sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Lançamentos selecionados: Winger, Tygers f Pan Tang, Dokken...

Um culto a um passado nem tão recente, mas que estimula uma nostalgia positiva capaz de empurrar e resgatar bons sentimento e a criatividade perdida em algum lugar deste século inóspito para uma série de bandas e artistas.

Do mergulho de volta aos nos 80 tivermos boas surpresas, como o novo álbum dos Rolling Stones, que voltam às inéditas depois de 18 anos com bons resultados. Parece ser uma espécie de tendência deste ano de 2023, em especial na área do hard rock.

Na busca pela inspiração 40 anos atrás, o grupo americano Winger ganhou uma sobrevida com o surpreendente álbum "Seven", com uma sonoridade moderna e densa em canções de boa qualidade, em um ambiente de rejuvenescimento pouco provável para uma banda que tantos percalços sofreu a partir dos anos 90.

Enveredando por uma área pantanosa, o chamado hard'n'heavy, o Winger conseguiu retomar um caminho que parecia vitorioso lá nos anos 80, quando Kip Winger, o vocalista, despontava como uma liderança do hard rock americano em uma tendência musical que parecia eterna. 

Seria o Winger o principal rival americano do britânico Def Leppard? Seria a banda necessária para se contrapor à estética espalhafatosa e cheia de excessos do Motley Crue?

Quarenta anos depois, sobraram boas ideias e uma postura maia madura em canções como a estupenda "Proudn Desperado", que abre "Seven" com uma força incomum para bandas de hard rock aparentemente extenuadas pela décadas de peleja. A canção tem refrão pegajoso e riffs vigorosos de guitarra.

As baladas pesadonas "Tears of Blood " e "Broken Glass" ressaltam um instrumental classudo e melodias de bom gosto, onde os timbres de guitarra surpreendem ao criar climas mais densos, indicando novo caminhos para um subgênero do rock que há tempos carecia de alguma novação.

A mesma pegada diferente e pesada pode ser observada em canções fortes como "One Light to Burn" e "Resurrect Me", que são quase rocks de arena. E ainda tem o encerramento épico com " It All comes back Around", talvez a canção mais surpreendente do álbum. 

Para quem não dava nada a uma veterana banda de hard rock que deveria ter sido bem mas do que foi, "Seven" é um álbum bastante surpreendente em 2022.

O mesmo podemos dizer de "Ritual", da quase obscura banda inglesa Tygers oof Pan Tang, aquela que que quase fez sombra ao Def Leppard. Nome de frente da NWOBHM (new wave os british heavy metal), o grupo sofreu no começo com trocas de integrantes e ficou pelo caminho, mesmo tendo revelado um guitarrista excelente como John Sykes, que depois iri para o Whitesnake.

Com idas e vindas ao longo de 40 anos, a banda manteve uma integridade impressionante, jamais e rendendo a algumas facilidades dde mercado. Variou do hard ao heavy, mas sem apelações, mesmo quando a fase era crítica e lançava discos sem muita inspiração.

"Ritual" é muito bom, recuperando uma qualidade que banda destilava lá no começo os anos 80, em clássicos como "Spellbound" e "Wild Cat".  O riff de abertura da faixa "Worlds Apart", que inicia o novo álbum, é uma verdadeira aula de rock e de como insuflar multidões em shows.

Outro bom exemplo dessa usina de riffs, cortesia do ótimo guitarrista Robb Weir, é "Destiny", que não é tão moderna quando a anterior, e tenta emular um climão anos 80 típico dos momentos mais clássicos dos filmes de diversão de Hollywood. Com habilidade, a banda construiu uma canção cativante.

"Spoils of War" já retoma a veia mais pesada, com timbres de guitarra vigorosos e riffs cavalares que lembrar um pouco o estilo do Iron Maiden, algo parecido com o que constatamos também em "While Lines" e "Words Cut Like Knives", que soam mais palatáveis, mas não menos pesadas.

Não há um momento épico, daqueles que bandas clássicas como Saxon costumam fazer em odo álbum - como esta banda fez em "Pilgrimage" em seu mais recente trabalho, "Carpe Diem" -, mas "Ritual" está repleto de boas ideias e riffs, como em "Sail On" e "Art of Noise". Nada mal para uma banda que foi acusada há não muito tempo de ser apenas um fantasma pairando por ai sem assustar ninguém.

Enveredando pela mesma linha do Winger, o Dokken refinou seu hard rock cheio de arranjos e ficou ais pesado e intenso em "Heaven Comes Down". Os americanos capricharam na produção, mas sem a saturação que sempre caracterizou o som do grupo em sua melhor fase dos anos 80.

O disco é o primeiro desde a aposentadoria do baterista original, “Wild” Mick Brown. Seu substituto é Bill “BJ” Zampa. O baixista Chris McCarvill também estreia em estúdio. Os dois músicos também são membros do House of Lords. O vocalista Don Dokken e o guitarrista Jon Levin completam a formação.

Sem arroubos de gigantismo, a banda buscou uma sonoridade que tivesse alguma relação com o som massivo e encorpado de seu auge, e foi isso que Don Dokken buscou ao assinar a produção, ao lado de Bill Palmer, contando com o auxilio precioso de Kevin Shirley (produtor de Iron Maiden, Dream Theater e Black Country Communion) na mixagem.

Em recente declaração ao site inglês Blabbermouth, Dokken não escondeu que mirava uma sonoridade que remetesse a um período interessante de sua carreira, quando vendeu mais de 10 milhões de cópias dos seus álbuns dos anos 80 - “Tooth and Nail” (1984), “Under Lock and Key” (1986) e “Back for the Attack” (1988), todos premiados com discos de platina nos Estados Unidos.

A tentativa foi válida, pois "Heaven Comes Down" é um disco poderoso que busca um equilíbrio entre um som mais moderno e o "vintage". 

Se não é tão inspirado quando o ótimo album do Winger, ao menos acerta em valorizar timbres de guitarra mais claros e limpos, em uma linha seguida por muito tempo Guns N' roses. 

"Is It Me Or You?" é melhor exemplo dessa concepção sonora, um típico rockão oitentista vibrante e bem construído, assim como a faixa de abertura, "Fugitive", que foi o primeiro single.

mesmo com uma concepção sonora bem definida, Dokken evitou qualquer arroubo de inovação e invenção. Preferiu não arriscar como o Winger e deu a impressão de que poderia ter obtido resultados mais consistentes e avançados.

"Just Like a Rose" poderia estar em qualquer álbum da banda dos anos 80, mas soa meio deslocada em "Heaven Comes Down" em sua indecisão entre se manter no hard ou avançar ara o heavy. É ma canção comum, embora cumpra a sua função.

Melhores resultados aparecem em "Saving Grace" e "Over the Mountain", que apontam para um futuro mais pesado e calcado em riffs de metal, ainda que algumas características de sempre sejam mantidas. A guitarra conduz as ações em timbres mais agressivos e mais intensos.

A coisa desacelera, em termos de vibração e qualidade, nas baladas indefectíveis, "I'll Never Give Up" é comum e parece ter sido resgatada direto de 1984, enquanto "I Remember' é o momento Whitesnake, com a típica introdução "épica" da banda de David Coverdale, 

Já "Santa Fe" apresenta um resultado mais agradável com seu jeitão folk e sua boa letra. Lembra bastante a versão acústica do hino "Nothing Left to Say".

A banda Dokken parece ter reencontrado um caminho luminoso e este disco aponta neste caminho. Um pouco mais de ousadia e ambição poderiam ter feito deste "Heaven Comes Down" um disco memorável.

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