domingo, 6 de agosto de 2023

Patrulhamento ideológico nas escolas evoca os piores temores autoritários

 Em uma pérola subestimada do cinema americano, a cultura é a principal personagem, vilipendiada e destroçada por um regime fascista desumano e que fazia a elegia da ignorância, á semelhança do bolsonarismo nefasto.

"Swing Kids" (Os Últimos Rebeldes, de 1993, com direção de Thomas Carter) era estrelado por Robert Sean Leonard e Christian Bale (um dos Batmans) e eram ambientado em Berlim de medos dos anos 30 do século passado.

Em pleno nazismo em ascensão, um grupo de jovens afrontava a lei e ouvia em casa e em clubes clandestinos a mais subversiva música da época, o jazz americano, severamente perseguido e proibido. Se fossem pegos, os infratores estavam sujeitos à prisão e ao desterro em unidades do exército prontas para entrar em guerra. Com frequência, morriam na prisão.

Praticamente obrigados a se filiar à Juventude Hitlerista, o grupo de amantes do jazz desprezava Hitler e os nazistas e faziam questão de curtir a arte enquanto podiam - além da necessária solidariedade e apoio aos músicos judeus, eruditos e populares.

Uma das passagens mais angustiantes do filme ´quando, na escola (equivalente ao ensino médio), fiscais do Ministério da Propaganda passavam aleatoriamente, de surpresa, nas salas de aula para "averiguar" o conteúdo ministrado. 

Já o Ministério da Educação, mais sutil, preferia infiltrar nas salas de aula espiões pagos ou simplesmente estudantes fanáticos que faziam "relatórios" para identificar subversivos. na da mais fascista e totalitário o que isso...

E não é que, 30 anos depois do filme e quase 90 da época da ascensão do nazismo um Estado da federação brasileira sugere algo parecido?

O governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo, aquele que quer banir os livros das escolas, que tem pouco apreço por bibliotecas e que não consegue explicar como a sua Polícia Militar mata 16 pessoas em uma operação na Baixada Santista, quer implantar na surdina uma espécie de escola sem partido, a ideologia nojenta e burra pregada pela direita e extrema-direita.

Segundo uma "determinação" que virou "sugestão" diante da má repercussão, todos os diretores de escolas estaduais no território paulista devem, duas vezes por semana, a assistir a várias aulas em seus estabelecimentos e produzir relatórios de "avaliação" sobre o "andamento, teor e qualidade" das aulas .

Para combater a "suposta" doutrinação" ideológica, eis que temos então o "patrulhamento ideológico", de preferência com intimidação e aplicação de "diretrizes" tão caras á direita e à extrema-direita.

Portaria que obriga a prática foi divulgada no dia 28 de julho no Diário Oficial. Texto fala em 'integrar a escola' e 'aproximar a gestão escolar e a prática pedagógica'. Na cidade de SP, são 1.485 escolas estaduais, com mais de 68 mil professores. Em todo o estado, número sobe pra 5.621 escolas e 219 mil docentes.

Duas vezes por semana os diretores vão ter que assistir às aulas ministradas nas escolas estaduais e preencher um relatório sobre os professores semanalmente. Após ser preenchido, o professor também terá que assinar o documento.

Os diretores vão avaliar, por exemplo, a interação dos estudantes com as atividades, a gestão do tempo, os recursos utilizados e o clima entre professor e alunos na sala, apontando os pontos positivos, os que podem ser melhorados e também os "combinados e próximos passos".

É claro que os professores e diretores se insurgiram contra a determinação, mais uma extrema idiotice de um governador irresponsável e incompetente. 

De cara os docentes já afirmam que executar a bobagem seria difícil, pois os diretores têm muito mais o que fazer. Em segundo lugar, trata-se do desvirtuamento da função de diretor de escola, que precisar dar apoio e suporte ao professor, e não vigiá-lo e intimidá-lo.

A a professora especialista em gestão da educação Márcia Jacomini, oucida pelo portal G1, avalia essa medida. foi direto ao ponto: "Na minha compreensão, o objetivo dessa portaria é realmente uma medida coercitiva e de vigilância. Coercitiva no sentido de dizer: 'professor, nós vamos verificar se você está desenvolvendo na sala de aula aquilo que a secretaria está determinando'."

Se os professores primeiro usaram a ironia e o sarcasmo para tratar da orientação do governo estadual, agora decidiram subir o tom a ponto de, ainda que sub-repticiamente, sugerirem o boicote a tal coisa, ou simplesmente ignorá-la.

Diante de ais uma medida estapafúrdia de um governo perdido e incompetente, e da forte repercussão contrária, a Secretaria de Educação de São Paulo, aparentemente, deu uma freada na implantação da medida. Ainda não houve recuo, mas, nos bastidores da política paulista, ele é dado como certo.

Com a precariedade do material didático - que poderá ser extinto -, do sinal de internet na maioria das escolas e das instalações físicas, é um escândalo um governador sem noção e preocupar com uma "suposta" ideologização das aulas e "determinar" um patrulhamento para que o viés seja outro - conservador, emburrecedor e de cunho fascista. 

Dentro da política de intimidação e açodamento, o próximo passo do patrulhamento será proibir o jazz, o blues, o rock, o rap, o hip hop, o samba de protesto, bem ao estilo da "juventude oficial" pregada no filme "Os Últimos Rebeldes".




https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/08/04/governo-de-sp-determina-que-diretores-de-escolas-acompanhem-professores-nas-salas-e-facam-relatorios-semanais.ghtml

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