez mais explícita, com arranjos de cordas evidenciando o clima dramático e um certo pedido de ajuda, mas que aponta para um futuro menos sombrio - afinal, é preciso seguir em frente, pois estamos aqui (but we are here, em inglês).
E a faixa-título, mais roqueira e direta, quase hard rock, escancara o desespero das perdas, mas também remete para um outro caminho, e também para a necessidade de dar a volta por cima, não sem uma pequena ajuda dos amigos, com sempre...
"But We Are Here" é uam expiação de dramas e que levam a obra a outro patamar de maturidade. Não tinha como ser mais luminoso e mais "para cima", ainda que o som tenha lastro em um passado de boas lembranças, É difícil escrever isso, mas é um álbum fácil de escutar, pois obviamente foi muito difícil de compor e gravar.
- The Answer - "Sundowners" - Foram quase sete anos de hiato que quase comprometeram a carreira em ascensão da banda de hard rock The Answer, um dos nomes mais fortes do subgênero no Reino Unido - disputava com o Inglorious o topo do segmento hard até 2019. Curiosamente, Inglorious anunciou há poucos meses uma parada por tempo indeterminado.
Com "Sundowners", os norte-irlandeses de The Answer retomam o caminho do blues à la Black Crowes que tinha ficado de lado em "Solas" (2016), um disco mais experimental que beirava progressivo.
O som está menos pesado e mais bluesy, agregando uma série de arranjos que chamam a atenção pelo bom go e pela busca de timbres diferentes.
É o caso de "Blood Brother", com sua inspiração em Red Hot Chili Peppers, com um groove irresistível e guitarras turbinadas. É a canção que deveria abrir o disco pelo alto astral e potencial de hit, e não a experimental "Sundowners", mais trabalhada, mas sem um grande riff e com sem refrão pegajoso.
A pegada do comecinho da banda reaparece na gostosa "California Rust", que o hard rock do Led Zeppelin duela com sucesso com o blues dos Black Crowes. Aqui é inevitável comparar: os maneirismos e o estilo do vocalista Cormac Neeson estão cada vez mais próximos de Chris Robinson, dos Black Crowes, principalmente no rockão "Want to Love Me".
A parada longa acabou sendo os para a banda, como Neeson destacou em várias entrevistas recentes. Uma série de desgastes internos e externos colocaram a banda em um dilema depois da turnê de "Solas": The Answer ainda era uma banda que tinha o que dizer?
Ironicamente, o sucesso recente da banda americana Greta Van Fleet indicou o caminho para uma banda que se aproxima dos 25 anos de carreira. O público ainda tinha interesse por um hard rock vintage, estilo anos 70, com guitarras na frente e muito groove. Os próprios Black Crowes acreditaram nisso e voltaram com força para duas turnês mundiais.
"Oh, Cherie", outro rock poderoso, reforçou a impressão, embora não apresente novidade alguma. O mesmo pode ser dito de "No Salvation", um rock'n'soul que tem muita semelhança com "Sometimes Salvation", dos Crowes. As duas canções são energia pura - e é o que basta para The Answer agradar.
A banda considera este disco um recomeço, e é mesmo, se observarmos o tipo de arranjo que predomina em "Cold Heart" e seu ritmo contagiante de baixo surrupiado dos melhores momentos de The Cult. É um hard rock movido a guitarras ágeis e espertas, bem timbradas e encharcadas de blues.
Muita gente ainda busca explicações de o porquê de Greta Van Fleet ter explodido e The Answer ter ficado no quase, já que é uma banda melhor - e é melhor do que a simplista Inglorious, que, no entanto, obteve mais reconhecimento e mais sucesso.
Sem inventar, The Answer se recoloca no mercado de forma incisiva e turbina um hard rock de consumo rápido, mas de alta intensidade, como revela a ótima canção "All Together" e o arrasa-quarteirão "Livin' on the Line".
- Queens of the Stone Age - "in Times News Roman..." - Em tempos difíceis costumam surgir trabalhos bons, mas também indigestos. Foo Fighters fugiram dessa armadilha com sucesso, mas os Queens of the Stone Age deliberadamente trilharam pelo caminho mais ousado - e difícil, reconheçamos.
Foi mais uma banda que passou por um hiato nas atividades e que foi abalroada pela pandemia de covid-19. A sonoridade é dura, ríspida, assim como a maior parte das letras.
O aparente comedimento de guitarras e o som claustrofóbico fazem parte do conceito, em que os músicos expiam uma série de demônios.
O baixo é um fio condutor fundamental, já que dá o tom das canções e ajuda a reforçar a sensação de claustrofobia, como em "Sicily", com seu ritmo marcial e uma série de barulhinhos que parecem ser de arranjos eletrônicos, e "What the peephole Say", que é um rock pesado e denso em cima de uma base jazzística. É bem diferente e ousado, sem dúvida.
"Paper Machete", o primeiro single divulgado, já indicava que o caminho seria árduo e tortuoso. É uma canção que apresenta várias nuances e flerta com um som vintage oitentista à la Talking Heads, especialmente pelas linhas de baixo.
Quem esperava uma linha mais stoner, com guitarras pesadas, talvez se decepcione. "Emotion Sickness" é o que mais se aproxima desse conceito, com levadas ao estilo de King Crimson, como os vocais e os riffs de guitarra, Não é um som fácil, como de resto é "In Times New Roman..."
Josh Homme, o guitarrista, vocalista, líder e principal compositor, é talentoso e irreverente, mas optou por ser mais direto ao desabafar sobre os tempos sombrios pelos quais todos passamos a partir de 2020. Ele ainda teve de encarar um processo judicial litigioso no divórcio de Brody Dalle, a guitarrista e líder da banda The Distillers. Não é só a questão do divórcio, mas a luta pela guarda os três filhos.
Isso explica muito do amargor que algumas das canções exalam, como a claustrofóbica e incômoda Obscenery" e a quase jazzística "Straight Jacket Fitting", carregada de ironia e sarcasmo sobre uma base hipnótica de baixo e riff seco de guitarra,
Serão necessárias mais audições para absorver a quantidade grande de informações e sutilezas sonoras que o álbum descarrega em pouco mais de 45 minutos. Homme e os companheiros não economizam na tentativa de ousar e acertam na maioria das vezes.
É um álbum diferente, mas honesto e que é bem-sucedido na intenção de ser indigesto, o que obriga o ouvinte a parar, prestar a atenção e pensar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário