segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O blues com força nas vozes delas: Diane and The Deductibles, West River, Rory Block...

 

 

- Som despretensioso, curioso e muito agradável. Diane Adams acertou de novo ao lançar uma coleção de canções fortes e pesadas, mas sem avançar o sinal - ou seja, é pesado, mas nem tanto, sendo acessível na medida certa.

Diane & The Deductibles é uma tííca banda de hard rock do Mei Oeste norte-americano, que absorve influências diversas e evita cravar uma sonoridade única. Passeia pelo hard californiano, mas festivo, incorpora o suingue texano e o som mais áspero da Costa Leste.

Foi assim no bom álbum "Two" e ficou ainda melhor no recente "Three Feet Six Apart". Está um pouco mais pesado, só que o blues também aparece com mais frequência e o resultado é bem interessante.

A banda é recente, mas os músicos são veteranos e muito experentes. A formação tem  Diane Adams (vocais e guitarra, ex-Studio Singer), Cliff Rehrig (baixo, ex-Air Supply), Robert Sarzo (guitarra, ex-Hurricane), Keith Lynch (guitarra, ex-colaborador de Bill Ward, baterista do Black Sabbath) e Ronnie Ciago (bateria, ex-Riverdogs).

Como tudo na banda é equilibrado, os vocais de Diane se destacam pelo comedimento. nada de excessos e nem de virtuosismo. A ideia é que ressaltar a qualidade das boas canções e acentuar o tom bluesy do do grupo. seu timbre vocal lembra em alguns momentos Natalie Merchant (ex-10.Maniacs) e Beth Hart.

Curiosamente, a abertura do disco, com "Let's Live", remete aos bons momentos do Whitesnake dos anos 70, com seus riffs bacanas de guitarra e vozes dobradas. 

"Say What You Mean" traz a banda de volta ao cenário ianque com um groove característico do hard americano. É onde Diane se sai melhor com uma variação de tipos vocais que são cehios de referências.

Não é um disco dedicado a hits, mas se tem um que se encaixa no conceito é "Hold On", uma canção pop na medida certa sem perder a pegada roqueira. Os arranjos de guitarra tornam o ambiente bastante agradável a ponto de lembrarmos aqui de Stevie Nicks e os melhores momentos do Fleetwood Mac dos anos 70.

"Darkness" e '"Never Say Goodbye" são outros estaques do álbum. As guitarras dominam, mas Diane Adams consegue imprimir o acento pop mais acessível e torná-las cativantes sem descambar diretamente para o pop. 

Vale uma menção a "Next Breath", talvez a mais acelerada e roqueira, e aqui há nítida influência do cantor americano Bob Seger. É rock dos bons e muito bem feito.

- Rory Block é uma guitarrista de blues de raiz, da mesma estirpe de Bonnie Raitt e Susan Tedeschi. Toca muito, mas nunca superou aquilo que se pode chamar de timidez artística, que ela mesma chama de discrição necessária para tocar a vida. Toca blues e adora ocar por aí, mas sem que a fama "atrapalhe" a sua vida.

É uma opção, mas devemos lamentar, de certa forma, que trabalhos de qualidade lançados em mais de três décadas tenham um alcance penas nacional nos Estados Unidos, quando ela deveria ser ovacionada em todo p mundo.

"Ain't Nobody Worried - Celebrate Great Women Songs" é o novo disco recheado de grandes canções passenado pelo blues, pela folk music e pela country music, em canções próprias e versões bem arranjadas. E dá-lhe violão com bottleck deslizando pelas cordas (tubinho de vidro ou de aço, no dedo mindinho da mão que digita no braço do instrumento).

O clássico "I'll Take You There" de Mavis Staples e The Staples Singers, por exemplo, ganhou uma versão notável, que rejuvenesceu a canção, que é um clássico soul dos anos 60. 

As homenagens às divas negras dos anos 60 permeiam todo o álbum, em arranjos semiacústicos de raro bom gosto. Gladys Knight ressurge em todo o seu esplendor em uma versão deliciosa para "Midnight Train to Georgia", com uma sensibilidade extraordinária.

O conceito do álbum é realmente de homenagem, sem conotações feministas ou de qualquer tentativa de empoderamento feminino - e não haveria problema se houvesse. É que a leveza das execuções das músicas nos leva a outro direcionamento. É para celebrar, como na ensolarada versão de "My Guy", de Mary Wells: violão econômico e seu firulas, deixando que a doce voz de Rory Block conduza a melodia.

A ótima Tracy Chapman é exaltada em seu maior clássico, "Fast Car", em uma versão muito reverente e próxima à original. 

A mesma coisa ocorre com outro clássico mundial, "You've got a Friend", da imensa Carole King, mas a situação muda em "Dancing in the Street", de Martha and the Vandellas, que ganha uma versão mais quente, ainda que reforce um climinha de ingenuidade sessentista. Ficou muito bom.

Como um álbum de versões é muito interessante por se tratar de uma artista versátil ae muito talentosa
que não se limitou apenas ao básico e tradicional. São quase 40 anos de carreira que fizeram uma diferença enorme na gravação e na escolha do repertório.

- Até que demorou um pouco, mas surgiu um filhote da banda sueca Blues Pills. Abusando de uma guitarra pesada e bluesy, a banda West River traça uma linha definitiva de resgate do som dos anos 70 misturado com alguns timbres mas modernos.


A ideia dessa improvável banda de Belarus era mergulhar no blues em "A Taste of Blues", mas as guitarras lancinantes falaram mais forte e o grupo desbravou o hard rock com competência.


A associação com o Blues Pills é imediata, já que a semelhança é inegável em canções pesadas como "Memories" e "My Dear", com as guitarras lá em cima e na frente.


"Big Wave Regret"  e "Bank of Ideas" trazem um peso adicional a canções sem grandes arroubos de inovação, mas atestam que houve pesquisa e muito ensaio. Uma banda do Leste Europeu que soa quase como uma banda britânica? Quase...


No mais, são canções genéricas e sem novidades além de uma genuína vontade de emular o que de melhor se fez no blues rock setentista, como em "No Matter" e "My Eyes". O encerramento com "Please, Don't Cry", destoa um pouco por quase descambar em um blues rock meio brega e sem um pingo de criatividade.

 


 

  

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