Marcelo Moreira
O primeiro disco foi uma carta de intenções, que abriu as portas a pontapés para que o segundo consolidasse a dominação, ainda que ajustes precisassem ser feitos para ter o mundo a seus pés. E então o Iron Maiden partiu para a consagração.
"Killers", o segundo disco, lançado em 1981, consolidou aquilo que se chamou de "New Wave of British Heavy Metal", o novo heavy metal britânico, que demoliu de vez o punk rock, confrontou a new wave e colocou a música pesada no topo das paradas.
"Iron Maiden", a estreia, ocorrido no ano anterior, colocou as cartas na mesa. O heavy se tornava a voz e o veículo de protesto dos jovens dos anos 80, sempre movidos a guitarras altas e distorcidas. Era um novo padrão de violência sonora.
Em meio a problemas internos e a um sucesso rápido e muito veloz, a banda não perdia tempo e registrou com urgência a nova safra de músicas, que pareciam soar melhores e mais bem acabadas do que as do primeiro álbum.
Era mais metal do punk, os temas tinham mais conteúdo e o instrumental estava redondo, demonstrando um entrosamento melhor e uma gana danada de chutar ainda mais portas.
A gravação final, poderosa e barulhenta, não deixava transparecer os graves problemas de relacionamento envolvendo o vocalista Paul Di'Anno, um delinquente de subúrbio, descendente de italianos e punk até a medula óssea.
"Eu nunca foi heavy ou rocker tradicional. Naqueles tempos, um jovem pobre e revoltado como eu só poderia ser punk. Nunca gostei muito de heavy metal tal como era. Não sei como, mas meu vocal punk e rasgado funcionou bem no Irom Maiden por um tempo, talvez por necessidade", disse o cantor a este jornalista em 2009, antes mesmo da existência do Combate Rock.
Di'Anno era o cara certo na hora certo, mesmo pelos motivos errados. Não era o cantor dos sonhos de Steve Harris, o baixista chefão do Iron Maiden. Não tinha extensão vocal, não tinha o gogó vigoroso e sua postura de palco era diferente. Mas não é que coisa encaixou bem?
Com o tempo, o punk aflorou na personalidade de Di'Anno, que demorou a perceber que a banda estava crescendo e se tornando profissional. Com isso, as atitudes juvenis punks tinham de ceder lugar para um amadurecimento rápido para enfrentar o moedor de carne do show biz.
Os excessos com bebidas e drogas só pioraram as coisas, culminando em verdadeira animosidade com Harris, o que determinou logo a sua defenestração da banda. Eram constantes os conflitos,ao mesmo tempo em que a performance do cantor no palco perdia o vigor.
A demissão ocorreu não muito tempo depois do lançamento de "Killers", um álbum do qual ele diz não curtir muito. "O primeiro do Iron era mais a minha cara, mais cru, mais urgente e mais intenso. 'Killers' já soa mais elaborado, com arranjos diferentes, já incorporando as ideias musicais de Steve Harris e Martin Birch,o produtor. Não me senti confortável e isso acirrou os conflitos com todos", revelou Di'Anno em entrevista ao jornalista brasileiro Bento Araújo, da revista Poeira Zine.
Em muitos aspectos, "Killers" é uma continuação/evolução do álbum de estreia. Se a marca punk da velocidade e contundência permanecem, é perceptível uma evolução em todos os sentidos.
"Innocent Exile", "Purgatory", "Another Life" e "Genghis Khan" são amostras de um metal incipiente, mas com as guitarras predominantes e um baixo que rege o ritmo de forma marcial e retumbante,e acrescentando um molho diferente ao que se conhecia como rock pesado na época.
"Twilight Zone", a majestosa "Drifter" e o hit "Wrathchild", por sua vez, impulsionam a banda para um mundo novo e, aparentemente, inexplorado, com uma mistura bem dosada de peso e melodia. Nenhuma outra banda conseguiu assumir a linha de frente de forma tão definitiva no metal oitentista, e "Killers" é um grande exemplo disso.
É claro que ninguém imaginava a explosão metaleira que viria a seguir, com o gigantesco "Number of the Beast", de 1982, tendo como vocalista Bruce Dickinson. Entretanto, é claro que "Killers" serviu como base inconteste da ascensão do grupo inglês como o nome mais proeminente do heavy metal a partir de então.
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