sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Como um fracassado especial de TV dos Rolling Stones foi crucial para o surgimento do heavy metal

 A decisão já estava tomada quando aquele guitarrista canhoto com cara de bandoleiro mexicano de filme ruim subiu ao palco para gravar um especial de TV. Fazia dez dias que ele tinha sido aprovado para tocar na banda iniciante em ascensão, mas dez dias depois estaria fora, de volta a sua cidade.

Ao contrário dos companheiros de Jethro Tull, Tony Iommi não se impressionou em estar rodeado de astros muito importantes do rock: todos os Rolling Stones, todo os Who, o ídolo Eric Clapton, John Lennon... Para ele, aquilo parecia um circo, e no pior dos sentidos. Não queria estar ali no meio do vaidades.

Nos dias 10 e 11 de dezembro de 1968, os Rolling Stones gravaram um especial de TV a ser exibido o Natal chamado "Rock and Roll Circus" com muitos amigos. Queriam emular o circo do rock, nos moldes do criticado "Magical Mystery Tour", dos Beatles, com direção de Paul McCartney, exibido no Natal do ano anterior. Foi o primeiro desastre de um empreendimento com a marca Beatles já que, sob qualquer ponto de vista, era muito fraco.

Além do citados, também apareceram Mitch Mitchell (Jimi Hendrix Experience), Taj Mahal, Marianne Faithfull (então namorada de Mick Jagger), Yoko Ono e, como concessão aos artistas iniciantes do blues Jethro Tull.

O especial acabou sendo vetado depois de pronto porque os Stones não gostaram de sua participação como atores e músicos - estavam enferrujados, pois faia dois anos que não se apresentavam ao vivo. 

O fracassado especial de TV entrou para a história por conta do elenco estelar e também porque, inadvertidamente e sem intenção, deu o pontap´para o surgimento do heavy metal.

Decisão reforçada

Tony Iommi tinha e cansado de ser metalúrgico em Birmingham em tocar em uma banda de pub chamada Earth com amigos de escola e de pileque. Recebeu dicas de que uma banda iniciante estava procurando um guitarrista com urgência que tivesse um conhecimento grande de blues.

Em Londres, fez o teste e rapidamente foi aprovado para tocar no Jethro Tull, banda de folk blues liderada por um escocês excêntrico um ano mais velho do que Iommi. 

Metódico, sistemático e profissional, Anderson era o líder incontestável e linha dura, administrando com bastante rigor, motivos que fizeram o então amigo Mick Abrahams, ótimo músico, a deixar o grupo.

De imediato Iommi detestou o ambiente e o esquema "profissional". Faltava alma, camaradagem e solidariedade para aguentar a então pesada agenda de trabalho com remuneração parca. 

A participação no "Rock and Roll Circus" era um reconhecimento da qualidade do trabalho e garantiria ótima visibilidade, mas que não se traduziria, necessariamente, em melhorias financeiras e mudanças de posturas e comportamentos.

Ao final da gravação de "Song for Jeffrey", Iommi viu reforçada a ideia se sair. Era o seu décimo dia de banda, e ficaria mais dez dias até pegar o trem e voltar pra Birmingham e para o Earth, para a alegria de John "Ozzy" Osbourne, Terrence "Geezer" Butler e Bill Ward. Juntos, no final do ao seguinte,

Já como Black Sabbath, iniciariam uma trajetória profissional de verdade, que culminaria em fevereiro de 1970 com o primeiro álbum gravado e lançado, considerado até hoje o marco zero do heavy metal. 

Os Rolling Stones nunca souberam (e não dariam a mínima para isso, se soubessem) que o especial de TV natalino seria um marco histórico para a criação do heavy metal ao proporcionarem o ambiente propício para a decisão de Iommi, que culminaria na retomada do que viria a ser o Black Sabbath e a criação do som pesadíssimo que originaria o heavy metal.

Todo mundo ganhou

Ian Anderson sempre admitiu que estar no Jethro Tull nunca foi fácil e que sua ética de trabalho incomodava músicos que queriam curtir a vida e o esquema "sexo, drogas & rock and É célebre a entrevista em que comentou que não suportava a ideia de estar em Montecarlo (Mônaco) para trabalhar e ver muita gente na praia se esbaldando, nosol, numa tarde de terça-feira - inclusive algns de seus músicos.

Quem topava o ritmo "profissional" e espartano colhia os frutos, como o substituto de Iommi, o ótimo Martin Barre, que ficou 40 anos no Jethro Tull.

Tecnicamente, Barre era mais técnico e habilidoso que Iommi, com um estilo jazzístico limpo e solos que remetiam a Wes Montgomey e Joe Pass, nomes gigantes do jazz. Conseguia traduzir com perfeição a música complexa que estava na cabeça de Anderson, um bom flautista e um violonista apenas esforçado. 

Tony Iommi vislumbrava o que viria a ser o Black Sabbath como uma banda de blues pesado, como o Cram de seu admirado Eric Clapton ou o trio explosivo Jimi Hendrix Experience. Seria ainda mais pesado do que viria a ser The Who a partir de 1969.

A decisão do guitarrista bigodudo e de chapéu foi boa para todo mundo: o Jethro Tull agregou um guitarrista ótimo que moldou o som folk-blues-progressivo; e o resto do mundo, que ganhou um novo "gênero musical" com a guitarra pesada e explosiva de Iommi e o baixo gigante de Geezer Butler. Devemos, também por isso, agradecer aos Rolling Stones.

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