Quando os irmãos Max e Iggor Cavalera, os fundadores do Sepultura, anunciaram que regravariam dois álbuns clássicos de sua ex-banda, todos os alertas foram acesos.
Houve quem achasse uma provocação pura e simples, como a de Roger Waters, ex-Pink Floyd, que regravou "The Dark Side of the Moon" de forma semiacústica, minimalista e sem os solos de guitarra.
Para outros admiradores do metal extremo, os irmãos, que deixaram a banda respectivamente em 1996 e 2006 de forma não muito pacífica, quiseram reinventar álbuns icônicos que tinham o DNA da época em que que foram gravados - com as limitações dos anos 80, tanto de equipamento, como de grana e de qualidade técnica. Esse tipo de coisa costuma ser perigoso e com resultados quase sempre decepcionantes.
As obras escolhidas para serem regravadas form "Morbid Visions" e "Bestial Devastation", e com um nome novo para o projeto, "Cavalera", indicando que nada te a ver com o Cavalera Conspiracy, que reúne os irmãos em uma banda com uma proposta sonora mais experimental.
Como na maioria das vezes em que artistas importantes resolve regravar o passado, a resposta para a pergunta "era necessário fazer isso?", a resposta costuma ser "não". É difícil melhorar o que já era ótimo, exatamente como no caso de Waters, que teve um resultado desastroso ao recriar, a sua maneira, a maior obra do Pink Floyd.
"Morbid Visions" não perdeu força ou vigor com a regravações, mas ficou "moderno" demais. Aquela "sujeira" e precariedade que predominavam nos primórdios do metal brasileiro desapareceram e deram lugar a uma produção mais "domesticada", ainda que preserve a violência sonora.
"War" e "Funeral Rites" ficaram mais encorpadas e parecem ter ressuscitado, enquanto "Mayhem" ficou mais violenta e "Troops of Doom" manteve a carga violenta, mas sem a espontaneidade de outrora, com a guitarra vacilante de Jairo Guedz que dava um certo charme e frescor ao som extremo pretendido em 1986 pela banda. Não ficou ruim, mas é bem diferente do que nos acostumamos a escutar.
O EP "Bestial Devastation", de 1985, foi o que sofreu mais transformações com as versões mais "modernas". A violência destacada ela tosca produção e pela agressividade latente de garotos de 15 anos meio que se perde diante da produção que valoriza outros aspectos do século XXI.
Da mesma forma que "Morbid Visions", aqui não se trata de algo malfeito ou sem qualidade. A questão é a tal da "modernização" do som que incomoda.
E não importa quem assine a produção do dois álbuns - no caso, os irmãos Cavalera, com engenharia de som de John Aquilino e mixagem/masterização de Arthur Risk. A pergunta sempre será recorrente: será que precisava, por mais que a produção da época evidenciasse todas as limitações técnicas em todos os sentidos?
Se essas regravações nada acrescentam, resta apenas observar que Max Cavalera fez um trabalho muito bom nas vocais, algo bem superior ao que tinha feito nos discos do Cavalera Conspiracy.
No caso de Iggor, de tão bom que foi seu desempenho no estúdio agora, por ironia acabou ferindo os conceitos originais. Está tudo muito perfeito para músicas que são históricas por conta de suas imperfeições, já que o baterista nem de longe indicava que seria a referência mundial que se tornaria.
Não se trata de jogar fora a identidade que a banda imprimiu na versão original, mas é evidente que algo se perdeu e que é incapaz de ser resgatado em versões pesadas e poderosas de "Bestial Devastation", "Antichrist' e "Necromancer".
Para quem não conhece as versões originais há um gostinho de novidade com Max cantando de forma diferente do Soulfly; no caso de Iggor, é interessante vê-lo de novo produzindo ua usina de riffs que demolem tudo, como e fosse a trilha sonora do inferno.
Para os nostálgicos e saudosistas, ou mesmo puristas, os dois trabalhos regravados nada acrescentam ao mundo Sepultura/Cavalera ao mexer com algo tão sagrado e idolatrado. Infelizmente, será um rodapé na história da banda.
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