Marcelo Moreira
Marilyn Manson (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Alguém acusa, mas não pode provar. No entanto, o acusado não pode se defender por conta da extrema exposição, com o evidente julgamento sumário da opinião pública.
Desde sempre foi assim, na maioria das atividades e ambientes humanos. Entretanto, é no século XXI que se convencionou chamar de "cultura do cancelamento" o que, na verdade, são verdadeiras aberrações jurídicas.
A vítima da vez é Marilyn Manson, cantor que surgiu com estardalhaço fazendo rock pesado misturado com som industrial e que se tornou o artista que todos amavam odiar nos anos 90, supostamente perigoso e supostamente rebelde.
Com seu som derivativo e nem um pouco original, surpreendeu ao se manter por tempo demais em evidência, lançando uma ou outra música razoável ao longo de 25 anos.
Manson foi alvo de comentários afrontosos e acusações de assédio moral pesado por uma ex-namorada, a atriz Evan Rachel Wood, que despontou nos anos 2000 como uma promessa do cinema americano, mas acabou preferindo mergulhar no underground e viver uma "vida loka".
Namorou Manson entre 2006 e 2010 e só agora, dez anos depois, resolveu abrir a boca e soltar vários impropérios e dizer que "sofreu horrores" nas mãos do cantor, tanto física como psicologicamente. Um músico desconhecido, pegando carona e de forma oportunista, também declarou que Marilyn Manson é uma pessoa "muito má".
O que seria apenas mais uma fofoca envolvendo celebridades americanas ganhou ares dramáticos a partir do momento em que Manson perdeu contratos com patrocinadores e gravadoras por conta das "acusações", ou melhor, por conta da repercussão negativa na imprensa e nas redes sociais.
Parece que a polêmica vale mais neste caso, e a palavra da moça teve mais peso do que qualquer defesa do cantor, sem que houvesse qualquer tipo de investigação.
Não se trata aqui de entrar no mérito da questão - Manson está sendo injustiçado ou é um vilão dos mais odiosos? A questão é que o cancelamento não lhe deu a mínima chance de defesa, como ocorreu em diversas circunstâncias em variados países e segmentos profissionais.
O megaprodutor de cinema americano Harvey Weinstein foi alvo de mais de uma centena de acusações ade assédio moral e sexual. Acabou admitindo a culpa em algumas delas, mas certamente não seria o culpado em muitas outras - como alguém poderia provar um assédio moral 30 ou 40 anos depois? Como não desconfiar ter sido vítima, em alguns casos, de mera vingança pessoal?
O caso Marilyn Manson é um caso típico onde a verdade pode estar nos detalhes, ou simplesmente na mente doentia de quem acusa dez anos depois. No entanto, as consequências, como em casos semelhantes, são drásticas e danosas a reputações diversas - e quase sempre sem provas, baseadas em meras ilações.
E assim, um cânone do direito ocidental, que é o "em dúvida, sempre a favor do réu", cai por terra, onde a acusação acaba ganham do ares de sentença definitiva. Provas? Para que provas?
Novamente, não se trata de desqualificar as acusações ou de minimizá-las, mas estamos vendo precedentes perigosos, em diversos casos nos últimos anos, onde a presunção da inocência está sendo ignorada. Foram poucos os que pararam para analisar: será que Manson não está sendo vítima de uma ex-namorada ressentida? Será que essa dúvida sequer passou pela cabeça da maioria?
Seja qual for a verdade, a "opinião pública" e os tribunais das redes sociais já sentenciaram o cantor como predador sexual, como torturador psicológico e outras coisas bacanas do tipo. Bastaram apenas algumas declarações de supostos fatos ocorridos dez anos depois.
Não sei se a moça fala a verdade ou se Manson está sendo injustiçado. É cedo demais para qualquer conclusão. O que precisa ser mais debatido e analisado são as consequências imediatas, e sem volta, dessa tal cultura do cancelamento, que na verdade é a cultura do veredicto sem julgamento.
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