quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Cracolândia afasta eventos culturais do centro de São Paulo

 A Cracolândia é usina impressionante de más notícias em todos os sentidos, mas principalmente quando evidencia a falta de competência e falta de vontade de prefeitura e governo estadual para enfrentar o problema de forma a resolvê-lo.

A área degradada do centro de São Paulo infestada por usuários de drogas e criminosos de várias estirpes é a área mais perigosa da área central, com um infinidade de roubos, furto e, agora, de assassinatos - nesta semana, um porteiro que morava na região foi atacado por viciado, que roubou o celular depois do ataque.

Comerciantes da região, desde janeiro, com as constantes migrações de usuários de drogas por vários locais da área central, fazem protestos quase diários diante da falta de solução e do desaparecimento dos clientes.

Nas imediações da rua Santa Ifigênia, pertinho de vários locais onde usuários e traficantes se concentram, a associação dos lojistas contabiliza prejuízos milionários e uma diminuição de 60% no movimento de consumidores, além do fechamento de vário comércios e estacionamentos.

Na Galeria do Rock, que não fica longe os epicentros da Cracolândia e dos sem-teto da Praça da República, a diminuição do público, principalmente de turistas, é sensível em 2023, ainda que a Polícia Militar tenha reforçado o policiamento no Largo do Paissandu, o que é insuficiente.

A questão agora afeta a realização de eventos, underground ou não, na área do chamado Centro Velho, que abrange a Galeria do Rock e outros locais importantes, como Galeria Olido e pequenas casas e bares com shows ao vivo.

Segundo pessoas do meio cultural ouvidas pelo Combate Rock, instituições e empresas desistiram de organizar pelo menos três eventos gratuitos, como minifestivais de rock e metal, no centro da cidade por conta da falta de segurança diretamente ligada à Cracolândia. Duas bandas de metal não vira confirmadas suas apresentações em locais da região central.

Se observarmos a linha de evolução do que ocorre na Cracolândia, até que as consequências d3moraram diante do aumento crescente da violência, dos confrontos por conta da ação repressiva desastrada das forças policiais e da falta de efetividade nas ações de combate ao tráfico de drogas, que não é incomodado;

Prender dois ou três vendedores de trouxinhas não só inútil como ridículo, expondo as forças de segurança a uma vergonha imensa.

A Prefeitura de São Paulo está tão perdida que a melhor ideia que teve foi dar isenção de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) para 947 imóveis afetados da área central, fato que está sendo analisado pela paralisada e improdutiva Câmara Municipal. 

Uma piada paliativa, que apenas mostra que a administração da cidade, de viés conservador, não tem ideia de como lidar com o problema - ou não quer, como suspeitam alguns comerciantes da região, que veem na medida uma cortina de fumaça.

É um problema de 30 anos que divide especialistas importantes sobre a forma de debelar a questão: como conciliar a infelizmente necessária repressão policial contra o tráfico e a violência dos doentes, e a também necessária assistência médica e social por parte do poder público.

Diante da falta de referências, a extrema-direita incrustrada na prefeitura e na Câmara defende a internação compulsória de doentes e aumento sistemático de policiais para reprimir todo mundo, com evidente apoio de parcela expressiva da população. 

Qual é a alternativa proposta pela esquerda? Deixar como está é melhor do que as "ações paliativas" de bater em usuário, como assumem sem pudor pessoas bem intencionadas do campo progressista... Assim fica difícil travar um debate sério sobre a Cracolândia.

Neste 30 anos de Cracolândia, quem lidou melhor, ou menos pior, foi o prefeito Fernando Haddad (PT, 2013-2006), que tentou uma abordagem mais humanizada com o Programa Redenção, que oferecia algumas possibilidades de recuperação médica, tratamento, hospedagem em hotéis populares, requalificação profissional e emprego, ainda que nada muito substancial.

Entretanto, não conseguiu o apoio do governo estadual conservador de Geraldo Alckmin, então do PSDB, e a questão principal, o fornecimento de drogas e o aumento exponencial de usuários, não foi atacado. Houve  quem acusasse, sem provas, o governo estadual de sabotagem, embora uma má vontade fosse perceptível.

A trinca de prefeitos seguinte - João Doria e Bruno covas, do PSDB, e Ricardo Nunes, do PMDB - virou a abordagem do assunto de cabeça para baixo, desmobilizando e desmontando o Redenção e tentando implantar, sem sucesso, programas assistenciais de baixa adesão.

Uma solução para este problema é mais do que imediata, é urgente, sob pena de inviabilizar comercialmente uma área importante da cidade e que é referitência internacional, como os eletrônicos da Santa Ifigênia e os serviços do miolo das ruas Barão de Itapetininga, 24 fr Maio e 7 de Abril, além da praça Dom José de Barros.

Como o crime organizado e o tráfico de drogas se infiltrou de forma absurda na Cracolândia, novos confrontos entre polícia e bandidos, e polícia e usuários, serão inev, quando não necessários, infelizmente, para que a repressão, feita de forma planejada e inteligente, 

Sem a abordagem assisenida tencial e humanizada, entretanto, não haverá como resolver de forma definitiva é necessário um investimento forte o social, coisa que os conservadores e extremistas de viés fascista nunca se dispuseram a fazer e jamais o farão.

De forma conveniente, muitos políticos que apoiam e apoiaram as últimas administrações conservadoras da cidade e do Estado dizem que a situação é insolúvel, como o conflito entre israelenses e palestinos. é o mesmo tipo de gente que tem horror a pobre e que fazem de tudo para administrar somente para os privilegiados da avenida Paulista, da Faria Lima e dos Jardins.

Estamos desperdiçando oportunidades para resolver de forma humana um problema de saúde pública, assistência social e segurança, com um custo financeiro e social por conta da demora. 

Da forma om que governo estadual e prefeitura lidam atualmente com a Cracolândia, parece que o objetivo é acentuar o estado de degradação da área central de São Paulo, ensejando acusações veladas, sem provas, de que quanto mais degradada, pior fica e mais barato se torna para a especulação imobiliária. 

O que dizem prefeito e governador

Em pelo menos três emissoras de rádio, o prefeito Ricardo Nunes disse que mais leitos para internação de dependentes químicos estão sendo criados e mais de 200 traficantes foram presos. 

"A prefeitura está continuando o trabalho dos agentes de saúde, convencendo [os dependentes químicos] a irem para tratamento, a GCM e a Polícia Militar prendendo os traficantes. Um trabalho contínuo que a gente não vai parar, não vamos desistir. Vamos continuar nessa ação, são mais de 2 mil internados e 200 traficantes presos. Coloquei mais mil GCMs, troquei veículos e equipamentos”, detalhou. “O trabalho vai ajudar a Polícia Civil com monitoramento, 20 mil câmeras, sendo 14 mil delas com inteligência. Trabalhar sem parar, a gente não pode desistir. A Cracolândia tem chamado atenção da imprensa, de pessoas, é um problema de 30 anos. Antes estava pior, hoje ainda está ruim, mas está caminhando. Os comerciantes estão fazendo protestos, acho que porque estão confiando que a gente está fazendo alguma ação. Tanto é que mandei um projeto à Câmara para isentar imóveis da região do IPTU”, disse.

O governador Tarcísio d Freitas (Republicanos), meio que de improviso, afirmou que pretendia mover os usuários de formas para o Centro Prattes, no Bom Retiro, onde há um complexo médico-assistencial, mas desistiu diante a repercussão ruim e da falta de planejamento. Nas últimas semanas, apenas vem dizendo que as operações de repressão ao tráfico na Cracolândia vão continuar, sem se preocupar com o fato de que podem haver novos confrontos entre usuários e policiais.

Ao portal UOL, disse que não descarta a alternativa da internação compulsória como uma "medida extrema". "Entendo que antes de muitas medidas que podem ser tomadas, as pessoas precisam de acolhimento. Obviamente, é uma medida extrema que pode ser usada com cuidado em último caso", disse.

Para o governador paulista, as internações só devem ser feitas "quando todas as outras possibilidades estiverem esgotadas, como forma de salvar vidas".

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