Era como se estivesse na garagem de cassa. Pequeno e quase claustrofóbico, o local poderia explodir ao menor sinal de distúrbio, e explodiu por conta o som pesado e intenso diante do pesadelo extremo. E o grupo paulistano Torture Squad mostrou como se faz música extrema com total combustão e em qualquer ambiente - aliás, independentemente do ambiente...
"Tortura En la Iglesia - En Vivo" é o tão aguardado álbum ao vivo do quarteto depois de longos e insanos invernos e verões enclausurados e , depois, com restrições por conta da pandemia de covid-19.
"Toco com o Castor [baixista] há mais de 30 anos e nunca fiquei sem ver cara dele por tanto tempo. Foram meses afastado da banda", conta o baterista Amílcar Christófaro, um dos fundadores e um dos músicos mais articulados do metal nacional.
Era natural que a banda viesse cheia de projetos depois da pandemia, até porque o quarteto foi tragado pela pandemia no meio do processo de composição e gravação do próximo álbum, que deve sair no começo de 2023.
Os integrantes mais recentes, a vocalista May "Undead" Puertas e o guitarrista René Simionato, estão há sete anos naquela que parece ser a formação mais estável do grupo - mais poderosa. No entanto, gravaram apenas o EP "Return to Evil" e o álbum "Far Beyond Exystence", este de 2018. Portanto, há uma necessidade de material novo essa formação (dois singles foram lançados nos últimos anos, mas não aplacaram a exigência dos fãs.
O novo álbum ao vivo foi registrado em 16 de julho de 2022 na casa paulistana la La Iglesia, pequenina e enclausurante, mas ideal para shows que necessitem de total energia e pulsação acelerada. Com lotação máxima de, no máximo 200 pessoas, se tornou o ponto underground mais charmosos e requisitado do rock underground de São Paulo. entre seus sócios está Jão, o guitarrista dos Ratos de Porão.
No dia da gravação do disco a "igreja" estava lotada para o primeiro registro oficial feito ali, em pleno coração do bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. E a banda não economizou na fúria, oferecendo um repertório de pouco mais de uma hora e 14 pauladas que abrangeram toda a carreira.
May Puertas se mostrou à vontade em clássicos como "The Unholy Spell" e "Horror and Torture", conduzindo tudo com extrema competência em meio a riffs poderosos de guitarra.
"Generation Dead" e "No Escape From Hell" mataram a saudade de uma era em que o Torture Squad já ensaiava enveredar por um caminho mais técnico e insano para desembocar em canções cada vez mais violentas e intrincadas, como fica evidenciado na segunda metade do show, com músicas dos últimos trabalhos, onde fica evidente o acerto nas entradas de May e Simionato.
Totalmente entrosada e segura, a banda surfa com tranquilidade em "Return to Evil", um exemplo de canção extrema e violenta, e nas "progressivas" "Blood Sacrifice" e "Don't Cross My Path" , algo que pode surpreender os mais desavisados.
"O progressivo sempre esteve em nossas canções. Já incluímos um trechinho de uma música do Yes em uma música nossa", conta Christófaro. "São influências importantes em nossa música que trazem mais peso e mais conteúdo. É só mais um ingrediente no nosso cardápio, que ouso dizer que é variado e de muito boa qualidade."
O resultado no disco ao vivo é excelente, colocando a banda no patamar mais alto da música extrema brasileira da atualidade, em uma concorrência pesada e intensa com Krisiun, Korzus, Crypta e Nervosa - apenas para citar alguns dos pesos pesados que mais têm chamado a atenção nos últimos tempos.
Para reforçar esse cacife, "Tortura en La Iglesia - En Vivo" traz uma faixa de estúdio e inédita. "The Fallen Ones" antecipa um pouco do que virá no próximo álbum de inéditas e é mais rápida e menos rebuscada, como uma espécie de homenagem às bandas veteranas death metal. Tudo é na velocidade da luz embalado por um jogo de vozes poderoso que acentua a violência e a fúria. É um grande presente para espantar de vez a sombra da pandemia e antecipar o que debom está por vir.
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