domingo, 14 de fevereiro de 2021

Podemos viver sem carnaval, sem bares e sem shows, mas sempre com algum tipo de música

 Marcelo Moreira



É inimaginável, mas o Carnaval se tornou uma das datas mais cobiçadas do calendário roqueiro brasileiro há pelo menos uma década. Como antídoto aos quatro dias de folia e samba e outros ritmos, os roqueiros perceberam que era possível cair no peso das guitarras em plena época de festas profanas

E então proliferaram os carnarocks e carna metais em diversas cidades brasileiras, com muito peso peara espantar o fantasma dos pagodes e axés execráveis desta época do ano.

São famosos os diversos carnarocks na cidade de São Paulo e também em Belo Horizonte, para não dizer do psycho carnival anual de Curitiba, com muito barulho e psychobilly. Não há forma melhor de combater os excessos, a falta de educação e de limites de todo mundo com o que de melhor o rock puder oferecer e incomodar.aninha

E quem diria que os roqueiros também reclamariam do 2021 sem carnaval... Um ano para ser lembrado para sempre, como aquele em que a pandemia acabou com tudo e que deveria ter enclausurado as pessoas em casa.

E quem diria que os roqueiros reclamariam da falta de carnaval, época em que descobriram que poderiam se apresentar em shows legais e ganhar uma graninha...

Lamentavelmente, descobrimos, da pior forma possível, que podemos viver sem carnaval, sem shows em estádios e em casas noturnas e sem qualquer tipo de espetáculo.

Descobrimos que não precisamos de bares e restaurantes, e que um simples vírus pode virar um planeta de cabeça para baixo.

Em algum momento os fascistas vão usar esse tipo de coisa contra nós. Mas a questão primordial neste momento é outra: como convencer nós mesmos de que a arte e os espetáculos são importantes, a ponto de serem indispensáveis e profundamente necessários?

Se a vida sem música é um erro, como sempre vaticinou o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, como fazer que isso se torne realidade em um momento em que, com toda a razão, lockdowns são cada vez mais necessários, com ampliação do isolamento social?

Ninguém aguenta mais o distanciamento? Perguntemos então aos parentes dos mais de 240 mil mortos por covid-19 o que eles acham a respeito das queixas sobre falta de entretenimento e espetáculos...

Não ignoremos as consequências econômicas trágicas e profundas da pandemia, mas também não deixemos nos paralisar e anestesiar pelos "números" a respeito da própria pandemia. 

Se for necessário, que nunca mais tenhamos carnaval em prol da vida; que nunca mais possamos ir a um boteco ou a um show se o preço for a manutenção da vida. 

Aprendemos que podemos nos virar sem essas coisas, e que podemos recriar a vida de outras formas, com adaptação e reinvenção. Pode não ser bacana nem desejável, mas é o possível, então que assim seja. 

Que estejamos vivos para saborear esse novo futuro, com muita música, seja do jeito que for, e onde for, mas desde que a vida seja a prioridade.

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