quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Jimi Hendrix, 80 anos: um 'alienígena' que usou a guitarra como agent transformador

Muitos jogadores de futebol e jornalistas esportivos citam alguns poucos atletas como o melhor do esporte em todos os tempos. Intrigado com a exclusão de Pelé das listas, quem pergunta costuma ouvir a seguinte resposta: Pelé não conta, ele não é deste planeta.

O mesmo ocorre no rock. Muita gente considera o inglês Jeff Beck o melhor de todos os guitarristas. Mas e o americano Jimi Hendrix? É um alienígena, não é deste planeta, costumam responder.

Se estivesse vivo, James Marshall Hendrix completaria 80 anos em 2022. O instrumentista mais genial da música pop decidiu voltar ao planeta de origem aos 27 anos, em setembro de 1970, mas o legado que deixou é tão gigantesco e profundo que alterou de forma absoluta os rumos da música e da cultura ocidental.

Jimi Hendrix com certeza teria transposto das fronteiras do rock há muito tempo, se estivesse vivo. Teria criado novos sons, inigualáveis, e poderia ter criado um novo gênero musical, único e exclusivo, seguindo a trilha de gênios como Miles Davis.

Essa é a impressão geral que o mundo da música tem a respeito do melhor guitarrista que já existiu, mas que foi verbalizada por ninguém menos do Eric Clapton em uma entrevista nos anos 90. A comparação foi muito feliz, pois é inevitável constar hoje: o rock, ou qualquer rótulo, é muito restrito para o gênio da guitarra.

Ele construiu a sua própria eternidade e é um dos símbolos da genialidade artística e musical. Muita gente gota de relembrar o grande concerto de Woodstock, no Estado de Nova York, realizado em agosto de 1969, como o auge da carreira do guitarrista.

 Ali ele já era considerado mais do que gênio, e voltara a viver nos Estados Unidos. No entanto, é no Monterey Festival, realizado em julho de 1967, que podemos ver Hendrix em sua plenitude. A guitarra, uma Fender Stratocaster decorada com motivos psicodélicos, foi tocada com maestria, provocando um furacão sonoro que arrebentou cérebros imberbes e despreparados.

Hendrix era canhoto, mas usava um instrumento para destros, virado ao contrário. Fez tudo, ao tocar o instrumento de todas as maneiras e extraindo sons impossíveis e inacreditáveis, como a microfonia que tirou dos amplificadores Marshall, deixando toda a plateia californiana estupefata.

 O final, com o fogo na pobre e estragada Strato e a destruição no palco, apenas galvanizaram a atenção generalizada para a aquilo que os ingleses já conheciam desde o ano anterior – um alienígena pousou na Terra para mostrar aos incautos o que era rock, oque era um show e o que era criatividade na música.

Há lendas saborosas a respeito do impacto que o guitarrista negro causou no mundo do rock. Uma delas dá conta que os rivais Pete Townshend (The Who) e Eric Clapton se encontraram em um pub em Londres, no começo de 1967 e tiveram uma conversa séria, meio bêbados. Townshend chama de canto o então adversário e choraminga: "Acho que encontrei alguém nesta semana que vai roubar nossos empregos..." Clapton nem deixou o rival terminar: "Sei de quem você fala, eu o vi ontem e estou apavorado..."

Em 1997, Greg Lake, baixista e vocalista de Emerson, Lake & Palmer, se divertia com a reação dos jornalistas brasileiros quando passou com a banda por São Paulo. Em papo descontraído após uma entrevista coletiva, mandou sem pestanejar: "Quase que Hendrix virou guitarrista da nossa banda, que iria mudar o nome para Help [as iniciais dos sobrenomes dos integrates]."

Lake afirma que Hendrix assistiu a uma das primeiras apresentações da banda, em 1970, ano em que foi formada. passou a frequentar os ensaios e virou amigo dos trio de rock progressivo. E disse explicitamente que queria tocar com eles. "Ele nos disse que precisava cumprir vários compromissos na Inglaterra e que estaria livre em setembro de 1970. Até então tínhamos feito apenas uma jam interessante. Não deu tempo para mais nada..."

O baterista Carl Palmer, na mesma época, foi perguntado sobre a "possibilidade" de o Help existir. meio na gozação, respondeu de pronto: "Greg de novo contando essas histórias????? Seri maravilhoso tocar com um 'craque' desses, imaginem só..."

E o famoso encontro entre Hendrix e o trumpetista Miles Davis que nunca aconteceu? Reza a lenda que, instigado por muitos amigos, o jazzista teria concordado em encontrar o guitarrista para conversar e, eventualmente, fazer umas "jams". Só que Davis teria demorado demais para tomar a decisão...

Com apenas seis anos de carreira, Jimi Hendrix transcendeu o rock e o blues e influenciou artistas de todos os gêneros e todas as artes. Certamente estaria se misturando com tudo e com todos para empurrar a humanidade à frente e usar sua guitarra como um poderoso agente de transformação. Pena que ele decidiu voltar tão cedo ao seu planeta...

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