Até hoje causa estranheza aos ouvidos de muitos apreciadores de rock mais novos as vozes estridentes e roucas e agudas de Axl Rose (Guns N' Roses) e Udo Dirkschneider (U.D.O., ex-Accept), mas a origem desse tipo de canto é bem mais antiga e tem a ver com um cantor escocês cultuado dos anos 70.
Dan McCafferty, que morreu nesta terça-feira (8) aos 76 anos de idade, tinha voz potente, mas tão cortante quanto a de uma serra elétrica. A rouquidão, que poderia ser um entrave para o sucesso, foi usada com sabedoria pela sua banda, o Nazareth, que fez bastante barulho no rock pesado setentista. A causa da morte não foi divulgada.
O Nazareth foi uma descoberta de Roger Glover, baixista do Deep Purple que começava uma carreira paralela de produtor musical. O primeiro LP, de 1971, não chamou muito a atenção, exceto a de Glover, que viu no quarteto rústico e ríspido um potencial pra chamar a atenção do mercado.
A voz de McCafferty, um fã de blues e rhythm an blues norte-americanos, incomodava, mas também atraía por conta de um feeling diferente e da sua potência, emoldurada pela guitarra poderosa de Manny Charlton.
As músicas da banda mostravam um lado obscuro do rock inglês, meio sombrio, mas, ao mesmo tempo, encharcado de sentimento e peso. Tinham força e letras igualmente pesadas, mas tiveram de gravar duas versões para atingir o sucesso.
"This Flight Tonight", de Joni Mitchell, era um canção folk singela que se transformou em potência hard rock graças à voz de McCafferty. Mas foi com a balada "Love Hurts", de Boudleaux Bryant, que o sucesso mundial veio em 1974. Eternizada nas vozes de Everly Brothers, era uma canção de acento country que virou um baladão pesado (meio brega, e verdade).
Da lavra da banda, um destaque é "Hair of the Dog", pesada e maliciosa que também foi sucesso com os Guns N' Roses, e também a quase progressiva "Telegram", favoritíssima dos fãs.
Nos anos 80, a banda perdeu fôlego, mas nunca deixou de produzir e sempre mantinha uma média de um álbum de inéditas a cada dois anos, com variados graus de qualidade. Quase sempre acertavam a mão, como no bom "Malice in Wonderland", mas erravam feio às vezes, como no disco "No Jive".
No começo dos anos 90 vieram pela primeira vez ao Brasil e estabeleceram uma relação forte com o país, com muitas visitas e a gravação de um CD ao vivo em Curitiba e São Bernardo do Campo (SP) em 2007. Fumante inveterado, dizia odiar a cerveja brasileira, considerada fraca, mas nem assim deixava de entornar algumas e mais algumas.
Foi dele a ideia da foto de capa do álbum "The Newz", em que o quarteto é retratado d forma simples, mas com McCafferty sentado em um banco alto folheando uma edição do jornal Diário Catarinense, de Florianópolis (SC), cidade amada pelo cantor.
Dan McCafferty se afastou das turnês e deixou o Nazareth em 2013 devido a uma série de problemas de saúde que o acompanharam desde então, principalmente no sistema respiratório. Chegou a gravar um disco solo em 2019, "Last Testament" (parecia prever o seu destino), o terceiro, com uma repercussão morna e sem grande destaque.
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