quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Banda Semblant afasta cantora que defendeu manifestantes e intervenção militar


 Com certo atraso, a banda paranaense Semblant se manifestou nas redes sociais a respeito da polêmica que envolve a sua vocalista, a talentosa Mizuho Lin.

 A moça publicou um vídeo as redes sociais onde reclama que o apoiadores do presidente Jair Bolsonaro demoraram para se "insurgir" contra os resultados da eleição presidencial, que deram a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Não bastasse isso, ainda insinua que uma intervenção militar seria necessária para que a situação "se revertesse", manifestando apoio aos que bloquearam as estradas pelo país de forma ilegal e antidemocrática. Ou seja, mesmo reclamando da demora na ação, apoiou as manifestações.

 No comunicado público, a banda informa que lamenta as manifestações políticas de "um dos integrantes" e garante que não compactua com ideias que atentem contra a democracia. Diz que todos na banda têm posicionamentos políticos diferentes, mas que a "opinião manifestada não representa o posicionamento da banda". De forma meio tímida, a nota pede "desculpas" pela manifestação.

Por conta da repercussão negativa do vídeo, a Semblant informa que "o integrante em questão está afastado temporariamente até que haja condições de se analisar melhor a questão".

Isso significa que Mizuho não participará, em tese, dos shows de abertura no Brasil para a banda holandesa Epica.

Nos bastidores, circulam informações de que a enfurecida reação de fãs brasileiros e estrangeiros dos holandeses à polêmica teria levado a banda a se posicionar sobre o assunto. Entre os protestos, há pelo menos duas petições digitais pedindo a exclusão da Semblant dos eventos no Brasil.

O comunicado evita cravar a demissão da cantora, mas tem certa contundência e percebeu a gravidade da situação. Ainda que possam ter simpatia por posições políticas conservadoras, os integrantes dão a entender que consideram inadequados apoios a manifestações antidemocráticas criminosas e pregar, também de forma criminosa, o retorno à ditadura por meio de uma intervenção militar.

Ainda não dá para saber se a moça agiu por ingenuidade, por falta de informação ou porque é realmente uma extremista de direita. Não se manifestou a respeito da polêmica. O fato é que pegou mal, muito mal, e que certamente terá consequências para a carreira da banda.

Como já manifestamos por aqui, é inacreditável que artistas possam apoiar candidatos, partidos ou ideologias que flertam com o fascismo e com posturas antidemocráticas - e que embutem a censura política. 

No rock, então, isso é mais intolerável ainda. Compactuar com ideias que, em tese e no extremo, vão se voltar contra você? Libertário, rebelde, contestador, o rock sempre se posicionou a favor da liberdade de expressão e de opinião. 

Entretanto, isso não vale quando a "opinião" e a "expressão" chafurdam no crime, no preconceito e no ódio. Incitar manifestações ilegais antidemocráticas é crime, assim como clamar pela ditadura militar.

Infelizmente, o mundo artístico - o rock nacional incluso - tem gente demais que apoia Bolsonaro e as ideias que flertam com o fascismo. Há casos vergonhosos, como a maioria dos cantores sertanejos e o da inacreditável atriz Regina Duarte, "ex-namoradinha do Brasil". 

Entretanto, ninguém tinha ido tão fundo, publicamente, no extremismo de direita como Mizuho Lin, manifestando um radicalismo que beira o fanatismo ao apoiar gente que quer a ditadura militar - algo que certamente a cantor desconhece, pois não tem idade para nem mesmo ter vivido nos estertores do período nefasto da vida brasileira.

Leia a seguir o comunicado da banda Semblant:

"A Semblant vem a público informar que lamenta profundamente o ocorrido referente a um vídeo postado em mídia social, proferido por um de nossos membros. A opinião dessa pessoa e o que foi declarado não representa a opinião da banda e, por isso, todos nós pedimos desculpas.
A Semblant é formada por pessoas de diferentes pensamentos e estilos e, além disso, conta com uma equipe que trabalha com tanto afinco quanto seus músicos, movimentando e fomentando o cenário cultural.

Ressaltamos que esses pensamentos não refletem, de maneira alguma, a conduta ou pensamento da Semblant. A banda, nesses quase vinte anos de trabalho sério e dedicado, sempre teve a música como foco principal. A música, a arte e o metal são totalmente atrelados à democracia e à liberdade, e são esses os princípios nos quais a banda acredita, em suas diferentes formações.

A Semblant repudia também toda forma de preconceito, opressão ou ações contra a democracia.

Informamos ainda que, visando respeitar o trabalho de todos os demais envolvidos na turnê, a Semblant anuncia que substituirá a participação deste membro para as próximas apresentações já agendadas, em respeito ao público e ao evento."

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