terça-feira, 31 de outubro de 2023

Metal nacional tipo exportação: Noturnall e Viper

Desde 2021 o mercado nacional de música pesada tem oferecido uma variedade grande de álbuns ótimos, diversificados e muito interessantes, por mais que o interesse já não seja tão grande quanto foi no passado.

O período rico nos deu trabalhos de nível internacional de artistas como Krisiun (como sempre), Edu Falaschi (como sempre), Shaman, The Damnnation, The Giant Void, Twilight Aura, o primeiro da Crypta e o quarto da Nervosa, com nova formação, só para citar alguns - neste ano, Nervosa e Crypta lançaram novos CDs ainda melhores.

Depois dde muito tempo, Noturnall e Viper gravaram trabalhos ótimos em 2023, mantendo a chama do heavy metal e mostrando alta criatividade. São álbuns incríveis e dinâmico.

 - A redenção foi o motor para a consolidação do melhor álbum de uma carreira que já supera dez anos após o segundo fim do Shaman, ocorrido nos idos de 2010 e 2011. O Noturnall se tornou uma potencial assim que foi anunciado, e trilhou um caminho dos mais veneráveis no metal internacional, por mais que as turbulências fizessem parte de sua trajetória.

"Cosmic Redemption", o quarto álbum de estúdio, é um álbum de superação acima de tudo e drible no destino que parece conspirar contra em algumas vezes. O guitarrista americano Mile Orlando gravou o disco e imprimiu um toque de power metal ianque e muito virtuosismo, mas não faz parte do grupo atualmente.

"Depois da pandemia de covid-19, ficaram inviáveis as vindas dele ao Brasil por conta do dólar muito alto. e nós também não temos como arcar os custos de nossas viagens a Nova York", disse o vocalista Thiago Bianchi em conversa com o Combate Rock. "Não consigo precisar neste momento se ele saiu definitivamente, mas, por enquanto, o Leo Mancini, que já foi do Shaman e da Noturnall, está tocando conosco."

Com produção certeira e ótimas músicas, "Cosmic Redemption" é a confirmação da evolução artística de uma banda que nasceu grande e que passou por cima do pessimismo. É o melhor dos quatro trabalhos de estúdio.

Mais do que maturidade, o trabalho ostra uma banda que esbanja confiança. Não há exageros e nada tão ousando a onto de causar estranhamento. É um conjunto de músicas que estabelece uma marca e faz da Noturnall um nome brasileiro de padrão internacional definitivamente. Hoje, oferece mais certezas do que dúvida.

Duas músicas já tinham sido divulgadas como aperitivo. "Scream!!! For!!! Me!!!" é power metal explosivo, que ganhou um clipe ainda com a presença de Orlando. Guitarras perfeitas conduzem um trem aparentemente desgovernado a um final apoteótico. E tem a luxuosa participação de Mike Portnoy (Sons of apollo, winery Dogs, ex-Dream Theater) na bateria.

"Try Harder" é outra canção poderosa que trilha o metal tradicional. Se ela não apresenta inovações ou algum tipo de ousadia, oferece energia e peso necessários para uma boa canção de apresentação de um novo trabalho.

As duas músicas, entretanto, não entregaram o principal: a versatilidade e  profusão de boas ideias em "Cosmic Redemption", cuja faixa-título já tinha sido executada na turnê russa ao lado do Disturbed antes da pandemia.

No estúdio ela soa mais sofisticada, com riffs incisivos de guitarra e uma seção rítmica que transmite total segurança - o baixo de Saulo Xakol é pulsante e pesado e a bateria de Henrique Pucci é firme e sólida. É a música que sintetiza o álbum.

"Cosmic Redemption é o disco que mais lutei para lançar e provavelmente um dos mais fortes de minha
carreira. Depois de toda uma reestruturação da banda e uma pandemia, por muitas vezes achei que não conseguiríamos…", comentou Bianchi quando do lançamento.  

O cantor expressa gratidão pela perseverança da banda e de seus colaboradores e se diz orgulhosos do que foi elaborado. "Metal é isso aí, é uma força maior do que os indivíduos de uma banda… e tem
vida própria. Orgulho gigante dos meus parceiros de banda e desse disco. Redenção Cósmica é exatamente o que estamos passando enquanto raça."

"Reset the Game" segue na mesma toada, e é possivelmente a melhor do disco entre um punhado de ótimas músicas. É metal na melhor amplitude da palavra, com os melhores e refrões que a banda produziu nos últimos tempos. 

Tem ainda uma ótima balada quase blues, a bela "Shadows (Walking Through)", carregada de simbolismos e que reflete alguns momentos difíceis da banda desde ano passado. Os arranjos orquestrais foram coordenados pelo guitarrista Michael Romeo, da banda Symphony X.

- A cobrança por novas músicas é uma das maneiras de se medir a relevância de um artista. Por esse parâmetro, "Timeless", o novo álbum da banda paulistana Viper, reafirma o que a grande parte dos apreciadores de música pesada no Brasil, sempre afirmou: como é bacana saber que que ela de volta. Ao mergulhar no passado, a banda paulistana recuperou a relevância que demonstrou ao longo de sua carreira de quase 40 anos.

O lançamento deum disco de inéditas 16 anos depois pode ser interpretado de muitas maneiras: renascimento, resistência, resiliência, tenacidade, persistência e até teimosia. Os mais afoitos ainda perguntam: precisamos de mais um álbum do Viper? Precisamos de sua volta?

"Para sorte nossa e do mundo do metal, parece que sim, a julgar pela grande expectativa que 'Timeless' gerou", disse o guitarrista Felipe Machado com bom humor e empolgação, em entrevista exclusiva ao Combate Rock. "O Viper tem um legado importante, independentemente de ter uma história atribulada. E há anos somos cobrados pelas músicas novas desde que anunciamos que as lançaríamos. Se somos cobrados, e porque as pessoas se importam com nosso trabalho."

"Timeless", é mais uma tentativa de corrigir um passado ingrato com uma das melhores bandas de rock pesado surgidas por aqui. Depois de 16 anos, imaginava-se que haveria rotas a serem corrigidas, mas que, na verdade, não precisam ser redirecionadas. Cada coisa ao seu tempo, e na sua velocidade.

 "All My Life", de 2007, era uma coleção de boas ideias que teve uma repercussão aquém do que merecia. Como reflexo de um período de dificuldades, a banda entrou em recesso.

Com as presenças de Leandro Caçoilo (vocais) e Kiko Shred (guitarra solo), o Viper soa revigorado, ainda que buscando inspiração no passado. É praticamente uma outra banda, com novas ideias e percorrendo um caminho u pouco diferente.

O power metal da maioria das canções lembra bastante o ótimo "Theatre of Fate", disco de 1989 que ampliou a presença do Viper no exterior ainda com Andre Matos, que sairia em seguida. 

Outras canções, como "The Android", mais reta, dura e rápida, remete a "Coma Rage" (1992), com uma influência mais punk, quase hardcore, e um tempo em que os vocais estavam a cargo do baixista e fundador Pit Passarell.

Para alguns críticos, "Timeless" é um disco desnecessário porque nada acrescenta, estando alicerçado no passado; para outros, foi graças a esse alicerce que a banda encontrou forças para finalmente lançar "Timeless" em um período difícil, que combinou pandemia de covid-19 coma morte de Matos, então ainda ligado ao Viper.

"Under the Sun" e "Timeless", as canções já divulgadas em singles, demonstravam uma certa "busca" por algo perdido no passado e, com isso, mantendo a chama acesa. 

A presença de Caçoilo era o que faltava para consolidar essa fase de resgate. O cantor entendeu perfeitamente o momento e lapidou as canções emprestado versatilidade e confiança. Comprou as ideias e colocou em prática um cabedal de influências que amenizou o ar "vintage" do disco.

Quem escutou "Inter-Mundos", do Caravellus, outra banda do vocalista, sabe exatamente do que Caçoilo poderia entregar.  Os bons resultados do Viper atual se devem muito a ele.

"Under the Sun" já é um clássico da banda, om potência e ótimos riffs de guitarra. Respira ares oitentistas, mas entrega algo mais, misturando passado e presente em timbres modernos.

"The Android" surpreende com sua velocidade punk e arranjo amis "sujos" que transpiram descontração e bom astral. "Angel Heart", talvez a melhor do álbum, é um hard 'n'heavy de alta qualidade e com tamanha a vontade de ser tocada que  não há como não relacioná-la a Andre Matos. Coroa uma coleção de canções que marcam mis um renascimento do Viper. 

E há ainda o encerramento com duas canções singelas e pungentes, com forte presença de violões e arranjos delicados. 

"Thais", dedicada à mulher de Pit Passarell, que morreu em 2019, é bela e cadenciada, uma quase balada empolgante, enquanto a reflexiva "Reality" fecha bem um trabalho bem feito e que, de alguma forma, redime uma banda que nunca cansou de procurar o seu caminho. O acerto em apostar em um conceito meio batido -  o disco se propõe a explorar uma sonoridade atemporal,  é evidente.

A formação atual tem Leandro Caçoilo (vocal), Kiko Shred (guitarra), Pit Passarell (baixo e vocais) e Felipe Machado (guitarra) e Guilherme Martin (bateria). Participaram das gravações os ex-guitarristas da banda Hugo Mariutti e Yves Passarell (que passaram pelo Viper antes de seguir para o Shaman e Capital Inicial, respectivamente), além de Daniel Matos, baixista e irmão de Andre Matos. A produção é de Maurício Cersosimo, que já trabalhou com nomes como Paul McCartney e Avril Lavigne, com coprodução de Val Santos, ex-guitarrista e integrante do Viper.
 


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