terça-feira, 8 de novembro de 2022

Com som sombrio e muito peso, Lucifer toca em São Paulo em dezembro

 Lucifer está chegando e vai nos arrebatar. Pode ter o cabelo louro e o rosto de um anjo, ou o quepe de um capitão fuleiro de barco velho que espreita nos litorais gelados do norte da Europa. e certamente virá movido a guitarras pesadas e "embaçadas" que parecem saídas das sessões de "paranoid", do Black Sabbath.

O nome da banda pode assustar os incautos e erroneamente remeter ao black metal, mas o que temos é uma banda robusta e com os dois pés no hard'n'heavy setentista, ora descambando para o stoner rock, or caindo de cabeça naquele hard que muitas vezes nos encantou em bandas como Uriah Heep.

Lucifer é a banda sueca que toca em São Paulo em 3 de dezembro, no Fabrique, em apresentação única no Brasil. Promete encantar e estremecer o ambiente coo fizeram os conterrâneos do Blues Pills no final de outubro. Ao contrário destes, o Lucifer sabe o que vai encontrar.

"O Brasil é o sonho de muita gente para tocar e sei como funciona. O show promete, e muito, ser um dos pontos alto de nossa carreira", comentou brevemente o baterista Nicke Andersson em entrevista coletiva a jornalistas brasileiros. Ele também toca guitarra com The Hellacopters e em alguns momentos no Lucifer. Tabém tocou bateria décadas atrás no Entombed.

As semelhanças com Blues Pills, além da mesma origem e da vocalista loura, param por aqui. Johanna Sadonis, aliás, nem sueca é, como Elin Larsson, dos Pills. É alemã e uma veterana da cena pesada europeia. 

No entanto, a paixão dela parece ser mesmo a Suécia, já que criou a banda The Oath, com a guitarrista Linnea Olsson antes de mergulhar no Lucifer com o sueco Andersson - que é seu marido. a banda foi formada em Berlim, na Alemanha, mas migrou para Estocolmo, na Suécia.

Johanna refuta uma certa liderança ou pioneirismo na tendência de bandas de hard'n'heavy com mulheres á frente - dá para citar de uma tacada só Lucifer, Avatarium, Thundermother, MaidaVale e outras.

"Claro que me envaideço quando escuto que posso ser uma influência para outros artistas, ou que The Oath impactou alguém, mas não creio que seja o caso. eu me orgulho do que fiz, e sei que o disco é legal, mas não sei ao certo como medir esse impacto", analisa a vocalista do Lucifer.

O som do grupo é poderoso e intenso, embora não seja tão claustrofóbico como o primeiro disco sugeria, em consonância com o trabalho dos "mentores", o Black Sabbath.

Já são quatro álbuns e o mais recente, "IV", com uma capa provocativa - fundo vermelho e uma moça crucificada (Johanna? Provavelmente). 

O casal sabe o quanto o nome e a capa são provocantes, especialmente em um país onde a religião, infelizmente, voltou a ter protagonismo político. Só que esse assunto não interessa. A música e que fala mais alto.

"Nosso som provavelmente não teria como sair de outra forma", explica a vocalista. "É calcado na música pesada dos anos 70, provavelmente a melhor já feita no rock, e nos sentimos confortáveis com essa influência grande em nossa música. Se acertamos em nossa escolha? Prefiro que os ouvintes digam."

Se o grupo não dá bola para questões religiosas, não foge de uma boa polêmica quando o assunto é costumes, feminismo, empoderamento feminino e estereótipos machistas. E Johanna Sadonis é bem convicta ao falar sobre o assunto e manifestar a sua admiração por Madonna, uma artista bem distante do mundo do heavy metal.

"Madonna foi um símbolo importante na minha infância. Eu era fascinada por ‘Like a Prayer’. Uma mulher de negócios sexualmente livre e muito poderosa dançando na frente de cruzes em chamas. Mas isso era considerado autoindulgente e uma blasfêmia. A provocação de uma ‘prostituta’ incomodava. E acho que que até hoje, em alguns momentos, é assim", diz a cantora.

Ela foi mais longe meses atrás comentando tais preconceitos em entrevista publicada no site www.igormiranda.com.br: "Para mim, figuras como ela e tantas outras mulheres que tentam se expressar livremente e a reação em seguida são simbolizadas pela bruxa que é colocada na fogueira e deve ser queimada até a morte. Como uma mulher neste mundo e nos negócios, tive minha própria cota de abusos emocionais e físicos. Isso não me deixou amargurada, mas me deu uma personalidade muito desafiadora."

Apesar de alguma semelhança com os conterrâneos do Blues Pills, a distância entre as duas bandas é imensa. O hard rock/hard blues ensolarado potente do grupo de Elin Larsson passa longe do peso e do universo sombrio e denso do Lucifer.

Os guitarristas Marton Nordin e Linus Bjorklund até conseguem emular algum riff ou fraseado mais rock and roll dos Hellacopters, mas a predominância é das guitarras soturnas e bem timbradas no Lucifer, pesadas até esbarrar nos ambientes ora macabros, ora melancólicos que sempre caracterizaram as canções do Black Sabbath.

No palco, Johanna Sadonis é mais contida e concentrada do que Larsson. os movimentos parecem cronometrados e calculados, embora a performance seja extraordinária. 

A voz é poderosa, embora ela pouco abuse de tons amis altos ou mesmo gritos. A performance é mais importante, e as personagens que ela encarna têm particularidades que explicam o comportamento em frente à plateia. A formação é completada pelo baixista Harald Gothblad.

Serviço

Lucifer em São Paulo

3 de dezembro

Fabrique - rua Barra Funda, 1.071  - Barra Funda - São Paulo

Abertura da casa: 18h

Ingressos: https://www.bilheto.com.br/evento/910/Lucifer

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