terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Com peso avassalador, Nervosa reconstrói sua trajetória em 'Perpetual Chaos'

 Marcelo Moreira



Das cinzas ao excepcional em pouco mais de seis meses, tendo como pano e fundo a pior pandemia mundial em cem anos. E então a banda Nervosa, agora um quarteto internacional, ressurge com um impressionante álbum que deixou os críticos misóginos arrasados...

"Perpetual Chaos", o prometido CD, é uma produção esmerada e de muita qualidade para um conjunto de canções compostas a toque de caixa por musicistas que nunca tinham se visto, muito menos tocado juntas.

É thrash ou death metal? Não faz diferença. É puo metal extremo gravado na Espanha e com gravações de clipes feitas na Itália. Se a total internacionalização da Nervosa dependia de mudanças radicais, então elas vieram com tudo.

A surpresa foi grande quando a vocalista e baixista Fernanda Lira anunciou que estava saindo do grupo em meados do ano passado assim que ficou definido o cancelamento de todos os shows a partir de julho. No dia seguinte, a baterista Luna Dametto também anunciou a sua saída. 

As duas alegaram uma série de divergência com a guitarrista Prika Amaral e logo transformaram o projeto paralelo, Crypta, de death metal, em banda principal.

De forma serena, Prika informou que a implosão daquela formação não foi uma completa surpresa e que imediatamente reformaria a Nervosa. Só que tudo foi rápido demais. 

Com a ajuda de pessoas muito influentes no metal mundial, a Nervosa deixou de ser uma banda brasileira. Prika Amaral ainda está à frente, mas agora o quarteto tem a cantora espanhola Diva Satanica, a baixista italiana Mia Wallace e a baterista grega Eleni Nota.

Escolhidas as novas integrantes, a banda mudou a sua "sede", de forma temporária, para Málaga, na Espanha, onde todas se juntaram pela primeira vez e passaram quase dois meses enfurnadas em estúdio gravando "Perpetual Chaos".

São 13 músicas pesadas e destruidoras, possivelmente um trabalho que seja o mais desafiador e melhor da carreira de Prika Amaral.

Com a mudança de DNA, fica difícil, em um primeiro momento, comparar as duas fases da banda Nervosa. Qual das formações é a melhor?

Se ainda é cedo para um veredicto, é possível notar diferenças. É metal extremo, mas ainda guarda resquícios de um passado ao heavy tradicional e mesmo ao rock and roll. 

Da esq. para a dir., a nova Nevosa: MIa Wallace, Eleni Dota, Diva Satanica e Prika Amaral (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A bateria parece estar mais solta, mais quebrada, menos padronizada, enquanto o baixo explora mais possibilidades, já que a banda tem uma vocalista que não precisa cantar e tocar o mesmo tempo. 

O som continua bem orgânico, como sempre, mas a adição de um pouco mais de melodia dá um molho diferente, assim como o vocal mais flexível e variado. 

"Under Ruins" foi o primeiro single/clipe divulgado e mostrou todas as fichas na aposta que a Nervosa está fazendo em sua nova fase. Quase é possível dizer que é uma outra banda.

Com novos ares, a guitarra de Prika parece que absorveu toda a atmosfera de recomeço e deu um salto em termos de timbres e de desempenho. Com novos desafios, os timbres ficaram mais bem definidos em canções mais versáteis, como "Perpetual Chaos" e "Guided by Evil".

A espanhola Diva, que também canta na banda Bloodhunter, talvez tenha se mostrado excessivamente empolgada com essa fase de sua carreira - e isso não é ruim. Ela e Mia brilham em "Kings of Domination" e "Time to Fight", ue são muito agressivas e rápidas.

Prika domina todas as ações nas ótimas "People of the Abyss" e "Goddess Prisoner", desenvolvendo mais o seu estilo de palhetadas violentas e mão esquerda versátil e veloz.

"Perpetual Chaos" é um presente para o começo de 2021. Embora apressado, é um CD bem orgânico e bastante interessante, apontando para um futuro grandioso e totalmente internacional a partir de agora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário