segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Fascismo ronda a Argentina em uma tragédia que parece não ter fim

 Efeito Orloff (os mais antigos entenderão)? A Argentina é o Brasil de amanhã? Os sul-americanos vão repetir os mesos erros terríveis de Brasil e Estados Unidos?

O flerte com o fascismo parece ser o mais grave passo dado pelo povo argentino nas eleições primárias de agosto, quando a extrema-direita surpreendeu e ficou em primeiro lugar, com 30% das intenções de voto.

 Ainda é cedo para vaticinar o que vai ocorrer nas eleições presidenciais de outubro e novembro, mas as perspectivas assustam, por mais que as duas coalizões peronistas somem 55% dos votos juntas. 

No entanto, o perigo do fascismo vencer é real. E ão há tango mais deprimente que consiga traduzir  tamanho da tragédia que pode acometer o país vizinho.

O nome do perigo é Javier Milei, um economista de 52 anos que segue os passos de Jair Bolsonaro e Donald Trump ao se dizer ultraliberal e radical de extrema-direita. 

Ex-goleiro e ex-guitarrista e cantor de bandas cover de rock (adorava Rolling Stones na juventude),gosta de pagar da maluquinho, excêntrico e "original", quando na verdade é uma pessoa perigosa e ardilosa, deixando Bolsonaro e Trump muito para trás.

Vomita muita bobagem, como querer acabar com o Banco Central argentino, dolarizar a economia e "regulamentar" a venda de órgãos humanos. Quer acabar com todo tipo de assistência médica gratuita e educação fornecidos pelo Estado. 

Quer privatizar tudo e qualquer coisa - e demolir qualquer tipo de estabilidade do funcionalismo e benefícios sociais. Quer tirar o país do Mercosul e destruir o "sistema político".

Seria apenas um boquirroto idiota se não fosse próximo de gente que sonha com a volt da ditadura militar assassina dos anos 70 e 80, que matou mais de 30 mil pessoas.

Embora não tenha proximidade com militares, que há três décadas estão em baixa na Argentina, circula com desenvoltura entre fascistas destilando ódio aos "comunistas" e sindicalistas. 

Se não tem apreço pelos militares, diz desprezar toda espécie de direitos humanos e manifesta apoio aos lixos humanos que depredam e detratam quem pertence ou apoia manifestações e entidades que lutam pela memória das vítimas da ditadura. 

Milei tem um ódio patológico pelas "Avós da Praça de Mayo", fundamentais na luta por Justiça na condenação dos militares assassinos e até hoje símbolo de resistência. Silenciou nesta semana quando monumentos às vítimas da ditadura foram vandalizados. É um fascista com ideias obsessivas de autoritarismo e totalitarismo.

Suas conexões psíquicas e comportamentais co  Bolsonaro são grandes, ainda que especialistas vejam mais pontos divergentes do que convergentes. Não vejo da mesma forma. 

Milei é a versão argentina de Bolsonaro, só que mis perigosa, porque ele é ardiloso e inteligente, além de bem informado e ter sólida formação acadêmica, ainda que a jogue no esgoto. Bolsonaro, no poder, apenas repetiu o que sempre foi: um medíocre ignorante e desinformado, tosco ao extremo e orgulhoso de sua própria indigência intelectual.

Sua eventual eleição será trágica, e vai coroar um século de decadência institucional, econômica e administrativa de um país que oi vanguarda mundial. 

A Argentina só regrediu neste século e os dois últimos governos - Maurício Macri (2105=2019, centro-direita) e Alberto Rodriguez (2019-2023, centro-esquerda) não só não debelaram alguns dos principais problemas como s os agravaram. Cerca de 40% da população está em situação de pobreza absoluta.

É um voto de protesto? Até certo ponto sim, como foi em Bolsonaro em 2018. No entanto, há o componente de forte desinformação que predomina em parte expressiva do eleitorado jovem. 

Com a massiva degradação da educação, a desilusão toma conta com a falta de emprego e  falta de futuro. Não se sabe ainda o porquê, mas o eleitor jovem acredita nas imbecilidades vomitadas pelo extremista, cujo esboço de programa de governo é uma piada e menosprezado até mesmo pelos seus apoiadores. A juventude encontrou nele um salvador da pátria, assim como o eleitor de centro-esquerda viu a mesma coisa no casal Néstor e Cristina Kirchner há quase 20 anos.

Javier Milei, do partido Libertad, era o que faltava para selar a destruição argentina, em todos os sentidos. Nem mesmo o tango mais melancólico e depressivo poderia retratar a tragédia que os argentinos estão próximos de vivenciar.

Ainda em choque com a terrível perspectiva de ter um presidente de viés fascista, o mundo artístico e os intelectuais ainda tentam digerir a vitória, ainda que parcial e inicial, de Milei. 

Ninguém conseguiu esboçar uma reação de protesto, exceto, talvez, o mercado financeiro: as ações das principais empresas na Bolsa de Valores e os títulos púbicos despencaram, e o dólar subiu mais de 30%. A crise econômica gravíssima, que dura anos, tende a piorar muito mais.

O rock argentino deverá ser, mais uma vez, a válvula de escape da sociedade em protesto contra a depredação institucional e o agravamento da crise por todos os ângulos. 

Que Gustavo Cerati, Luís Alberto Spinetta, Fito Paes, Charly Garcia, Adrian Barilari e muitos outros consigam inspirar as novas gerações a colocar as guitarras em fúria debelar as chances de o fascismo triunfar. 

Clique aqui para ler interessante texto de El País, de Madri, em português, sobre um documentário obre a história de luta do rock latino-americano para sobreviver, principalmente a ditaduras e ataques políticos de fascistas de plantão. 

https://brasil.elpais.com/cultura/2020-12-17/quebra-tudo-uma-historia-politica-do-rock-na-america-hispanica.html 

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