A polícia apresenta as suas armas, e desce a lenha no lombo do povo cansado de apanhar. E assim temos uma polícia para quem precisa, na verdade, é uma polícia para quem precisa de polícia, dentro de um ambiente de Estado violência, que invade, prende tortura e mata.
Esses são temas de três músicas, duas dos Titãs - "Polícia" e "Estado Violência" -, e "Selvagem", dos Paralamas do Sucesso, todas de 1986 e mais atualíssimas 37 anos depois.
O temor de que o governo conservador de viés fascista que empesteia o Estado de São Paulo investisse contra as populações vulneráveis se confirmou com a morte de 14 moradores de uma favela no Guarujá, na Baixada Santista.
Nada de novo no fronte, já que o assassínio e vingança são armas recorrentes da Polícia Militar paulista, tal qual a PM carioca. É só um policial morrer em serviço que a vingança contra os pobres cai como um terremoto no local e imediações, vitimando em todas as vezes inocentes que tinham, como pecado, morar perto de onde o PM morreu.
As denúncias dos moradores das duas comunidades alvos da operação violenta da PM permitem suspeitar de indícios de que houve uma retaliação como vingança perpetrada por agentes de segurança do Estado. Essa é uma das linhas de investigação da Polícia Civil do Guarujá, algo que já incomoda algumas autoridades de cúpula das polícias e da adinistração estadual.
As alegações de confronto nunca se sustentam: não existe confronto quando os mortos são muitos e apenas de um lado. Os nomes disso variam: assassinato, chacina, massacre... É só escolher.
Esse comportamento vingativo, que quase sempre vitima inocentes, é o recado do Estado paralelo que tomou conta dos sistemas de segurança o país inteiro.
O alastramento da criminalidade, desejado e incentivado por grupos políticos de direita e extrema-direita, legitimariam os ataques constantes ao "crime organizado", representado pela população pore e negra, a ponto de o nefasto ex-presidente Jair Bolsonaro editar leis criminosas que estimularam a proliferação de armas e clubes de tiro.
A "operação militar" violenta que pode indicar vingança e assassinato não é algo surpreendente entre as forças de segurança paulista.
Em 2006, em um final de semana em que supostamente membros de uma facção criminosa mataram agentes de segurança para "passar um recado", mais de 500 pessoas morreram no Estado. Poucos foram os verdadeiros confrontos entre polícia e bandidos.
A maioria não passou de acertos de contas entre grupelhos rivais e de uma forma de intimidação de policiais contra comunidades "hostis" ás forças de segurança.
Nove anos depois, em agosto de 2015, 21 pessoas foram mortas aleatoriamente nas cidades de Osasco e Barueri em um ato que foi considerado de vingança pela morte de um guarda municipal e um PM das duas cidades, supostamente assassinados por traficantes de drogas daquela região da Grande São Paulo. Os responsáveis seriam agentes de segurança do Estado - policiais militares e gaurdas civis.
O inquérito identificou oito suspeitos – sete policias militares e um guarda-civil. No entanto, o Ministério Público denunciou quatro deles devido à falta de indícios sobre a participação dos demais suspeitos. - https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-08/relembre-o-caso-da-chacina-de-osasco-e-barueriPortanto, não é uma "inovação' do governo truculento e conservador do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O que choca é a postura belicosa de apoiar a ação com indícios de crimes de suas forças de segurança.
"Fiquei satisfeito com o resultado da operação", disse o governador, que é carioca e comunga da mesma cartilha de governadores lamentáveis do Estado do Rio de Janeiro, como o afastado Wilson Witzel e o atual, Cláudio Castro, este um bolsonarista que não esconde o orgulho de sua política de confronto na capital fluminense.
E então voltamos a outro clássico dos anos 80, "Rota 66 - a Polícia que Mata", livro best seller do jornalista Caco Barcellos, que elencou dúzias de casos de assassinatos e execuções cometidos pela polícia paulista. São quase 40 anos de ataques e retaliações a favelas e comunidades pobres e vulneráveis.
A trilha sonora é a de sempre, para o mesmo filme de sempre, o pior filme de terror que pode existir, e com o endosso público, pela primeira vez, de um governador.
Nem mesmo nos 28 anos de governo do PSDB (41 anos, se contarmos que os fundadores do partido eram do então PMDB que governou entre 1982 e 1994), que fez quase nada para conter a sanha violenta da polícia paulista, houve algo tão escandaloso quanto o apoio tácito, público e sonoro a uma ação violenta da polícia paulista.
Ou seja, com Freitas no poder, podemos esperar esse padrão de "operação" das forças de segurança? É mirar na cabecinha, como vomitou Witzel no Rio quando de sua campanha eleitoral e nos primeiros meses de seu governo?
Investigação, aplicação de elementos de inteligência e respeito aos direitos humanos e democráticos?
São ratados como obstáculos por uma polícia acomodada e acostumada apenas a reagir, e sempre contra os mais vulneráveis, obscurecendo o importante trabalho de bons policiais que agem corretamente e têm o respeito das comunidades onde atuam.
E, como mais uma vez podemos constatar , reage com violência desproporcional e em casos que que inspiram medo, mas também sentimentos de revolta e acusações de covardia.
A polícia mais uma vez apresentou as suas armas, contra as vítimas de sempre, da forma violenta de sempre, ignorando, como sempre, o trabalho civilizado esperado de uma força de segurança.
quando um governador, chefe das polícias, elogia um comportamento devastador que comumente pode ser associado a todo tipo de milícia ilegal, é sinal de que o abismo é logo ali.
A ação no Guarujá resgata de imediato o terror que foi a ação de retaliação ocorrida em Osasco e Barueri, ainda hoje atribuída a uma vingança de policiais. É sinal de que, sob o governo de extrema-direita paulista, não estamos e jamais estaremos seguros, seja pela proliferação do crime organizado, seja pela incompentência das forças de segurança.
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