Uma "brincadeira" de fãs sintetizou uma carreira de 35 anos no patamar mais do alto e vai realizar o sonho de muita gente. Deveria ser a conclusão de um capítulo intenso que foi o ano de 2023 para baixista Luis Mariutti, mas o "Shamangra" e apenas mais um capítulo de uma trajetória invejável dentro da música nacional.
"Faz tempo qu essa 'reivindicação' apareceu nas redes sociais. Não é fácil juntar vários músicos e o fizemos uma vez anos atrás quando houve um show com membro do Shaman, do Viper e alguns outros amigos. Vamos tentar ampliar a coisa e o nome veio a calhar", diz o ex-baixista do Shman e do Angra.
Ao contrário do que os apressados estão divulgando, o Shamangra, por enquanto, é apenas uma celebração da música nacional que reunirá ex-membros de Shaman e Angra em uma festa no dia 14 de janeiro de 2024 na casa de shows Audio, em São Paulo, em uma iniciativa do Mariutti Team, iniciativa que dá suporte à carreira do músico.
Diante das óbvias acusações de oportunismo, Mariutti apenas rebate de leve: "Passei pelas duas bandas, outros músicos também, então como é possível levar adiante o meu legado sem passar por partes importantes do meu passado? Não faz sentido falar em oportunismo quando eu revisito o meu passado e as minhas músicas."
Ele diz que será uma festa, mas será bem mais do que isso: o evento dará, provavelmente, o inicio de celebrações de um ano intenso que terá como ponto alto o dia 8 de junho, que marcará os cinco anos da morte de Andre Matos, o cantor que passou por Angra e Shaman.
Servirá também para espantar os questionamentos e reclamações a respeito do terceiro fim do Shaman, que agora parece definitivo, ocorrido em janeiro de 2023 depois de desavenças envolvendo o comportamento do baterista Ricardo Confessori, que brigou e xigou fãs nas redes sociais manifestando atitudes preconceituosas.
O fim do Shaman, sem que fosse o intuito, expandiu os horizontes e propiciou colocar em prática algo que há anos Mariutti pretendia: o seu primeiro álbum solo, algo que a agenda com o Shaman e a banda Sinistra não permitia.
Com a banda Sinistra, o baixista conseguiu uma grande projeção fazendo heavy metal em português, algo raro por aqui. É a sua prioridade artística no momento, embora o álbum solo deverá ter algum tipo de divulgação mais sólida.
"Unholy" não chegou a surpreender: é um álbum de baixista orientado para o rock, mas com o instrumento como protagonista, Quase todo instrumental, o álbum ressalta o baixo como instrumento melódico, equilibrado o virtuosismo com as exigências rítmicas da música.
Mesmo com o baixo explodindo nos alto-falantes, Mariutti refuta as "objeções" de quem vê o disco apenas como uma coleção de riffs virtuosos de baixo encaixada em "bases musicais".
"Experimentei algumas coisas que achava pertinente e fiquei bem satisfeito om o resultado", diz o baixista. "A produção do meu irmão Hugo [Mariutti, guitarrista, ex-Shaman e Viper] soube extrair o que era necessário para dar vida às músicas que têm o baixo como ator principal. Coleção de riffs e mais nada? Quem diz isso precisa ouvir com mis atenção."
O período de isolamento por conta da pandemia de covid-19 potencializou a usina de ideias que sempre caracterizou trabalho de Mariutti. Depois de u período longe dos palcos e da música, o turbilhão de ideias jorrou a ponto de ter um suporte específico para dar conta, o Mariutti Team, que tem a coordenação de Fernanda, a mulher do músico.
Com o Shaman, o Sinistra e os trabalhos iniciais do álbum solo, Luis Mariutti engatou uma sequência de atividades que não deram descanso a partir de 2021. Além das atividades musicais, ele promoveu a sua autobiografia, que e uma radiografia precisa da evolução do heavy metal brasileiro desde os anos 80.
Com tantas atividades, haverá espaço para a expansão do "Shamangra"? "Estou focado na celebração de janeiro. Será uma festa única em um evento único. É o que está programado. Depois veremos o que pode surgir, até porque a minha prioridade é a Sinistra, minha banda atual, que lançou um álbum poderoso."
Experimentação e propulsão
"Unholy" é um álbum interessante pelos sons que exala e pela proposta musical. Além de sintetizar 35 anos de carreira no rock pesado, é capaz também de projetar o futuro de Mariutti como instrumentista e artista solo.
Com uma pegada extremamente melódica, o músico não abre mão da melodia e coloca o baixo como protagonista.
Tudo é orientado e voltado para os sons graves, mesmo canções com vocais, como "The Eye of Evil", que tem uma interpretação magistral do vocalista Thiago Bianchi, um dos coprodutores. Aqui a guitarra mantém uma certa subordinação ao baixo, com um bom resultado.
A pegada progressiva de Mariutti guarda alguma semelhança com a de John Myung, como fica evidente em "Unhloy', a canção mais experimentação e mais emblemática da obra.
"Journey" resgata as influências de rock clássico, com uma estrutura mais tradicional de canção. é mais cadenciada, com o baixo mais alto e na frente, mante do uma imponência que lembra os melhores momentos de John Entwistle, da banda inglesa The Who.
"Fema" é um tema calcado no blues, com estrutura de balada pesada e que funciona muito bem com a predominância do baixo na condução melódica, com solos bem construídos e belos fraseados.
O rock clássico também aparece na boa canção "Illustrious Nobody", uma canção mais dançante e grooveada, em uma levada bem típica dos anos 70. É a menos pesada do álbum.
"Addicted" tem resquícios de rock clássico também, em que as bênçãos de Chris Squire, do Yes, recaem em todos os trechos, em especial nos fraseados rápidos que permeiam toda a canção. É um canção rapida, precisa e pesada, com vocais à la Dio, bem oitentista.
Ao comentar detalhes de "Unholy", Mariutti disse que seu conceito é inspirado no desenvolvimento da humanidade, nas crenças e conceitos de sociedade, instintos e emoções. "Fazer esse disco foi uma forma de me provar. Depois de tantos anos de carreira, diversos discos gravados, mais ainda lançados, eu queria mostrar tudo que um baixista de Heavy Metal, que não tem medo de ser diferente, pode fazer>"
O videoclipe da canção “Unholy” tem direção de Caike Scheffer e produção de Fernanda Mariutti. As gravações ainda contam com as guitarras de Hugo Mariutti e a bateria de Henrique Pucci. A produção musical, guitarras e arranjos ficaram a cargo de Hugo Mariutti. Os vocais são de Thiago Bianchi, com bateria de Henrique Pucci e percussão de Rafa Kabelo.
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