O Sepultura tinha ganho na loteria, mas mostrou que era possível. Mas foi o Angra que abriu as portas para o chamado heavy metal tradicional brasileiro ganhar coragem e partir para o mundo. O Angra era uma banda formada por músicos de renome escolhidos a dedo, mas e daí? Quem não invejava o quinteto por fazer sucesso no Japão e ser idolatrado na França?
A realidade mostraria que não havia espaço pra todos no Olimpo, mas sonhar era possível e necessário naqueles dourados anos 90 em que as bandas acreditavam que era possível e que o sucesso estava logo ali...
Dark Avenger, Symbols, Karma, Kavla e uma série de bandas assumiram a liderança do heavy/power melódico nacional tipo exportação, em uma primeira geração que incentivaria uma segunda, com Hibria, Hangar, Caravellus, Harllequin, Noturnall, Mindflow e várias outras.
Mas houve uma, na primeira onda, que despontava como a bola da vez a seguir os passos do Angra e, depois, do Shaman. A paulistana Wizards reunia tudo o que era preciso: um vocalista excepcional, um guitarrista estupendo, um baixista virtuoso, boas composições, produção acima da média... Mas ficou pelo caminho mesmo com seis CDs aclamados.
Depois de 12 anos de hiato, a Wizards ressurge com um trabalho de alto nível, como se o tempo não tivesse passado e o entusiasmo você o mesmo. "Seven" é uma coleção de bons temas que procura recuperar um pouco da aura noventista do heavy nacional tipo exportação e coloca o Wizards novamente em evidência, coincidindo com as celebrações de 30 anos do surgimento da banda.
Fruto da tenacidade e resistência de Christian Passos (vocais e violão) e Mendel Ben Waisberg (baixo), o retorno com um disco poderoso, "Seven" suscita a óbvia pergunta: por que uma banda com um som tão bom e diferente não deu certo?
"Nunca foi fácil fazer rock no Brasil. Pior ainda quando se tratava de heavy metal, e ainda mais o power melódico", comenta de forma tranquila o vocalista Christian Passos. "Tínhamos consciência da qualidade nosso trabalho e ficamos animados com as boas críticas dos nossos CDs. Em algum momento acreditamos que seria possível chegar mais longe, mas o percalços foram muitos. E isso não ocorreu só com a gente, basta ver quais bandas realmente se deram bem naquela época..."
Apostando em uma sonoridade de inspiração europeia, á la Stratovarius (Finlândia), Hammerfall (Suécia) e Kamelot (Estados Unidos), abordando temas relativos ao mundo medieval e com produção muito boa, bem acima da média, o Wizards era a banda mais promissora a ter uma carreira internacional - ou algum reconhecimento maior no Brasil. E foi assim até o ótimo CD "The Knight", de 2010.
"Foram quase 20 anos de dedicação e poucas bandas podem ostentar sete álbuns como a Wizards. Só que é preciso muito mais para fazer virar um empreendimento roqueiro no Brasil, todo mundo precisa estar na mesma onda, com o mesmo compromisso de levar adiante e enfrentar os obstáculos. E quase nunca é assim", constata passos de forma resignada.
Na esteira da vida atribulada, um integrante se tornou advogado, outro engenheiro, outro se mudou para outra cidade, filhos nasceram e mudaram vidas totalmente. "E eu continuei tocando desde sempre, cantando e tocando violão, ampliando meu repertório e meu público, enquanto o Wizards se tornava uma boa lembrança, aparentemente em hibernação eterna.
Por que voltar agora? "A Metal Relics Records se interessou em relançar alguns dos álbuns antigos. Daí veio a proposta para gravar um novo disco de inéditas. Pensei muito sobre isso, relutei, mas cedi e retomei a banda, com o Mendel. O Kadu [Averbach, guitarrista da formação clássica] não quis voltar, embora tenha tocado em um single recente nosso, e tivemos que começar quase do zero", conta Passos.
A solução para gravar as guitarras em "Seven" foi convencer um antigo amigo hoje muito atarefado, Léo Mancini, que passou pelo Noturnall e atualmente, entre outras bandas toca no Spektra. Os teclados ficaram a cargo do ótimo Charles Dalla e a bateria, nas mãos de Gabriel Triani. Por enquanto essa é a formação, mas nem mesmo Christian Passos acredita que poderá se aferrar a ela para 2023.
"Não temos muito planos. Fizemos apenas um show em São Paulo, foi legal, mas a continuidade das atividades vai depender de um planejamento minucioso que nos permita viabilizar o Wizards", afirma o cauteloso vocalista. "Mancini é muito ocupado e cogita voltar a tocar, mais uma vez, com o Noturnall, com quem fará uma turnê de 31 shows no ano que vem; o baterista tem planos de morar no exterior e o tecladista tem uma série de atividades. No fim das contas, corremos o risco de ficar eu e Mendel sozinhos novamente."
Se depender do que foi gravado em "Seven", o Wizards tem boas perspectivas, pois o trabalho é muito bom. É um heavy metal que bebe na fonte do Helloween dos anos 90, com muita melodia e arranjos bem elaborados, ainda que simples e sem ostentação.
Os primeiros singles, "Pain" e "Grateful", são os destaques, com temas mais abertos e letras mais "comuns", digamos assim. Foi um acerto deixar os temas medievais no passado.
A produção é ótima, bem limpa, que valoriza o som primário dos instrumentos. E a bateria está bem timbrada, algo que não é muito comum em produções brasileiras, seja por falta de dinheiro ou de experiência.
Depois de 30 anos cantando bem, a voz de Passos está intacta e é um dos diferenciais do wizards, assim como as guitarras inventivas e únicas de Léo Mancini, que deram um colorido diferente á sonoridade que ficou marada pelos fraseados e riffs estonteantes de Averbach nos primeiros discos.
São as guitarras que fazem o som da banda soar rejuvenescido, ainda que não prime ela originalidade. Nem era essa a intenção, já que o primordial seria resgatar o Wizards das trevas. E Mancini ´especialista neste tipo de coisa: inovar e dar ma cara nova a um som, aparentemente, datado e sem originalidade.
Mancini e passos brilham na versão orquestral de "Grateful", cuja inspiração notadamente é o trabalho solo de Andre Matos, principalmente na interpretação dramática e surpreendente.
"In the Night" é uma canção poderosa que emula os bons temos dos anos 90 da própria banda, refrão forte e riffs de guitarra muito bons.
Waisberg assume o protagonismo dividindo seu baixo entre o ritmo e a força de uma base rítmica como se encarnasse bons momentos de John Entwistle (The Who). Ele também vai muito bem em "I Wanna Know".
"Call May Name" surpreende por ser um hard rock gostoso e bem acessível, com uma levada melódica e um inegável acento pop - mais um acerto dentro de um repertório bem equilibrado e sóbrio.
A produção do álbum também é um diferencial, a cargo do maestro e tecladista do Wizards, Charles Dalla, em seu próprio estúdio na cidade de São Paulo. Ele também foi o responsável pela masterização e mixagem, com coprodução por Christian Passos e Mendel Ben Waisberg.
" O disco 'Seven' tem uma sonoridade muito forte e orgânica. É um trabalho que mistura todas as fases do Wizards. Power, clássico e hard, essa é uma mescla de todos os nossos álbuns, mas com uma pitada nova secreta”, diz o vocalista da Wizards.
O processo de composição de "Seven" foi realizado durante a pandemia do covid-19, através das ideias do violão de Christian Passos. O baterista Gabriel Triani se encontrou com o vocalista e trouxe linhas que se encaixaram nas músicas perfeitamente, aliado ao baixo criativo de Mendel Waisberg.
Formada em 1992, a banda paulistana Wizards logo de início a banda chamou à atenção, ganhando destaque no cenário brasileiro. Seu sucesso inicial chegou ao Japão e a gravadora JVC Victor tornou-se a responsável por lançar o homônimo álbum de estreia, em 1995, que chegou ao 8º lugar nas paradas nipônicas.
No ano seguinte, a banda lançou “Sound of Life”, que recebeu ótimas críticas e uma turnê pelo Brasil. A faixa “Promise of Love” tornou-se hit. O nome da banda foi sendo consolidado e permitiu que ela abrisse diversos shows de bandas consagradas, como Savatage, Stratovarius, Gamma Ray, Paul Di’Anno.
O terceiro álbum, “Beyond the Sight”, lançado em 1998, revelou a música “Thunderbolt”, um dos clássicos do Wizards. O quarto e aclamado álbum “The Kingdom” foi lançado em 2001, recheado com tudo que o Heavy Metal Melódico pedia na época.
Quatro anos depois, “The Kingdom 2” é lançado. Após alguns anos chega o lançamento do poderoso 6º álbum “The Black Knight”. Todos os seis álbuns da discografia do Wizards estão sendo relançados, via Metal Relics, a começar pelo relançamento de “The Kingdom” e “The Black Knight”.
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