União no discurso, mas avançando para a cooperação e colaboração de fato, algo que funcionou tão bem durante a pandemia de covid-19, quando todo mundo ficou trancado em casa. Essa é a proposta de uma produtora d shows de Belo Horizonte (MG) para movimentar o mercado underground de shows de rock nas principais capitais brasileiras.
Tentando retomar o espírito das collabs e lives, a BH Hell, comandada por Samuel Martins, o Samuka, anunciou um minifestival em São Paulo no dia 18 de agosto, no Fabrique, na Barra Funda, zona oeste da cidade. Estão escaladas as bandas Armiferum e Medjay, com o encerramento do Dr. Sin.
Shows com mais de uma banda ocorrem desde sempre envolvendo bandas de todos os tipos, mas o que pode apontar novos caminhos é a forma como elas se relacionam. Diante d forte concorrência, não basta apenas que um produtor organize um evento - é necessário o engajamento para que tudo funcione e todos ganhem.
"O fato de eu ser músico e tocar em banda facilita e estimula as convalor ersas e a colaboração. É uma questão de comprometimento. Para avançar e ampliar espaços temos de trabalhar juntos", disse Samuka, que também é baixista da Medjay, na entrevista coletiva das bandas participantes.
Em uma quarta-feira chuvosa no The Metal bar, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, o minifestival foi apresentado com a cerimônia necessária. Se o formato não é novidade, as bandas pretendem que a postura seja.
"Foram anos muito difíceis e a pandemia forçou a mudança de paradigmas, mudou a forma como encaramos a vida e a nossa atividade", avaliou Mayara Puertas, vocalista do Torture Squad e que fará uma participação especial no show da Medjay. "As dificuldades fizeram com que encaremos novas possibiildades e nos abramos para novas perspectivas, por mais que o isolamento tenha afetado as bandas de formas diferentes."
A empolgação contaminou os veteranos do Dr. Sin, que celebram os 30 anos de carreira. "A forma com que as novas gerações estão conduzindo a paixão pelo rock nos empurra e nos obriga dar cada vez mais valorizar o que amamos fazer", afirmou Ivan Busic, o baterista da banda.
Seu irmão, Andria Busic, baixista e vocalista, completou: "Já passamos por muita coisa neste mercado, tivemos a oportunidade de ir aos Estados Unidos e ser contratados por uma grande gravadora e hoje conseguimos, com muita luta, manter a chama acesa para deixar um legado. Desde 1985 a gente fala em união no rock e o assunto não muda. Precisamos de iniciativas que reforcem a perenidade e a resistência da nossa música."
Outro aspecto reforçado pelo baixista é a mistura de gerações e estilos que fomentam o aparecimento de bandas novas com o devido respeito profissional e artístico. "Este evento no Fabrique vai reunir três gerações de banda e artistas que simbolizam a persistência do rock e como esse gênero está impregnado em nós. Nunca será o mais popular, mas jamais será renegado."
Ivan Busic falou várias vezes em "regeneração" e "renovação", e ele se referia principalmente á presença de Ana Clara Mafra, de 16 anos, outra convidada do Medjay para o show do dia 18.
Promessa da música pop brasileira, transitando do rock nacional oitentista ao heavy metal, a cantora teen era a mais empolgada da mesa de artistas. Celebrava o convite para participar do evento e ressaltou que o rock está consolidado e forte na juventude brasileira, apesar de haver impressões distintas.
"Percebo um interesse cada vez maior na minha faixa etária, e eventos como esse ajudam muito a disseminação, por mais que digam o contrário", disse a moça. "Eu conheci a Medjay pela internet, adorei e fiz um vídeo cantando uma música deles. Meus amigos e alguns fãs gostaram e a banda tomou conhecimento. Fiquei superfeliz com contato deles e o convite."
Samuka ajudou a criar a Medjay em 2019, mas é um veterano da cena roqueira mineira. Concilia a produtora BH Hell com a sua trajetória de professor de história e músico. Acompanhou o crescimento da cena local nos anos 80 e 90 e é categórico ao afirmar que as perspectivas de mercado no rock sempre foram boas.
"Sempre observei competência e enorme vontade de fazer dar certo e isso quase sempre ocorreu e ocorre, apesar das dificuldades", reconheceu o empreendedor. "Como já foi dito, a pandemia e suas consequências tiveram consequências diversas, só que também abriu os olhos e portas para uma série de oportunidades. Considero que é uma chance que temos para resgatar os eventos de rock como circunstâncias importantes de negócio.
E, ao contrário do discurso que ainda perdura em certos ambientes, ele não demoniza aas bandas e empresários que ainda apostam na área dos "covers" - bandas especializadas em tocar versões de canções de artistas famosos, em sua grande maioria.
Para ele, é uma realidade de mercado e que teremos de conviver com essa "moda". "Dependendo do ponto de vista, as bandas covers atrapalham um pouco quando há excesso, ou seja, ocupam mais espaço do que achamos que deveriam", diz o músico.
Não tem como não detectar que isso é um sintoma de mercado onde quer que seja. "Pelo lado do empresário, donos de bares e casas de shows, é preciso pagar as contas e as bandas covers garantem uma margem de faturamento, algo que, muitas vezes, não acontece quando reunimos bandas autorais ainda sem grande penetração no mercado. por isso que a união entre bandas novas, como Armiferum e Medjay, com artistas como Angra e Dr. Sin é fundamental para disseminar e mostrar novas bandas a um público que às vezes nem percebe que necessita ouvir e saber da existência de bandas novas. Esse é o compromisso e o comprometimento que todos da cena têm de ter para que mais Anas Claras surjam cantando, tocando e curtindo o bom rock and roll."
Serviço
Dr. Sin e Medjay – Abertura: Armiferum
Data: 18 de agosto de 2023
Local: Espaço Fabrique
Endereço: R. Barra Funda, 1071 – Barra Funda, São Paulo – SP, 01152-000
Horário: 19hh00
Ingressos online: https://fansociety.com.br/dr-sin-medjay-e-armiferum-em-sp__4848/
Valores: R$ 40 (lote promocional) e R$ 60 (inteira)
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