quarta-feira, 28 de junho de 2023

Roger Waters chega aos 80 anos cada vez mais ativista e corajoso

O mundo não tem mais  Pink Floyd, mas ainda precisa demais de Roger Waters, que chega aos 80 anos de idade como um artista que encanta, mas também que incomoda e provoca reflexões. Diante da esterilidade das polêmicas artificiais dos influenciadores digitais, tona-se ainda mais necessário ouvir Waters.

Ele pensa em parar de tocar ao vivo, nas não de falar - e ele fala muito. É difícil pegá-lo no contrapé, mesmo quando ele erra, como nas declarações recentes de simpatia ao ditador expansionista Vladimir Putin, da Rússia, um estado terrorista que invadiu a vizinha Ucrãnia - posteriormente, recuou e revisou seu ponto de vista nesta questão.

Sua próxima turnê mundial, que pode ser a última, passará pelo Brasil no final deste ano e  tem datas extras por conta da altíssima procura pelos ingressos, que são bem caros, aliás.

Todas as polêmicas que o envolvem - as principais são o boicote a Israel (por conta dos conflitos com palestinos), o suposto apoio a Putin (uma manifestação de antiamericanismo infantil) e críticas pesadas (e justas) ao ex-presidente americano Donald Trump - revelam um ativista radical inteligente, mas também um artista corajoso.

Coragem é tudo, diriam os mais intrépidos estrategistas militares. Mais do que ousadia e audácia, é preciso ter coragem para ser ousado, audacioso e valente. 

Entre outras características, essa é uma das mais marcantes do inglês Waters, que se tornou antifascista desde criança, a partir o momento em que soube os motivos de não ter conhecido o pai - oficial do exército britânico, Eric Fletcher Waters morreu n batalha de Anzio, na Itália, em 1944, durante a II Guerra Mundial, meses após o nascimento do filho, que vira somente uma vez.

Ok, tudo fica mais fácil quando se chega aos 80 anos de idade milionário e com suportes dos mais variados. A coragem é bem mais evidente nestas condições, seja para xingar o presidente Donald Trump na cidade dele em pleno palco ou inventar de criar uma ópera-rock cara sobre a Revolução Francesa.

Ainda assim, é preciso ter coragem e desprendimento para assumir posições políticas radicais e complicadas em um momento em que o mundo está adernando à direita, cada vez menos tolerante com as diferenças e celebrando a xenofobia e fundamentalismos diversos.

Se Bono Vox, do U2, ou Sting, do Police, se distinguem pelo ativismo social e ambiental (mesmo que, de vez em quando, abusem da ambiguidade e procurem um muro com frequência), e Zack de la Rocha e seus colegas de Rage Against the Machine pela militância política alternativa, o ex-Pink Floyd prefere ir direto ao ponto, explicitando e especificando causas e escolhendo bem os seus adversários e inimigos.

Sim, ele é chato, é ranzinza, é rancoroso e radical, mas é corajoso o suficiente para encarar uma campanha internacional da favor dos palestinos e contra o governo de Israel – qualquer governo israelense, diga-se de passagem.

Por conta disso, é óbvio que não tem a simpatia de grandes conglomerados mundiais que pertencem a judeus ou têm grande participação acionária destes. Não é à toa que muitos patrocinadores fogem de um encrenqueiro como esse. Só que, como ele mesmo frisa, são encrencas que valem a pena encarar.

Esquerdista e militante anticonservador na Inglaterra, nunca escondeu que suas posições incomodavam, de certa forma, seus companheiros de banda, em especial o guitarrista David Gilmour - seu desafeto, mas que tem posições políticas parecidas.

Pacifista, Waters concebeu dois grande libelos contra a guerra, o magistral "The Wall" e o incompreendido "The Final Cut", as duas obras do Pink Floyd ainda com a presença de Waters. O segundo, na verdade, não passa de uma obra solo com a participação do Pink Floyd, já que todas as composições são suas., 

Gilmour nunca morreu de amores por essa "mania política" de Waters, embora se beneficie até hoje do megassucesso de "The Wall". Mais moderado, preferia investir em metáforas mais elaboradas, como na faixa "High Hopes", que o Pink Floyd gravou em 1994 no isco "The Division Bell". A disposição de Waters de enfrentar as tormentas por conta da política nunca foi a sua, e esse era apenas um dos pontos de atrito.

Não se trata de considerar o baixista fundador do Pink Floyd um mero comprador de brigas, ou um encrenqueiro entediado com sua vida de milionário. Waters tem convicção e tem bagagem intelectual e cultural para sustentar suas posições .

Mesmo quando é impertinente por conta da sua insistência se faz ouvir. Sua cruzada pelo boicote cultural a Israel lhe valeu diversos desafetos que, no entanto, normalmente têm dificuldades de rebater os argumentos do músico octogenário.

Politizados e considerados intelectualizados, Gilberto Gil e Caetano Veloso foram educadamente abordados em mensagem pública de Waters por conta de shows que fariam em Israel anos atrás.veste udois shows na Alemanha cancelados neste ano. Uma das passagens de seu show, em que 

Sua luta mais recente é para demolir os idiotas que o chamam de "antissemita" por criticar o tratamento desumano e opressivo dispensado aos palestinos desde sempre. Por conta disso, teve dois shows cancelados na Alemanha - e ameaças de cancelamentos pelo mundo.

A burrice - e oportunismo - da "oposição", além de nojentos, são absurdos também quando o acusam de ser nazista. Em seus shows, há décadas, há uma passagem em que se veste de ditador fascista com uma farda inspirada nas tropas SS de Adolf Hitler, o ditador nazista. Faz parte da obra "The Wall" (1979), do Pink Floyd, uma obra antifascista que critica pesadamente o totalitarismo e todo o tipo de ditadura. 

Se coragem é quase tudo, então temos em Roger Waters o grande gladiador do rock, aquele que compra todas as brigas e não foge de nenhuma luta e que pouco se incomoda com a fama de chato, insolente e impertinente. Ele pode ser dar ao luxo, justificando os versos daquela música banca do Barão Vermelho, "Pense e Dance": "Saudações Para Quem Tem Coragem!!!!"

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