segunda-feira, 26 de junho de 2023

Em novo álbum, Viper volta ao passado para engatar um novo futuro

Era para ser a principal banda de heavy metal brasileira, pois já era destaque no exterior antes mesmo de o Sepultura começar a chamar a atenção no Brasil. Seus integrantes tinham talento, força mental e esperteza para driblar algumas armadilhas e estourar em vários mercados. O que deu errado?

Por muito tempo os integrantes do Viper e muitas outras pessoas procuraram a resposta dentro de várias teorias, até que decidi4am tocar o banco adiante em meio a períodos turbulentos e outros de bonança, incluindo uma volta, ainda que temporária, do vocalista Andre Matos (1971-2019), que tinha saído em 1990.

"Timeless", álbum da banda paulista recém-lançado, é mais uma tentativa de corrigir rotas que, na verdade, não precisam ser redirecionadas. Cada coisa ao seu tempo, e na sua velocidade.

Foram 16 anos de hiato nos estúdios e sem lançamentos fonográficos. "All My Life", de 2007, era uma coleção de boas ideias que teve uma repercussão aquém do que merecia. Como reflexo de um período de dificuldades, a banda entrou em recesso.

Com as presenças de Leandro Caçoilo (vocais) e Kiko Shred (guitarra solo), o Viper soa revigorado, ainda que buscando inspiração no passado. É praticamente uma outra banda, com novas ideias e percorrendo um caminho u pouco diferente.

O power metal da maioria das canções lembra bastante o ótimo "Theatre of Fate", disco de 1989 que ampliou a presença do Viper no exterior ainda com Andre Matos, que sairia em seguida. 

Outras canções, como "The Android", mais reta, dura e rápida, remete a "Coma Rage" (1992), com uma influência mais punk, quase hardcore, e um tempo em que os vocais estavam a cargo do baixista e fundador Pit Passarell.

Para alguns críticos, "Timeless" é um disco desnecessário porque nada acrescenta por estar alicerçado no passado; para outros, foi graças a esse alicerce que a banda encontrou forças para finalmente lançar "Timeless" em um período difícil, que combinou pandemia de covid-19 coma morte de Matos, então ainda ligado ao Viper.

A bonita homenagem em single ao amigo morto, "Spreading Soul Forever", dava a pinta de ser um epitáfio para uma trajetória acidentada, mas importantíssima, dentro do rock nacional, mas acabou sendo o ponto de partida para que o grupo seguisse em frente.

O processo de maturação foi longo, e necessário, a julgar pelo resultado. É um ótimo disco, bem feito e transbordando de garra, assim como foi "Rescue", do Shaman, d 2021, também fruto de luto e homenagens a Andre Matos.

"Under the Sun" e "Timeless", as canções já divulgadas em singles, demonstravam uma certa "busca" por algo perdido no passado e, com isso, mantendo a chama acesa. 

A presença de Caçoilo era o que faltava para consolidar essa fase de resgate. O cantor entendeu perfeitamente o momento e lapidou as canções emprestado versatilidade e confiança. Comprou as ideias e colocou em prática um cabedal de influências que amenizou o ar "vintage" do disco.

Quem escutou "Inter-Mundos", do Caravellus, outra banda do vocalista, sabe exatamente do que Caçoilo poderia entregar.  Os bons resultados do Viper atual se devem muito a ele.

"Under the Sun" já é um clássico da banda, om potência e ótimos riffs de guitarra. Respira ares oitentistas, mas entrega algo mais, misturando passado e presente em timbres modernos.

"The Android" surpreende com sua velocidade punk e arranjo amis "sujos" que transpiram descontração e bom astral. "Angel Heart", talvez a melhor do álbum, é um hard 'n'heavy de alta qualidade e com tamanha a vontade de ser tocada que  não há como não relacioná-la a Andre Matos. Coroa uma coleção de canções que marcam mis um renascimento do Viper. 

E há ainda o encerramento com duas canções singelas e pungentes, com forte presença de violões e arranjos delicados. 

"Thais" é bela e cadenciada, uma quase balada empolgante, enquanto a reflexiva "Reality" fecha bem um trabalho bem feito e que, de alguma forma, redime uma banda que nunca cansou de procurar o seu caminho. O acerto em apostar em um conceito meio batido -  o disco se propõe a explorar uma sonoridade atemporal,  é evidente.

A formação atual tem Leandro Caçoilo (vocal), Kiko Shred (guitarra), Pit Passarell (baixo e vocais) e Felipe Machado (guitarra) e Guilherme Martin (bateria). Participaram das gravações os ex-guitarristas da banda Hugo Mariutti e Yves Passarell (que passaram pelo Viper antes de seguir para o Shaman e Capital Inicial, respectivamente), além de Daniel Matos, baixista e irmão de Andre Matos. A produção é de Maurício Cersosimo, que já trabalhou com nomes como Paul McCartney e Avril Lavigne, com coprodução de Val Santos, ex-guitarrista e integrante do Viper.
 

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