quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Boas ideias não têm prazo de validade: a volta da banda Front é uma boa notícia

Era tanto sucesso junto que a banda acabou sufocada... A definição poderia muito bem se encaixar à banda carioca Front, segundo um de seus integrantes, o baixista e vocalista Rodrigo Santos. 

Não foi bem isso o que ele disse, mas o sentido é exatamente esse: a banda potente que ficou pelo caminho diante de uma torrente de trabalho e de muito coisa acontecendo ao mesmo tempo. 

O Front ficou pelo caminho, mas não foi esquecido: depois de 40 anos, seus integrantes decidiram dar uma segunda chance ao quarteto que tanta esperança despertou no mercado do rock nacional oitentista. Faz sentido resgatar uma história que quase não aconteceu?

Se o critério para a resposta fr os dois primeiros álbuns inéditos lançados agora, então faz todo o sentido. O material engavetado por ´40 anos é de boa qualidade e merecia ver a luz do dia. 

Faria sucesso em 1983 ou 1984? Em um ambiente de extrema criatividade e concorrência, teria boa chances de, no mínimo, emplacar alguma coisa, pois o potencial era grande.

"Esse resgate faz sentido porque é um material feito por músicos que fizeram sucesso em todos os lugares em que tocaram. As circunstâncias da época nos levaram a outros caminhos, mas sempre achamos que as música do Front tinham qualidade. Chegou o momento de resgatá-las", diz Santos.

Ele emenda: “Não me arrependo de nada pois nesse nosso caminho tocando com tantos grandes artistas, com tantos caminhos musicais, pudemos nos desenvolver muito individualmente. Eu me arrependo é de não ter sido dois Kadus . O processo de composição foi nos empolgando, as duas primeiras saíram pelo whatsapp. Além disso, o Nani já tinha mais de 100 bases prontas e eu outras tantas letras. O álbum nasceu fácil, de um jeito muito natural. Começamos a compor em agosto e em um mês já tínhamos todas as músicas.”

A banda retoma os trabalhos coma  formação de 1983: Rodrigo Santos (voz e baixo), Nani Dias (voz, guitarra, violões, programações), Ricardo Palmeira (guitarras) e Kadu Menezes (bateria). 

Todos garotos, mas já enfronhados na música profissional e despontando como músicos importantes no entorno de artistas como Léo Jaime, Kid abelha e Barão Vermelho. O Front era uma realidade, mas havia outras realidades em paralelo.

“Em 83 éramos quatro garotos talentosos tentando fazer um grupo e hoje somos produtores experientes, evoluídos e maduros. Isso também pode ser percebido nas letras e no som”. afirma Palmeira.

Grandes expectativas

O ano era 1983 e os quatro formaram o Front, uma das mais promissoras bandas surgindo no Rio de Janeiro. Em 1984, são convidados pelo produtor João Augusto para participar da coletânea “Os Intocáveis” (CBS). Fazer parte de coletâneas, ditas “paus de sebo”, era o caminho para uma banda subir degraus. 

Eles subiram. Fizeram sucesso na coletânea e partiram pro próximo degrau: o compacto, mais uma praxe dos anos 80. No lado A, “Dengosa” entra na trilha sonora do filme Rock Estrela; e “Olhos De Gata”, o lado B, entra na coletânea da rádio Transamérica. Entrar em coletânea de rádio. Nos anos 80! Pronto, o caminho estava traçado?

No meio do caminho tinha um Leo Jaime! Leo foi não só o produtor do compacto, mas também era o patrão: Rodrigo, Ricardo e Kadu faziam parte do João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, a banda de apoio do Leo, um artista de grande sucesso desde essa época. É, além do Front ser uma banda promissora, seus integrantes eram músicos cada vez mais respeitados. E requisitados!

 Juntos e separados prestaram grandes serviços para Barão Vermelho, Kid Abelha, Cazuza, Lobão, João Penca, Leo Jaime, Blitz, Paulo Ricardo... tá bom ou quer mais? Era tanta estrada, tanto sucesso, tanto de tudo rolando que a banda foi ficando num segundo plano. 
 
Hoje, 40 anos depois, todos músicos para lá de reconhecidos, produtores musicais de sucesso, seguem sendo amigos. Foi num encontro sem grandes pretensões, para tocar num festival, que eles perceberam que seguem sendo Front. 

 Vasculhando os arquivos e acrescentando novas ideias, o Front tem 50 músicas que serão transformadas em cinco álbuns. 

Os dois primeiros saindo agora em outubro - "Tempo-Espazo" e "Espazo-Tempo" - e o terceiro será gravado em novembro no estúdio mais famoso e inspirador do planeta: Abbey Road, em Londres, aquele dos Beatles e de suas obras maiores. . Sairão de lá com o terceiro álbum e um documentário dirigido por Pedro Paulo Carneiro.

Falando do agora temos os dois primeiros trabalhos: “Tempo I Espazo” e “Espazo I Tempo”. São 14 faixas, 11 delas da parceria Rodrigo e Nani, todas num clima retrô-futurista que remete a David Bowie, Duran Duran, The Cure e LCD Soundsystem. 

Dois discos gravados em um mês. Não é nem o caso de querer recuperar tempo perdido, até porque, para todos eles nenhum tempo foi perdido. A hora é agora, aqui é o lugar. É disso que eles falam. Tudo é destino. Tudo é busca. Presente, passado e futuro ao mesmo tempo. 

Canções como “Warning” alertam para o fim do planeta e o mal que fazemos uns aos outros. “Noite” é a busca de equilíbrio na corda bamba de ser feliz ou infeliz. “Redor do Radar” bota lupa na desumanidade, a falta de empatia, a ansiosa sensação de falta de tempo e estar perdido no espaço.

Merecem destaque as capas dos álbuns, ambas assinadas pelo designer gráfico Jampa. Segundo ele, o som da banda remete a “festas interplanetárias orbitando um pop solar”, e assim temos os quatro integrantes da banda transformados em entidades futuristas.

Front é uma banda do seu tempo querendo ocupar mais espaço aqui e agora sabendo que a estrada vem de longe. Amizade e música para viver as melhores recordações do futuro. Como diz a letra de “Me’n my Luv”: “O que virá, o que vai ser, não me pergunte, só sei que vai acontecer”.

 “Depois de centenas de gravações, programas de TV, viagens internacionais, tours, grandes festivais, prêmios, discos de ouro e platina, dezenas de composições e projetos com grandes artistas como Barão Vermelho, Kid Abelha, Cazuza, Lobão, João Penca, Leo Jaime, Blitz, Paulo Ricardo e até o internacional Andy Summers, 40 anos se passaram desde o surgimento da nossa banda de garotos”, Rodrigo Santos, que ainda mantém o projeto Call the Police, que recria a obra de The Police com a companhia de Andy summers, o guitarrista da banda inglesa.

Nani dias faz uma interessante reflexão a respeito da comparação entre as formas de tralho de hje e de 40 anos atrás. "Muita coisa mudou de 83 pra cá, mas principalmente a liberdade. Hoje em dia a gente tem a tecnologia e a informação a nosso favor, então podemos mostrar nosso trabalho de uma forma bem mais rápida e acessível. Isso tudo, somado à nossa experiência de 40 anos, nos desenvolveu e proporcionou que a nossa música chegasse aonde ela está, em termos de sonoridade, de expressão e de disponibilidade.".

"Esse nosso reencontro foi uma grande surpresa. Juntou a fome com a vontade de comer. Nos reencontramos para tocar num festival e a química estava lá, parecia uma banda de jovens com 18 anos de idade. Vai ser uma experiência nova entre quatro grandes e velhos amigos", finaliza Kadu Menezes.



 

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