Dois expoentes do rock pesado nordestino integram o seleto grupo de gigantes musicais que celebram a diversidade brasileira em todas as áreas e em todos os quesitos.
Respeitados em todo o Brasil pela excelência de seu trabalho e sua criatividade, as bandas pernambucanas Devotos e Caravellus estão servindo de antídoto para o ódio impregnado nas entranhas do rock e do metal por aqui.
Mesmo vacinados contra o fascismo e o extremismo que ganharam forma nos quatro nos de governo nefasto do nefasto ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ainda é estarrecedor observar preconceitos e xenofobia, para não dizer racismo de autoridades públicas em altos cargos - e pior: eleitas pelo voto.
As asquerosas declarações go governador Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, acirrando a polarização política preconceituosa, mostra a extrema necessidade de a extrema-direita, em todas as suas formas, precisa ser pulverizada, extirpada, banida e eliminada.
De forma populista e eleitoreira, Zema declarou ao jornal "O Estado de . Paulo", que vai lutar para construir uma "grande frente política Sul-Sudeste", de direita, para "defender os interesses dessas regiões no Congresso e em outros foros", insinuando uma sub-representação em comparação com parlamentares nordestinos e da região Norte, "mais influentes, poderosos e próximos do governo federal".
Aplaudido por seres execráveis que há anos vomitam contra a região Nordeste e pregam a separação do Sul e Sudeste - inclusive de form maciça entre músicos de rock, muitos desses tratados como ídolos no Nordeste -, Zema acreditou que seria uma jogada inteligente para se posicionar como eventual candidato da extrema-direita a presidente em 2026, já que, por enquanto, o deplorável Bolsoonaro está inelegível.
O governador mineiro não contava com a forte reação contrária a sua declaração separatista, xenofóbiba e odiosa. Ensaiou um "fui mal interpretado", mas desistiu diante da virulência cada vez maior dos ataques e manifestações de repulsa.
Todo mundo entendeu perfeitamente o que ele quis dizer, principalmente seus apoiadores e eleitores, seres que estão no lado mais obscuro da existência humana - para não dizer nas piores das fossas da humanidade. Zema viu sua popularidade no mundo virtual desabar, causando pânico no seu entorno político.
AS reações foram imediatas e, no meio artístico, começaram nas áreas progressistas da música, com apreciadores de rock imediatamente resgatando os trabalhos de Caravellus e Devotos ressaltando a cultura nordestina e, ao mesmo tempo, a celebração da nacionalidade brasileira - tudo em contraposição ás declarações lamentáveis do lamentável governador mineiro.
"Inter Mundos", o ótimo e mais recente trabalho do Caravellus, é conceitual, com alegorias e fantasias sobre um mundo mágico de inspiração nordestina, mas em completa simbiose com a realidade, exaltando a brasilidade, ainda que tenha boa doses de senso crítico.
O trabalho esta banda tem um caráter mais pedagógico, de entendimento e compreensão, tanto que uma das inspirações é o escrito e intelectual nordestino Ariano Suassuna, um homem que procurou explicar o Brasil do ponto de vista do nordestino e vice-versa - é u dos homenageados da banda.
Mais incisivo e direto, o Devotos é menos rebuscado e não hesita em encharcar o seu punk/hardcore com temas político-sociais, abusando da ironia, do sarcasmo e, muitas vezes, com um humor ácido. No entanto, a nordestinidade sempre transbordou em seus 35 ano de trajetória.
Esse é um dos pontos altos do documentário "Devotos 35 anos - Do Alto Para o Mundo", da TV Conecta Recife. Com texto bem construído e edição ágil de imagens, o trio pernambucano emerge como uma das vozes musicais mais importantes de sua geração, mostrando orgulho de suas raízes sem precisar abusar da reafirmação de sua entidade.
Isso quer dizer que a nordestinidade é um traço intrínseco de seu so ríspido e pesado, algo qu precisa ser realçando sem que seja necessário confrontar eventuais rivais regionais ou de outras regiões do país.
Como elemento indissociável de sua música, a origem nordestina é um trunfo do Devotos sem que isso se confunda com "vantagem" de qualquer natureza.
É uma característica que define o som, até certo ponto, da mesma forma que a paulistanidade do Ira! ou do Golpe o Estado, sem que isso torne essas bandas melhores ou piores por causa disso. São melhores do qe outras, assim como o Devotos, porque fazem músicas boas e melhores. O regionalismo é um detalhe importante, mas que não as define na totalidade.
Para o Devotos, o confronto é de outra natureza, se observarmos de outros pontos de vista. Não se trata de afirmação quando se fala de uma banda de 35 anos de carreira, mas de reforçar um aspecto de resistência e de demolição de muros e barreiras.
Neste caso, Devotos vai além de Caravellus porque dinamita obstáculos e soterra preconceitos. É a trilha sonora para atropelar os Zemas da vida e realçar que música boa e decente é uma arma poderosa contra o fascismo e o extremismo de direita. Como diz o vocalista Cannibal no documentário, "eu tenho pressa ´de vencer". E a vitória passa pela demolição do preconceito e do racismo.
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