quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Helmet traz aula de peso e música densa em show paulistano



Do site Roque Reverso

Após um hiato de 11 anos sem tocar no Brasil, o Helmet voltou em 2022 para trazer ao País sua turnê latino-americana que foca em músicas de vários álbuns da carreira iniciada em 1989. Um dia após se apresentar em Brasília, o grupo norte-americano liderado pelo vocalista e guitarrista, Page Hamilton, trouxe um grande show a São Paulo no fim da noite do domingo, 20 de novembro.

Mais do que romper um hiato de mais de 1 década sem tocar na capital paulista, o Helmet foi a atração escolhida para fechar o Oxigênio Festival 2022, evento que aconteceu desde a sexta-feira, 18, no Aeroclube do Campo de Marte.

Fiel à proposta de tocar músicas de vários momentos da carreira, o grupo norte-americano trouxe faixas de vários discos, com destaque para os mais badalados de sua história: “Meantime”, de 1992, e “Betty”, de 1994.

O local pouco tinha a ver com o Helmet, já que o evento foi realizado em um lugar mais acostumado a aviões do que a bandas de rock.

Quanto ao festival, ele foi marcado por reunir bandas com sonoridade menos densa e pesada que o Helmet. A maioria dos grupos ali tinha ligações com o hardcore e o emocore, enquanto a já veterana banda norte-americana sempre foi marcada por aquele som praticamente inclassificável, em razão da mistura de elementos do metal, do hardcore e até de música experimental.

Marcada para o ingrato horário das 22h15, a apresentação do Helmet era bastante aguardada por fãs. O Roque Reverso chegou ao local do festival por volta das 21h30 e viu a quantidade de admiradores ir crescendo aos poucos até lotar o espaço reservado para o show.

O palco reservado para o Helmet era relativamente pequeno em relação ao de grandes festivais pelo mundo nos quais a banda se apresentou. Mas, a despeito de não haver telões, o espaço era suficiente para o público se acomodar bem e assistir sem problemas o aguardado show.

Interessante destacar também a tradicional simplicidade do Helmet. A despeito de ter se tornado uma banda de muito sucesso nos Anos 1990 em todo o globo, não houve espaço para frescuras e estrelismos por parte dos músicos, que, durante a preparação do palco, ficaram testando e ajustando seus instrumentos.

O show

A apresentação do Helmet começou por volta das 22h25. Logo de cara, o grupo emendou três músicas dos álbuns clássicos: “Milquetoast”, do “Betty”, e “Ironhead” e “Give It”, do “Meantime”.

A reação da plateia foi da mesma empolgação caracterizada pelos pulos de muitos ali a cada riff de “Ironhead”. A cada palhetada de Page Hamilton e do outro guitarrista, Dan Beeman, o público pulava, batia a cabeça e até rodas de mosh foram formadas no meio da pista.

E vale destacar o mesmo sentimento que este Roque Reverso teve no show de 2011 em São Paulo: a qualidade e entrosamento deste Helmet pós-2010 impressiona.

Se, em 2011, na casa de shows paulistana Beco 203, o grande destaque da noite foi o baterista Kyle Stevenson, com uma pegada monstruosa e impecável em várias músicas do Helmet que precisam disso, em 2022, no Oxigênio Festival, chamou muito a atenção a performance do baixista Dave Case. Que músico, senhores!

Com o seu baixo verde chamativo e bonito, ele conseguiu tirar sons poderosos e fundamentais para as canções do Helmet durante a apresentação no Campo de Marte. Aquele som de baixo que chama a atenção pelo peso e pela clareza.

Kyle Stevenson e Dan Beeman também seguraram de maneira excelente as faixas. O primeiro parece estar atualmente mais técnico, sem perder a pegada certeira – com a camisa que estava do Slayer, deu para imaginar a influência do mago das baquetas Dave Lombardo. Beeman, por sua vez, é aquele fiel escudeiro que Mr. Page Hamilton precisa pra trazer aquela barreira sonora poderosa.

Após tocar “In Person”, do disco “Seeing Eye Dog”, de 2010, o Helmet emendou nada menos que “Blacktop”, do primeiro e bom álbum “Strap It On”, de 1990. Com os instrumentos mais modernos do momento, esta faixa ficou ainda mais interessante do que já era quando foi gravada.

O disco mais recente do Helmet, “Dead to the World”, de 2016, também teve música representante no show do Oxigênio Festival. “Drunk in the Afternoon” não fez feio e manteve a excelente vibe presente.

O show estava muito bom, mas chamava a atenção o comportamento de Page Hamilton até então. Desde a primeira música da apresentação, ele mostrou um descontentamento gigantesco com seu retorno.

Em vários momentos, ele sinalizava para os técnicos de som que não estava gostando do que estava chegando para ele. Em dado momento, chegou a dar uma bronca furioso no microfone.

E, convenhamos, não há nada pior para o músico do que não conseguir ter a noção clara do que está tocando ou até mesmo ter um retorno muito alto ou baixo do show. O descontentamento de Hamilton chegava até a influenciar no seu vocal, um pouco menos vigoroso e num volume menor do que de costume nas primeiras faixas do show.

Aos poucos, o entrosamento do vocalista com os técnicos de som parece ter melhorado, mas o problema foi solucionado definitivamente apenas após a metade do show, já com o grupo tocando “Unsung”.

Antes dela, foram executadas “Renovation”, do disco “Aftertaste”, de 1997, “See You Dead”, do “Size Matters”, de 2004, e duas bacanas dos álbuns clássicos: “Better”, do “Meantime” e “Tic”, do “Betty”.

Uma das preferidas deste jornalista dentre as do “Meantime”, “Better” fica sempre ainda mais poderosa ao vivo. Com peso, densidade e um vocal sempre diferenciado, ela é uma das melhores da carreira do Helmet, apesar de não ter sido escolhida para single. Ela sempre faz a festa dos fãs de carteirinha e, em 2022, em São Paulo, não foi diferente.

Eis que “Unsung” é iniciada e o maior sucesso do Helmet gera a reação de sempre: toda a plateia cantando junto e o nível de empolgação entra em modo generalizado. A faixa que catapultou a banda para o sucesso definitivo nos Anos 1990 não provocou este efeito à toa, pois é daquelas músicas impecáveis e que tem cara de hit clássico do bom e velho rock and roll.

Plateia ganha

Com a plateia ganha e, agora, com Page Hamilton menos preocupado com o som, o Helmet deu sequência a sua aula musical.

Depois da faixa “Bad News” (outra do mais recente álbum), foram executadas nada menos que quatro faixas do disco “Betty”: “Rollo”, “Street Crab”, “I Know” e o super hit “Wilma’s Rainbow”.

Vale destacar as diferenças de ritmo e a riqueza de cada uma dessas músicas. Se, em “Rollo”, o jeito frenético é cadenciado pela batida contagiante da bateria, “Street Crab” traz o ritmo para um nível mais lento e “I Know” consegue desacelerar ainda mais, gerando emoção nos fãs de carteirinha.

“Eu vou chorar se tocarem ‘I Know'”, ouviu, mais de uma vez, este jornalista antes da apresentação nas rodinhas de conversa.

E “Wilma’s Rainbow”? Esta gerou mais um pico de empolgação na plateia, pois é mais uma obra-prima do Helmet. Ela serviu para fechar o show, com o público gritando o nome da banda.

Após uma breve pausa para um leve descanso, o Helmet voltou para o bis com “Just Another Victim”, que havia sido pedida por muita gente durante todo o show. Sem a mixagem da gravação original feita com o House of Pain, ela sempre perdeu em riqueza sonora ao vivo, mas jamais em intensidade. E isso foi visto por todos os cantos da pista.

A última faixa da noite foi outro petardo clássico do Helmet: “In the Meantime”. Também entre as melhores da carreira do grupo norte-americano, ela serviu pra encerrar com chave de ouro a apresentação da banda na cidade de São Paulo.

A avaliação final é de que o Helmet deu, mais uma vez, uma aula de peso e música densa num show na capital paulista. Quem já havia visto o grupo anteriormente fez parte da tradição e saiu novamente satisfeito. Quem estava ali vendo a banda pela primeira vez constatou que o conjunto musical proporciona um excelente experiência ao vivo.

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