segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Bruce Dickinson, 65 anos: a voz do Iron Maiden continua celebrando a boa vida

O cantor inglês Bruce Dickinson nasceu em um meio onde os mineiros das áreas de carvão eram o esteio da economia e que ensinaram que nada é mais nobre do que a luta pela liberdade e pela justiça – ainda que possam ser compradas. Até hoje ele faz questão de seguir esses preceitos.

"Born in '58" é a canção biográfica mais contundente do cantor, integrante do Iron Maiden e um dos artistas mais cultos, sarcásticos e briguentos do rock. Resume uma trajetória exuberante e ressalta a determinação de um workaholic do rock, que canta, escreve, apresenta programas de rádio, joga esgrima e pilota aviões. 

Ele completa 65 anos renovado e de bem com a vida, realizado e cada vez mais crítico e com a língua ferina. Não é absurdo dizer que, individualmente, é o nome mais importante do metal das últimas quatro décadas.

O Iron Maiden continua muito bem, com uma turnê mundial e um CD muito bom de suporte. Se a voz não tem mais a extensão de outrora, a performance no palco ainda é visceral e atlética.

Segundo escreveu em sua autobiografia, lançada no Brasil em 2017, Dickinson acertou várias contas com o passado - e sua relação com Steve Harris, baixista do Iron Maiden e líder do grupo, nunca esteve melhor. Até mesmo as tretas estão em baixa neste 2018.

O que falta então para que um músico bem-sucedido e reconhecido como um dos gênios do rock se sinta realizado? 

"Pilotar os aviões da minha própria companhia", disse de forma meio irônica aos repórteres que o acompanharam a uma viagem à cidade de São Carlos, no interior de São Paulo, onde esteve em um museu aeronáutico.

Na mesma autobiografia, que deixou um pouco a desejar, a paixão por aviões supera as informações sobre a música, em especial na segunda parte do livro. Ainda hoje faz "bico" como piloto de aviação comercial, empresas europeias. 

Ao completar seis décadas e meia de vida, ele pode ser dar ao luxo em dividir as atenções entre o heavy metal e a aviação civil. Afinal, o Iron Maiden ressuscitou com o seu retorno, em 1999, após seis anos afastado. Harris, que duvidava da motivação da volta, hoje agradece ao colega pela decisão e compreende que o inquieto músico precisa expandir os horizontes.

E só sobrou a aviação, já que não há mais tempo para os seus estimados programas de rádio, os treinos e as competições europeias de esgrima (a idade não permite mais ) e as pausas para a literatura – seus dois livros que misturam humor e romance juvenil fizeram bastante sucesso nos anos 2000. 

Tido como irascível e sarcástico, costuma ser muito educado nas entrevistas que concede de forma exclusiva. A este jornalista, em 1998, em São Paulo, fez vários comentários sobre a esgrima, sobre a falta de tempo para se dedicar mais à aviação comercial e sobre o então recente interesse pela produção de cerveja.

Tido como irascível e sarcástico, costuma ser muito educado nas entrevistas que concede de forma exclusiva. A este jornalista, em 1998, em São Paulo, fez vários comentários sobre a esgrima, sobre a falta de tempo para se dedicar mais à aviação comercial e sobre o recente interesse pela produção de cerveja.

Pouco antes de retornar ao Iron Maiden, no final de 1999, já tinha acrescentado mais uma atividade ao seu exaustivo currículo e dia a dia: o de mestre cervejeiro. Foi esta experiência que o levou a criar, anos depois, a sua própria marca de cerveja e a coordenar os lançamentos das marcas "The Trooper", sob a chancela do Iron Maiden.

Estou em um momento raro na carreira de um músico veterano", disse pouco depois de completar 40 anos de idade. "Há respeito, há trabalho, há um clima excelente para fazer arte. Como não celebrar?"

Bom contador de histórias, conseguiu, na autobiografia, tornar leve um assunto muito pesado, que foi a participação de sua banda solo em concerto beneficente e para soldados na cidade de Sarajevo, na Bósnia, em 1995.

Se pudesse escolher qual Bruce Dickinson é o melhor representante de sua personalidade, seria este: o homem culto que sabe saborear cada segundo da vida e que aproveita ao máximo para aprender sempre.

No grave conflito da Guerra dos Bálcãs, que durou de 1991 a 1996, as forças sérvias e sérvio-bósnias transformaram a república da Bósnia em um grande campo de batalha, tendo como inimigos os croata-bósnios e os muçulmanos, que eram maioria no país e se consideravam os verdadeiros bósnios.

Na arriscada iniciativa de tocar na capital do país sitiada pelos sérvios, Dickinson conta diversas passagens engraçadas e relata o sofrimento que presenciou em relação à população que carecia de alimentos e energia elétrica – e ri de ter quase morrido ao sair do caminhão da ONU (Organização das Nações Unidas) para fazer uma "selfie" (com câmera fotográfica portátil) em um tanque de guerra sérvio destruído. Por muito pouco não esteve na mira de um atirador de elite inimigo.

Os 65 anos de Bruce Dickinson são uma celebração ao heavy metal e à arte de viver bem e de forma intensa dentro de uma área em que normalmente músicos estão se arrastando rumo à decadência ou ainda correndo atrás do lucro para sustentar estruturas corroídas pela falência das gravadoras e pelas possibilidades, no momento desconhecidas, da modernidade. 

A voz do Iron Maiden continua relevante como músico e como cabeça pensante dentro do rock. Cada vez mais lúcido e bem informado, deixa claro que tem muito a dizer neste século XXI.



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