sexta-feira, 4 de agosto de 2023

No álbum de consolidação, Crypta espanta polêmicas e faz da brutalidade uma obra de arte

 Uma polêmica costuma ser abafada por outra polêmica. ou por uma sequência de músicas boas. a banda brasileira de death metal Crypta optou pela segunda questão e e se deu muito bem. 

"Shades of Sorrow", o segundo disco da banda, foi lançado em uma sexta-feira e soterrou os memes e xingamentos á baixista  vocalista Fernanda Lira por conta de ela ter pedido ajuda financeira online para ajudar na mudança de residência - entrara na nova casa, em São Paulo, "sem nada".

Polêmica absurda e estéril, mas que mobilizou as redes antissociais em críticas movidas a ódio e uma sequência absurda de machismo e misoginia. 

A repercussão foi tamanha - o que mostra que a moça se tornou uma figura grande na música - que ela teve de pedir desculpas (pelo quê?) e anunciar que doaria o valor recebido para uma entidade assistencial.

Enquanto alguns tolos continuam a esticar o assunto, "Shades of Sorrow" apareceu para arrebentar om as paredes e explodir tímpanos. É um disco furioso, repleto de angústia e violência, mas nada de ódio. A ideia era explodir a violência sonora, mas sem selecionar alvos específicos.

Com as coisas mais assentadas e com tempo maior para compor e gravar, a Crypta mostrou competência inspiração para elaborar dez temas de boa qualidade e três vinhetas/intros que dão um tom mas conceitual a parte do álbum.

Os três singles lançados retiraram um pouco da "surpresa", adiantando como seria a obra, mas aumentou a ansiedade pela trabalho. 

"Lord of Ruins", por exemplo, a primeira amostra, surpreendeu pela violência, uma música mais bem elaborada e com arranjos de guitarra que mostram o entrosamento de Jessica di Falchi e Tainá Bergamaschi.

"Trail of Traitors" não trouxe grandes novidades. É uma composição reta e direta, com um refrão poderoso e riffs de guitarra interessantes. 

"The Other Side o Anger", no entanto, é outros história: violentíssima e recheada de riffs cativantes, mostrou o melhor vocal de Fernanda Lira desde os tempos de Nervosa, conseguindo a proeza de passar desespero e dor em toda a canção, que explode em riffs devastadores de guitarra.

Para o restante do álbum, fica a surpresa mais legal do CD, o incrível trabalho de percussão de Luana Dametto, explorando ate então áreas pouco visitadas dentro o death metal. Em pelo menos quatro introduções ela abusou da inovação e criatividade com passagens tribais e com elementos de de múia brasileira.

Precisa e com agilidade impressionante, ela cresceu em músicas como "Dark clouds", com marretadas certeiras e um jogo de tambores que mostram uma musicista muito acima da média, com o baixo de Fernanda em uma linha mais solta e "independente", misturando riffs e explorando outras possibilidades, da mesma forma como fez em "Poisonous Apathy" .

"Lullabye for the Forsaken" traz a percussão mais agressiva e diferente do disco, quase thrash metal e com boss sacadas, com ecos de Sepultura e Krisiun. "Agents fo Chaos" é puro groove, na linha de Iggor Cavalera e Ely Casagrande, enquanto o baixo apresenta um colorido diferente e instigante. É a melhor do disco, ao lado de "The Other Side of Anger"

"Stronghold" também é um destaque, ainda que soe mais "tradicional", com um riff de abertura vintage, bem anos 80, e um fenomenal trabalho de guitarras, além de interlúdios progressivos que soam asustadores.

"Echoes of the Soul", o disco de estreia, trazia uma banda em ascensão, mas ansiosa e necessitada de se apresentar ao público. "Shades of Sorrow" é o trabalho de consolidação, mas de excelente qualidade. A polêmica aqui vai ser escolher a melhor canção e a nota conceitual: é ótimo ou excelente?

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