Assim como o inferno está cheio de boas intenções e bem intencionados - se é que existe algum tipo de inferno -, o rock sempre teve e terá algum "salvador' para tirá-lo de um suposto ostracismo. Por isso é que muitos afoitos estão muito otimistas com uma geração de adolescentes que parecem indicar um caminho bastante promissor desde o ano passado.
Seja como for, essa "salvação" passa longe dos reality shows que tentam transformar música em competição - bem, nem tão long assim, mas enfim... Os verdadeiros talentos não estão confinados em estúdio e em versões de um minuto de clássicos.
A busca por talentos infantis e adolescentes pode estar na festa junina da paróquia, do colégio do bairro de periferia, na Igreja Batista ou mesmo em uma escolinha de música perdida nas bordas das maiores cidades.
Aos 16 anos, três garotas mostram que há bom futuro na música brasileira, com talentos que brotam fora dos holofotes e enfrentando a oposição de um governo nefasto que odeia a arte e o conhecimento e driblando condições inóspitas e dinheiro de menos.
Ciça Moreira se sente à vontade no rock desde garotinha. Tem uma voz forte e um estilo bem definido para o segundo álbum da carreira - sim, já está no segundo disco.
Em rápida entrevista que deu ao site Wikimetal, em 2022, diz que suas inspirações passam por Evanescence, Korn e Bring Me The Horizon, embora esse peso todo de um rock mais moderno não se materialize totalmente nas suas canções de acento mais pop.
Apaixonada por música desde os seis anos, quando começou a tocar violão, subiu pela primeira vez no palco como vocalista de uma banda de rock aos 12 anos, em uma precocidade que surpreendeu os pais e colegas da mesma idade.
Encantada por algumas possibilidades oferecidas pelos famigerados reality shows, Ciça Moreira foi aprovada no programa de talentos "Canta Comigo Teen", da TV Record, em 2020.
Encantada por algumas possibilidades oferecidas pelos famigerados reality shows, Ciça Moreira foi aprovada no programa de talentos "Canta Comigo Teen", da TV Record, em 2020.
Já que encarou a possibilidade de cantar na TV tão cedo, mostrou personalidade ao dizer a motivação que a fez enfrentar as câmeras e os jurados. "Quero mostrar aos jurados que o rock não morreu e que vai voltar com a força que tinha antigamente", disse em rede nacional antes de apresentar uma versão pesada de "Bad Romance", da Lady Gaga.
Antes que a escolhamos como a salvação do rock, precisamos ter cuidado com a mocinha, como em relação a qualquer jovem que desponte nos esportes. Ciça tem todas as credenciais e está sendo bem gerenciada, mas o rock é apenas uma das possibilidades que está explorando.
Transitando entre o pop e o rock, em um clima de "Malhação", as canções do primeiro disco, "No Meio do Caos", ainda refletem a fase em que está inserida. As músicas são adequadas para a faixa de idade dela e não são pesadas, apesar de coisas diferentes terem sido gravadas, como a interessante "Não Vou Voltar" e dramática "Me Diga".
O segundo disco, em gravação, terá participações especiais de gente boa, como Bruno Sutter (Massacration e carreira solo), Ivan Sader (da banda Tren) e os integrantes da banda Leela.
"Conflitos" pretende seguir o direcionamento do primeiro disco, flertando ora com o pop, ora com um som mais pesado, como em "Fobia", com seu tema denso e mais soturno.
"Conflitos" pretende seguir o direcionamento do primeiro disco, flertando ora com o pop, ora com um som mais pesado, como em "Fobia", com seu tema denso e mais soturno.
Outro single já divulgado é a animadinha "Aluga-se", mais acessível. O álbum ainda não tem data para ser lançado. Com a luxuosa ajuda do cantor Badauí, do CPM22, Ciça regravou algumas canções no forato acústico e as publicou no YouTybe.
Da Bahia apareceu Cacá Magalhães, uma sensação descoberta via YouTube. Seus vídeos cantando em festivais de música a céu aberto pelo interior do Estado chamaram a atenção porque ela arrasou em uma interpretação emocionante de uma canção de Nina Simone, a diva negra do jazz e do blues.
Foram interpretações de peças de blues e rhythm and blues que proporcionaram uma experiência inusitada - a participação em um programa de TV americano, o "Little Big Shots", da NBC TV. Muita gene descobriu ali sua paixão por Nina, Aretha Franklin, B.B. King, Amy Winehouse, Janis Joplin....
"Poeira de Estrelas", seu primeiro single, de 2020, tem pitadas de muitas dessas influências, absorvidas diretamente do avô apaixonado por blues e jazz.
Encantada com esse mundo, teve as maiores facilidades proporcionadas pelos pais, uma advogada e um administrador de empresas, que perceberam logo talento vocal da garota. Por mais que os pais pregasse calma e paciência, ficou difícil segurar a menina, que cantou por um tempo com a banda Terráquea, formada por adultos.
"Poeira de Estrelas" é uma canção bem diferente de seu mundo, mas revela algo que ela mesma escancara: o gosto pelo rock nacional e pelo trabalho de Cássia Eller, morta em 2001.
"Eu gosto de cantar algo que toca, que inspira", diz Cacá em entrevista ao jornal A Gazeta, de Vitória (ES). "Seja algo triste, sobe amor, quero se seja sempre uma coisa forte."
O primeiro single tem letra escrita pela melhor amiga, a irmã Maria Julia, colaboradora para todas as horas. Em algumas horas, numa madrugada, fiz alguns acordes no violão e ela imediatamente fez a letra. Assim nasceu 'Poeira de Estrelas'", disse a menina na entrevista.
Neste ano, mais madura e com a voz melhor definida, ela lançou dis singles em formato blues/MPB com forte influência de Cássia Eller. O canto está mais potente, e a interpretação mais teatral e definida, mostrando ainda mais qualidades.
"Só Sinto" e uma balada romântica intimista que lembra um pouco Ana Carolina, em interpretação delicada e intensa, ao mesmo tempo. "Para Que Não Se Repita" já é um blues de alto calibre, em que o timbre de voz mais grave se aproxima do de Zélia Duncan. No clipe e na canção, impressionam o domínio da voz e a qualidade da interpretação.
Ela está pisando com menos força no acelerador do que a paulista Ciça Moreira. Saboreia a fama precoce mas evita o tumulto da vida artística. A pandemia de covid-19 parou tudo, o que a obrigou a repensar a carreira, por mais que sinta saudade dos palcos. Já está preparando novas canções, que devem estar em um álbum ainda sem datada para ser gravado.
Ana Clara Mafra é outra menina que desponta com força, desta vez na área do metal. Apadrinhada por uma série de músicos de renome, demonstra aos 16 anos uma maturidade fora do comum e coragem por enveredar por um subgênero ainda muito preconceituoso e machista.
Bastante afinada, embora com a voz pedindo por uma definição, ou seja, ainda está em fase de "crescimento", apresenta suas qualidades em vídeos com várias versões de clássicos do pop e do rock pesado.
"Prayer For an Angel", seu principal cartão de visitas, é um power metal bem feito, embora não valorize os poderosos vocais da moça, que se mostra reverente demais e sem a força que canção exige.
Nas versões que costuma gravar, privilegia canções icônicas de bandas como Queen e Scorpions, além de ter feito uma excelente interpretação em "The Sounds of Silence", clássico de Simon & Garfunkel. Contratada da gravadora paulista Metal Relics, está bem assessorada e no caminho certo,
Por fim, teos a cantora Iara Almeida, de 15 anos, que foi finalista do programa Canta Comigo Teen 4, acaba de lançar faixa e videoclipe do single “Everyday”. Segundo a cantora, a música “fala sobre amizades tóxicas e pessoas inseguras que projetam suas frustrações em nós”, explicou.
Segunda composição na carreira de Iara Almeida, “Everyday” foi produzida por Bruno Luiz e conta com participação de Luigi Paraventi (bateria).
Em uma das eliminatórias de reality show, Iara conseguiu classificação para a final do programa Canta Comigo Teen 4, da Record TV, ao cantar “Separate Ways”, do Journey, e “Sweet Child O’ Mine”, do Guns N’ Roses. Assim como Ana Clara e Ciça Moreira, tem o rock no sangue e uma força de vontade fenomenal, além de talento nato.
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