segunda-feira, 26 de junho de 2023

O renascimento do sectarismo na música é mais uma 'marca' destes tempos sombrios

 O legado do bolsonarismo é um fardo que teremos de carregar por décadas em todos os caps e em todas as áreas da sociedade. 

Emulando o nefasto período em que Donaldo Trump foi presidente dos Estados Unidos, o bolsonarismo contaminou de tal forma a vida brasileira a ponto de muita gente ter orgulho de sua burrice e suprema ignorância, devidamente temperados por doses macias de preconceitos, comportamentos discriminatórios, misoginia e racismo, além do ódio.

E então descobrimos em 2023 que esse legado nos deu outro comportamento deplorável que, aparentemente, estava acomodado/escondido debaixo de tantas nojeiras: o sectarismo, algo que tinha sido progressivamente amenizado desde os anos 90, sobretudo nas áreas de cultura e entretenimento.

É bom ressaltar que os sectários existem em profusão em todos os aspectos, mas ficaram empoderados com o advento do bolsonarismo asqueroso. E quem é o sectário?

"Indivíduo que se envolve apaixonadamente ou de modo extremo numa doutrina, religião, política, filosofia etc.: o sectário do partido nos defenderá; aquele que concorda com a maneira de pensar de alguém, obedecendo cegamente essa pessoa", segundo os melhores dicionários.

O meio cultural sempre foi terreno fértil para os embates entre correntes/seitas de todos os tipos. Os puristas da MPB não abominavam aas guitarras elétricas e o tropicalismo? Os punks detestavam os cânones da MPB, enquanto que os metaleiros odiavam os punks e tudo o ue se relacionasse com música brasileira, inclusive o rock nacional dos anos 80...

A intelligentsia comunista abominava o rock desde sempre em todos os países ocidentais a partir dos anos 70 e aqui ganharam o pejorativo apelido de "botocudos", como se fossem indígenas considerados inferiores.

E então os botocudos foram resgatados de suas fossas para empestear a vida moderna com sua visão tacanha e indigência intelectual em três episódios lamentáveis envolvendo o rock e empobrecer o debate e as nossas vidas.

- Fernanda Lira, baixista e vocalista da banda de death metal Crypta, assistiu a um show de Beyoncé na Alemanha, um antigo sonho dela. Postou um vídeo nas redes sociais onde aparecia no estádio, cantando as músicas e chorando de emoção. Imediatamente foi detonada por muitos "metaleiros", inclusive conhecidos dela, chamando-a de "traidora", já as pessoas do metal extremo jamais poderiam "curtir ´música pop"... Nada mais retrógrado e anos 80 do que isso...

- A cantora Angel Sberse anunciou a saída da banda Malvada, que criou em 2020, e explicou os motivos em longa entrevista ao canal Heavy Talk, do YouTube. Desiludida com uma série de dificuldades e acúmulo de atividades - ela tem cargo de gerência no departamento comercial de uma multinacional -, disse que estava exausta e que não mais se sentia confortável na banda. Mas de nada adiantou: foi xingada de ingrata e traidora nas rede sociais; foi acusada de se preocupar mais como dinheiro e o "conforto" do que com a arte - como se ela tivesse enriquecido com a Malvada... E ainda teve mais: um gaiato a acusou de individualista por almejar uma carreira solo, quando ela afirmou que ia se afastar por um tempo dos palcos...

- No começo eram apenas alguns bolsonaristas idiotas (redundância!!!!) que acusavam o Black Pantera, banda mineira de heavy metal em ascensão, de fazer apologia da violência. O trio de jovens negros, altamente politizado e com letras de protesto, se tornou uma das atrações mais importantes do rock nacional deste século e um de sus sucessos é "Fogo nos Racistas", que causou indignação nos conservadores bolsonadas e em toda a sorte de racistas. E não e que teve gente outrora moderada e de bom senso que embarcou na onda de classificar o trie quem o como violento, revanchista e estinulador da violência por conta da canção citada e de mais algumas? Houve quem cogitasse entrar com representação no Ministério Público e na Justiça contra o Black Pantera - e não era bolsonarista tonto radical, como era de se supor.

É só mais um sintoma de uam sociedade doente e que abraça o retrocesso desde 2013, quando uma horda de imbecis (em sua maioria)  saiu às ruas para protestar contra o nada - a abrir os portões do inferno para que uma toda a sorte de dejetos humanos escapassem e empesteassem as nossas vidas.

Fica cada vez mais difícil calcular o tamanho do prejuízo. Quando pensamos que nada poderia acontecer de aterrador em termos de retrocesso, eis que o sectarismo ressurge com força para nos envergonhar. E as redes antissociais não nos deixam em paz ao evidenciar como fracassamos como sociedade.

Quando artistas admitem a possibilidade de censura em todos os níveis - seja por oportunismo ou convicção burra, é sinal de que estamos no pior dos mundos  dos tempos. as perspectivas são ruins, e o resultado mais imediato é o aumento da intolerância e da violência. 

São temos tenebrosos, em que as vitimas frequentemente são, no mínimo, equiparadas aos agressores em termos de culpa - cresce o número de gente idiota que acredita qu a mulher estuprada é mais culpada do que o criminoso estuprados, ou que a a Ucrânia "provocou" a Rússia e tinha se ser invadida... Uma completa inversão de valores que só evidencia a burrice e a indigência intelectual que predominam nestes temos sombrios.

Alguns vão dizer: "o que esperar de uma sociedade que continua votando em bandidos e corruptos de sempre mesmo sabendo que são bandidos e corrutos?"

Não é um privilégio brasileiro ver o sectarismo e o radicalismo de ultradireita predominar e se destacar. Cidades e regiões inteiras de Alemanha, Áustria, França e Espanha estão dominadas por extremistas de direita, que venceram várias eleições em 2023.

O que espanta e causa consternação, no Brasil, é a completa falta de pudor das forças do atraso em achincalhar e depredar as reputações alheias em nossa seara, do do entretenimento/cultura. Essa gente burra e imunda não tem mais vergonha de se expor e passar vergonha, pois existe uma cambada imensa de imbecis que aplaude.

Em qualquer parte do mundo seria vergonhoso haver gente que ataca artistas negros e antirracistas or serem... antirracistas. Seria um sintoma claro de burrice coletiva imensa, mas no Brasil há genre indecente que defende a "liberdade de expressão" de criticar os antirracistas por "estimularem a violência" em suas letras. 

É a mesma gente nojenta que nunca se importou com o genocídio de negros pobres no Brasil desde sempre, e que não se importam com os dados obscenos de desigualdade que reina por aqui. 

É o mesmo tipo asqueroso de gente que chora e acende vela para os bilionários mortos no submarino, mas que diz bem feito para as centenas de refugiados que morrem afogados no Mar Mediterrâneo ou em fuga da guerra da Ucrânia.

O "resgate" do sectarismo é mais um sintoma da perversidade que toma conta de nossas vidas e nossas sociedades neste século desagradável, em que machismo e misoginia voltaram a ser aceitos como "manifestação legitima de liberdade de expressão". São temos muito difíceis, não so de resistência, mas também de sobrevivência.

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