quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Um ano mágico para o blues: Gov't Mule, Danny Bryant, Eric Sardinas...


É um ano memorável para o blues moderno, com obras de alto calibre sendo lançadas em todas as vertentes - e tome doses cavalares de guitarra de todos os jeitos, da mais pesada até a mais acústica e encharcada de slide.

O Gov't Mule ja tinha encantando com seu 13º trabalho, "Heavy Load Blues", de 2921, e repete a dose com o novo trabalho que foi gravado na mesma época que o anterior, só que com um direcionamento diferente.

E tem Joe Bonamassa revisitando clássicos do lues e fazendo uma homenagem a ele mesmo com o segundo voume de "Blues Deluxe", celebrabdo os 20 anos do primeiro disco com esse nome. E ainda tem a volta do Blues Traveler, Danny Bryant desacelerando, Eric Sardinas detonando, as mulheres no topo com Ally Venable e Laura Cox...

Na primeira parte, o destaque é Gov't Mule, mas tem tem também Bryant e Sardinas.

 - Gov't Mule - "Peace... Like a River" - As comemorações dos 30 anos de banda já começaram em altíssimo estilo. O quarteto norte-americano que "inaugurou" a era do blues pesado nos anos 90 mantém a tradição de jamais cometer um álbum ruim.

A banda se deu ao luxo de gravar quase 30 músicas entre 2019 e 2021, mesmo com uma pandemia de covid-19 que isolou o mundo e trancou as pessoas em casa. O material era tão rico e poderoso que rendeu dois álbuns com vários bônus cada um - e ainda sobrou material bom para uso futuro. 

Não são poucos os que consideram "HeavyLoad Blues" o seu melhor álbum - uma façanha, pois a banda consegue fazer sucessivamente um disco melhor do que o outro. Não foi o caso dessa vez, mas isso não quer dizer que eles perderam a mão - muito pelo contrário.

A questão é que "Heavy Load Blues" é extraordinário de excelente, o que "dificulta" as coisas par "Peace... Like a River". A banda não economizou na criatividade e extrapolou sua capacidade artística.

O novo álbum, gravado praticamente nas mesmas sessões do disco anterior, é ótimo, mas é menos blues, mais soul e experimental, tanto que tem uma música esquisita, "The River Only Flows One Way", um blues arrastado com arranjos inusitados e um vocal embriagado e recitado de Billy Bob Thornton, ator de cinema consagrado e que também se aventura na música, na sear da música country. Não ficou ruim, mas é bem esquisita.

As coisas voltam ao normal na excelente "Dreaming Out Loud", um blues ao estilo Nova Orleans com as participações excelentes dos ótimos Ivan Neville e Ruthie Foster, expoentes máximos do blues e do rhythm nd blues. A guitarra de Warren Haynes, guitarrista, vocalista e líder do Gov't Mule, chega a ser comovente.

"Shake Out Way Out" é outra pérola, encharcada de boogie e com uma guitarra malemolente e estupenda de Billy F. Gibbons, do ZZ Top. Não tem como dar errado. 

"Made My Peace" é provavelmente a melhor entre as melhores, com seus nove minutos do melhor blues. Começa como uma balada e termina em um épica de emocionar até velhas raposas como Neil Young. É de uma delicadeza capaz de emocionar gente dura e ríspida como Lemmy Kilmister, do Motorhead.

E ainda tem "Same As It Ever Was", que abre o álbum de maneira imponente com um blues rock que tem uma aura folk, mesclado suavidade e força com riffs bem construídos de guitarra e teclados. 

E ainda tem "After the Storm" e "Just Across the River", duas peças maravilhosas de folk rock adornado pelo blues que só Warren Haynes consegue emitir, fechando um álbum que reflete sobre a vida, a passagem do tempo e como a paz de espírito é um be incalculável. Uma obra estupenda.

- Danny Bryant - "Rise" - O guitarrista inglês domou o espírito e está mais contido. "Rise é um típico álbum de blues, aqui desfalcado dos timbres grandes e volumosos de guitarra que chamaram tanto a atenção em "Means to Escape", de 2018.

Neste novo trabalho, o corpulento guitarrista privilegiou os arranjos mais tradicionais do gênero, deixando os timbres mais estrondosos e pesados em segundo pano, como na ótima faixa-título.

Ele tenta deixar a coisa um pouco mais pesada em "Hard Way to Go", uma peça de resistência que valoriza uma abordagem mais moderna em cima de uma base mais tradicional. Ficou muito bom, assim como em "I Want You", uma balada que é lamento de guitarra blues bem feito, mas em bases menos estridentes, embalado em um climão folk. Desconte a letra brega, o instrumental compensa.

"Scarlett Street", é mais sombria e bebe na fonte de Chicago sem nenhum pudor, embora consiga desfilar riffs bacanas dentro do clima de balada romântica. 

O rock mais moderno comparece na interessante "Into the Slipstream", que tem uma guitarra menos potente, embora o solo do meio seja inspirado. Não é o melhor trabalho do inglês, mas cumpre bem a função d valorizar o blues do século XXI, como faz a conterrânea guitarrista Joanne Shaw Taylor.

- Eric Sardinas - "Midnight Junction" - A mistura de blues com southern rock catapultou o guitarrista norte-americano Eric Sardinas nos anos 90 e estabeleceu o seu prestígio. 

Especialista em slide (quando as cordas, no braço, são deslizadas com o auxílio de um tubinho de metal ou gargalho de vidro de garrafa) e violão do tipo dobro (com corpo de aço), cresceu ouvindo Allman Brothers, Lynyrd Skynyrd, 38 Special, ZZ Top e a mais fina linhagem do blues do Texas. cresceu ouvindo Allman Brothers, Lynyrd Skynyrd, 38 Special, ZZ Top e a mais fina linhagem do blues do Texas - principalmente Stevie Ray Vaughan -, embora tenha nascido e crescido n Flórida.

Muito se disse que ele teve vários auges em su carreira mas, aos 53 anos de idade, parece que finalmente chegou ao ponto de ter gravado o seu melhor trabalho. 

Precoce e prodígio os sete anos de idade, aprendeu a tocar sozinho graças aos vários discos de Muddy Waters e Big Bill Broonze que sua família tinha. Largou a escola aos 15 anos e partiu para Los Angeles, onde ficou anos tocando em botecos e esquinas até ser descoberto por empresários e produtores musicais nos anos 90.

Reuniu 13 músicas que passeiam por diversos estilos de blues e blues rock dos Estados Unidos, sendo o ápice a extraordinária "Miracle Mile", onde esbanja um feeling absurdo nos solos nos riffs.

"Laundromat", de Rory Gallagher, é um perfeito tributo ao guitarrista irlandês morto em 1995, com uma pegada vigorosa que faz a canção virar quase um hard rock.

As mesmas características podem ser observadas nas rápidas e interessantes "long Shot" e "Tonight", que abrem "Midnight Junction". na primeira a guitarra soa feérica e estridente, enquanto que na segunda o rock explode de forma descontraída.

"Muddy Water", um blues ao estilo texano, é uma homenagem a um dos seus heróis, como o título entrega, em um saraivada de riffs em violões e guitarras sobrepostas, deixando tudo com cara de semiacústico.

 "Lock and Key" é mais tradicional, um blues rock pegajoso e cínico, enquanto que o sarcasmo predomina na ótima "Julep" e na country-caipira "Swamp Colloer", uma gostosa brincadeira om riffs e palavras quase aleatórios.

O som sulista predomina na animada "White Lightnin'", esbarrando no hard rock, ao passo que "Liquid Store" abusa do violões em uma canção à la Aerosmith saída de um boteco de beira de estrada do Mississippi. E tome doses cavalares de slide. 

O encerramento com a balada climática instrumental "Emilia" é meio anticlimático, mas valoriza a sutileza e a versatilidade de Sardinas, que é um guitarrista estupendo o registrar seu trabalho mais coeso e encorpado.


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