terça-feira, 3 de outubro de 2023

Concertos da A.R.M.S., que reuniram Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page, completam 40 anos

 O baixista inglês Ronnie Lane dividia uma característica com seus companheiros de Faces nos anos 70: era querido por todo o meio roqueiro, tanto nos Estados Unidos como na Europa. O único inimigo declarado era o ex-companheiro de Small Faces Steve Marriott, guitarrista e vocalista morto em 1991.

Amigão da galera, Lane não teve dificuldades em 1983 para arrebanhar um supergrupo de astros para uma série de concertos beneficentes prol da A.R.M.S., uma entidade britânica de apoio à pesquisa de uma doença chamada esclerose múltipla. Lane tinha sido diagnosticado com a doença anos antes e morreria em decorrência dela em 1998, aos 51 anos.

A série de concertos é lendária por ter sido o único evento que conseguiu reunir nos mesmo palco as lendas britânicas da guitarra Jimmy Page, Jeff Beck e Eric Clapton. 

Foi considerado o maior evento musical beneficente depois do Concerto para Bangladesh, de 1971, organizado por George Harrison, e o Concerto para o Cambodja, de 1979, apadrinhado por Paul McCartney e Queen. Todos seriam superados pelo Live Aid, de 1985, e o Freddie Mercury Cncert, de 1992.

A A.R.M.S. cogitou realizar neste ano ao menos um concerto beneficente para relembrar os 40 anos da turnê célebre que percorreu Inglaterra e Estados Unidos. 

A ideia era reunir os músicos ainda vivos para uma celebração do rock, com o acréscimo de outros astros, como Pete Townshend (The Who), David Gilmour (Pink Floyd) e Roger Waters (Pink Floyd), entre outros.

Entretanto, a iniciativa sofreu um duro golpe com a morte de Beck, em janeiro, aos 78 anos. A reunião dos três grandes guitarristas era o grande chamariz para a celebração.

Há quem diga que os concertos A.R M.S, e o Concerto para o Camboja, organizado por Paul McCartney em 1979 em Londres, foram as inspirações para o Live Aid, megaconcerto beneficente para combater a fome da Etiópia realizado em Londres e na Filadélfia em 13 de julho de 1985.

Ronnie Lane era um baixista competente e um bom violonista, além de ótimo compositor. Formou o Small Faces em 1965, aos 18 anos, embarcando na onda mod para "rivalizar" com os amigos do Who.

Em 1969, com a saída do vocalista e guitarrista Steve Marriott, a banda virou The Faces com as entradas de Rod Stewart (vocais) e Ron Wood (guitarra), saídos do Jeff Beck Group.

No fim de 1972, criou a Slim Chance, banda de apoio a sua carreira solo dedicada ao folk rock britânico. Nesta época já estava fora dos Facces. 

Em janeiro de 1973, ajudou Pete Townshend a organizar um concerto parcialmente beneficente para aclamar o retorno de Eric Clapton - este ficou dois anos afastado da música por conta do vício pesado em drogas. Em 1977, dividiu com Townshend o álbum "Rough Mix".

Com muito amigos da pesada e uma agenda gorda de telefones, organizou o que era até então o projeto beneficente mais ambicioso do rock. Já tinha sido diagnosticado com a doença, que já o impedia parcialmente de tocar.

Entre os músicos escalados estavam os rolling stones Charlie Watts (bateria) e Bill Wyman (baixo), Steve Winwood (vocais, violão, guitarra e teclados) e Joe Cocker (vocais), além do percussionista Ray Cooper. O chamariz, no entanto, era a linha de frente com Clapton, Beck e Page.

Alguns dos shows foram transformados em dois concorridos vídeos em VHS chamados "A.R. M. S. Concert", lançados em meados dos anos 90, mas jamais reeditados em DVD por questões de direitos autorais e o mesmo em relação ao áudio, só lançado uma única vez em CD, em edição limitadíssima.

Mais eis que Eric Clapton, na esteira do lançamento, em 2014, "Eric Clapton & Friends – The Breeze: An Appreciation of JJ Cale" – uma homenagem ao amigo morto no começo deste ano -, conseguiu a autorização para recolocar no mercado o áudio de uma apresentação do A.R.M.S. de 1983 realizada em Londres.

O que antes só era encontrado em áudio de qualidade sofrível em bootlegs (CDs piratas) teve uma limitadíssima edição de luxo lançada em 2008, mas está prestes a ser reeditada na Inglaterra para ser apreciado em toda a sua plenitude. 

O CD duplo foi batizado de "Eric Clapton & Friends – A.R.M.S. Benefit Concert". Sem muito ensaio, há um clima de jam session entre as estrelas e a banda de apoio, com versões meio desleixadas de grandes sucessos - o que não afetou em nada a qualidade, já que os shows são deliciosos.

Page, Beck e Clapton tocam juntos em duas músicas, "Layla", grande sucesso de Clapton com o Derek and the Dominos, e em "Stairway to Heaven", superclássico do Led Zeppelin, em versão instrumental.

O áudio em CD duplo traz partes das apresentações individuais de Clapton, Beck, Page e Steve Winwood, além de uma música solo de Andy Fairweather-Low, guitarrista que já tocou nas bandas de apoio de Roger Waters (Pink Floyd), Eric Clapton e na banda de suporte da versão dos anos 80 do Pink Floyd, entre outros trabalhos importantes. 

Algumas datas contaram com a participação do baterista Kenney Jones, ex-Small Faces e The Faces, além de ter substituído Keith Moon no The Who. Ronnie Lane, já apresentando alguns sinais da doença, apenas cantou nos trechos finais de algumas das apresentações.

Que a morte do gênio Jeff Beck não inviabilize a realização de eventuais concertos da A.R.M.S. em 2023. Mais do que um evento de caridade, seria uma grande homenagem a Beck, Charlie Watts e Ronnie Lane.

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