sexta-feira, 4 de novembro de 2022

'Black Moon', há 30 anos, resgatava Emerson, Lake and Palmer do limbo

 Não eram amigos, mas jamais brigaram e nunca perderam o respeito mútuo ou a admiração artística um pelo outro. Mas não dava mais e o último disco, "Love Beach", indicava o total desgaste criativo e a falta de inspiração. 

Era 1979 e Emerson, Lake and Palmer, o trio que era um dos pilares do rock progressivo, decidiu sair de cena após o final da turnê de promoção do álbum, no ano seguinte.

Dos três, quem se deu melhor em outros projetos foi o baterista Carl Palmer, que formou o supergrupo Asia ao lado de feras do progressivo - Geoff Downes (teclados, ex-Yes e The Buggles), Steve Howe (guitarra, ex-Yes) e John Wetton (baixo e vocais). As vendas dos primeiros álbuns foram estrondosas.

Keith Emerson engatou uma carreira solo interessante, mas pouco apreciada pela crítica (enveredou até pelas trilhas de cinema). Greg Lake se deu um pouco melhor lançando dois discos solo ais pop e fazendo uma parceria improvável com Gary Moore, onde ao vivo o baixista se aventurava na guitarra e no violão, além dos vocais.

Emerson e Lake sentiram a falta de sucesso e a conta bancária menos robusta e logo trataram de armar uma volta de Emerson, Lake and Palmer em 1985, mas os compromissos do Asia não permitiram ao baterista aderir á volta, embora quisesse muito.

O jeito então foi convocar uma fera das baquetas, mas totalmente inadequado ao rock progressivo. Cozy Powell, que tinha tocado no Rainbow e com Jeff Beck, aderiu ao Emerson, lake and Powell, que durou apenas um disco e uma turnê americana. Deu certo, mas não na medida em que todos esperavam. Powell preferiu partir pra outras aventuras, como o Black sabbath desfigurado da época.

Palmer estava livre em 1988, mas Lake não. Emerson e Palmer se uniram ao multi-instrumentista e vocalista americano Robert Berry no projeto 3 (também grafado como Three). Durou um isco e uma turnê, mas o público não curtiu o acento mais pop e experimental do trio.

Demoraria ainda três anos para que Emerson, Lake and Palmer se juntasse novamente, livres de compromissos e prontos para retomar o rock progressivo e a música experimental.

Faz 30 anos que "Black Moon", o álbum, selava a volta do trio, em uma aventura corajosa e perigosa, em plena ascensão do grunge e do classic rock no fundo do poço, junto com o rock pesado.

Mais moderno e com canções mais acessíveis, "Black Moon" surpreendeu ao vender bem mais do que o esperado e trazer em CD, como bônus, uma bela versão de "Pictures at an Exhibition", mais curta, mas ainda assim com 17 minutos - o tema é uma composição de Modest Mussorgsky, músico russo do século XIX e que foi o tema do segundo álbum da banda, de 1971, gravado ao vivo em Newcastle.

O álbum de 1992 era uma colagem de ideias irregulares, mas que apresentou o som clássico a uma nova geração que não se sentia representada pelo som tosco e urgente do Nirvana, o principal nome do grunge.São elas 

Curiosamente, duas das músicas era sobras de um projeto engavetado em 1988 que envolvia Greg Lake e Geoff Downes chamado Ride the Tiger. São elas "Affairs of the Heart", creditada aos dois, e "Paper Blood", que tinha o nome de "Money Talks" - inicialmente elaborada por Lake e completada depois por Palmer e Emerson,

"Black Moon" apresentava um cardápio de canções que tinham um verniz moderno, mas não escapavam de alguns vícios, como o excesso de teclados na cara na faixa-título e em "Paper Blood" e o resgate de melodias de um passado distante, como em "Farewell to Arms" e "Close to Home".

Mesmo as canções mais interessantes - "Changing States" e "Footsprints in the Snow" - o clima parecia ser o de reciclagem, reforçado pela produção que valorizava o "som grande", com teclados bem altos e bateria explodindo.

Não é um disco ruim, ainda mais quando as expectativas eram as piores possíveis. "Não precisamos de ressurreição de mais um dinossauro dos anos 70", esbravejou um crítico da Rolling Stone americana irritado com os retornos de The Who, Rolling Stones, Lynyrd Skynyrd e Grateful Dead, entre outros.

Algum tempo depois, o trio passou pela primeira vez pelo Brasil, com casas superlotadas, e não deu muita bola para o disco "Black Moon". "É um material bem diversificado e mais próximo do que se faz hoje", comentou Greg Lake em entrevista coletiva em São Paulo. "É um bom cartão de visitas de uma banda com quase 25 anos de idade, mas que estava longe dos palcos havia mais de dez anos. Não creio que faça sentido comparar essas músicas com as de 20 anos atrás. Era um outro momento e éramos outras pessoas."

Além de resgatar a banda da "aposentadoria", "Black Moon" estimulou os três a mergulhares nos arquivos e achar boas pérolas para uma maravilhosa caixa com quatro CDs, "Return to the Manticore", repleta de raridades, músicas gravadas ao vivo e algumas regravações, como uma maravilhosa versão para "Hang on To a Dream", um clássico da banda inglesa The Nice, que foi liderada por Keith Emerson de 1967 a 1970.

Keith Emerson morreu no começo de 2016. Com problemas circulatórios e nas articulações das mãos, suicidou-se aos 71 anos. Greg Lake morreu no final do mesmo ano em decorrência de um câncer aos 69 anos.

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